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'HOSPITAL'
Valor se refere aos empréstimos originais desde o início do processo de privatização das distribuidoras de energia
Distribuidoras levaram R$ 4,4 bi do BNDES
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) concedeu empréstimos
de, ao menos, R$ 4,4 bilhões às
distribuidoras de energia elétrica
desde o início do processo de privatização das companhias.
É o que mostra levantamento de
financiamentos do banco ao setor
feito à pedido da Folha, considerando os desembolsos do BNDES
que ainda estão em curso (na carteira do banco, na linguagem técnica) e os recursos emprestados à
época das privatizações.
Ao todo, a carteira de financiamentos do BNDES para o setor
elétrico, incluindo geração, distribuição e transmissão, soma R$ 19
bilhões. Desse total, R$ 7 bilhões
são recursos do Tesouro da União
emprestados às distribuidoras em
condições especiais para compensá-las por perdas decorrentes
do racionamento que o Brasil sofreu em 2001.
Para apoiar privatizações de
distribuidoras, o BNDES, que é o
maior financiador de longo prazo
do país e empresta dinheiro a juros menores do que os de mercado, desembolsou R$ 2,2 bilhões.
Desestatizadas a partir da segunda metade da década de 90,
boa parte das distribuidoras vive
dificuldades financeiras. É o caso
da Eletropaulo, que decretou "default técnico" na sexta-feira após
deixar de pagar uma parcela da
dívida de US$ 85 milhões.
Na privatização da Eletropaulo,
em 1998, o banco financiou R$
1,013 bilhão à AES. Foi o maior
crédito dado para a compra de
uma ex-estatal.
O grupo americano AES controla a Eletropaulo por duas subsidiárias, a AES Elpa, holding que
detém as ações ordinárias da
companhia, e a AES Transgás, dona das ações preferenciais.
O BNDES divulga apenas cifras
da época e referentes ao principal
da dívida, sem contar juros nem
acréscimos por renegociações de
contratos. Alegando sigilo bancário, o banco também não informa
quanto do total financiado já foi
quitado.
Isso significa que a dívida da
empresa com o BNDES hoje é
bem maior do que R$ 1,013 bilhão. A própria AES afirma que as
duas holdings devem atualmente
cerca de US$ 1,1 bilhão ao banco.
Segundo a empresa, parte da dívida sofreu correção cambial.
O BNDES contabiliza apenas
como empréstimos de privatização os concedidos no leilão de
venda do controle da companhia,
que se refere ao concedido à Elpa.
O empréstimo da Transgás, realizado depois para comprar as
ações preferencias (fora do bloco
de controle) em circulação no
mercado, não entrou na conta.
Também atravessam problemas financeiros a Light, cuja controladora (a francesa EDF) já fez
aportes de recursos para melhorar o caixa da empresa, e a Cemar
(MA), administrada sob intervenção da Aneel (Agência Nacional
de Energia Elétrica) desde que a
dona da concessão, a americana
PPL, entrou em concordata.
Depois da AES, o segundo
maior empréstimo foi concedido
à Guaraniana (holding controlada pela espanhola Iberdrola) na
compra da Coelba (BA): R$ 488
milhões. O Grupo Rede, nacional,
obteve R$ 225 milhões para adquirir a Celpa (PA). A portuguesa
EDP, que comprou a Enersul
(MS), levou R$ 170 milhões.
Ao menos um desses financiamentos já passou por renegociação. É o da mesma AES, que vive
uma crise nos Estados Unidos e já
havia repactuado o débito em
2000. Neste ano, conseguiu adiar
em um mês uma parcela que venceria em janeiro.
De acordo com o BNDES, foram emprestados às concessionárias outros R$ 2,2 bilhões para
projetos de expansão e melhorias
na rede de distribuição de energia.
Parte desses recursos ainda está
em processo de liberação.
Entre as empresas beneficiadas,
ao menos uma delas vive dificuldades. Trata-se da Elektro (interior de São Paulo), cuja controladora, a norte-americana Enron,
está em concordata nos Estados
Unidos. Ela recebeu R$ 109 milhões.
Também tiveram créditos a Cerj
(RJ) -R$ 98 milhões- e a Escelsa (ES) -R$ 87 milhões-, entre
outras.
O governo Lula tem mostrado
preocupação com a crise financeira das distribuidoras. Na semana
passada, o presidente do BNDES,
Carlos Lessa, a ministra Dilma
Rousseff (Minas e Energia) e o
presidente da Eletrobrás, Luiz
Pinguelli Rosa, se reuniram em
Brasília para discutir os problemas do setor elétrico.
A presença de Lessa levantou
especulações de que poderia vir
um socorro às companhias.
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