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Crise deve afetar mais os britânicos em 2009
Previsão é que PIB do Reino Unido caia 2,1%, décimo pior desempenho entre 187 países, segundo a Economist Intelligence Unit
Em abril do ano passado, a
previsão do governo era
crescer 2,5% em 2009; hoje,
esperam-se recessão e
3 milhões de desempregados
PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES
A tempestade financeira global que castiga países ao redor
do planeta deve provocar raios,
trovoadas e temporais ainda
mais intensos no Reino Unido
do que em qualquer outra grande economia.
Com retração esperada de
2,1%, o PIB britânico deve ter o
décimo pior desempenho entre
187 países que têm dados suficientes para uma análise, diz a
influente consultoria britânica
Economist Intelligence Unit
em relatório a que a Folha teve
acesso. Pior que o Reino Unido
só países como Islândia, cuja
economia derreteu, e o Zimbábue, onde a inflação é contada
aos zilhões.
Como essa crise já deixou
claro, tão impressionante
quanto a sua dimensão é a sua
velocidade. Em abril de 2008, a
previsão do governo britânico
para o crescimento em 2009
era de 2,5%. Hoje, ninguém
pensa em outra coisa que não
seja recessão.
Os resultados do PIB no terceiro trimestre mostraram retração maior do que a esperada, de 0,5%, pondo um duro
fim à expansão de 63 trimestres -mais de 15 anos- consecutivos até então. Quando os
números do último trimestre
de 2008 forem revelados, a entrada na recessão deve ser confirmada oficialmente, com uma
nova queda.
"Os indicadores aqui são
ruins, mas não tão piores que
os de outros países. O que é certo é que os números dos primeiros meses deste ano vão
causar ainda mais espanto nas
pessoas", afirmou à Folha Vanessa Rossi, diretora da Oxford
Economics, consultoria ligada
à universidade e analista do
Centro de Estudos Chatham
House.
Os efeitos dessa contração
econômica vão bater fundo na
vida real. Previsões de 3 milhões de desempregados, antes
vistas como extremamente
pessimistas, agora são as realistas e já são assumidas em público até por autoridades, como
David Blanchflower, especialista em mercado de trabalho
do Banco da Inglaterra (o banco central britânico).
O número tem um significado extra para os britânicos porque a última vez em que isso
ocorreu -no início dos anos
1990- uma recessão severa
atingiu o país. O patamar atual
é de quase 2 milhões de desempregados, mas novembro registrou o maior aumento de um
mês para o outro em 18 anos.
Outro número sombrio que
deve chegar aos patamares de
1991 é o de casas retomadas pelos bancos por falta de pagamento no financiamento. O
Conselho de Financiadores
Imobiliários, principal entidade do setor, prevê que 75 mil
propriedades serão retomadas
neste ano, contra 45 mil em
2008, que já havia sido o pior
em 12 anos. Os atrasos de mais
de três meses devem chegar a
500 mil, de um total de 12 milhões de financiamentos.
A libra afunda
Um dos principais sinais da
falta de confiança na economia
britânica é o constante enfraquecimento da libra, que perdeu cerca de 30% em relação ao
euro em 2008 e está no menor
patamar desde que a moeda
única foi criada, em 1999.
O primeiro pacote do governo, lançado no começo de outubro, era estimado em 500 bilhões de libras, valor que na
época correspondia a US$ 867
bilhões. Se tivesse sido lançado
no final de dezembro, o pacote
seria de "apenas" US$ 768 bilhões -US$ 99 bilhões "perdidos" no câmbio.
Para 2009, muitos analistas
já preveem até uma paridade
entre as duas moedas, algo antes impensável.
As principais razões para a
queda da libra são a piora contínua das contas do governo
-que entra cada vez mais no
vermelho na tentativa de salvar
a economia- e a expectativa de
juros ainda menores daqui para
a frente.
Para a próxima reunião do
Banco da Inglaterra, neste mês,
todos os especialistas esperam
nova redução na taxa de juros,
atualmente em 2%. Se confirmada a queda, os juros terão o
menor patamar desde que a
instituição foi criada, em 1694.
O "salvador do mundo"
Em qualquer país onde a economia estivesse numa situação
tão delicada, a rejeição ao atual
governante deveria estar selada. Mas no Reino Unido ocorreu justamente o oposto, e, desde que as Bolsas começaram a
cair, a aprovação ao primeiro-ministro, Gordon Brown, não
parou de subir.
O governo reestatizou parcialmente o sistema bancário e
gastou quase meio trilhão de libras para tentar retomar a normalidade. Num segundo momento, lançou um novo pacote,
de 20 bilhões de libras, na tentativa de estimular a economia,
principalmente por meio da redução de impostos.
"A recessão poderia ser pior
ainda se não fossem essas medidas. Eles estabilizaram o sistema bancário, mas há dúvidas
sobre o efeito do pacote fiscal",
afirma Rossi, da Oxford.
O primeiro-ministro, no entanto, não tem dúvidas. Em um
debate no Parlamento em meados de dezembro, Brown chegou a dizer: "Eu já salvei o mundo". Muita gente discorda.
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