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São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

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'HOSPITAL'

Valor se refere aos empréstimos originais desde o início do processo de privatização das distribuidoras de energia

Distribuidoras levaram R$ 4,4 bi do BNDES

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) concedeu empréstimos de, ao menos, R$ 4,4 bilhões às distribuidoras de energia elétrica desde o início do processo de privatização das companhias.
É o que mostra levantamento de financiamentos do banco ao setor feito à pedido da Folha, considerando os desembolsos do BNDES que ainda estão em curso (na carteira do banco, na linguagem técnica) e os recursos emprestados à época das privatizações.
Ao todo, a carteira de financiamentos do BNDES para o setor elétrico, incluindo geração, distribuição e transmissão, soma R$ 19 bilhões. Desse total, R$ 7 bilhões são recursos do Tesouro da União emprestados às distribuidoras em condições especiais para compensá-las por perdas decorrentes do racionamento que o Brasil sofreu em 2001.
Para apoiar privatizações de distribuidoras, o BNDES, que é o maior financiador de longo prazo do país e empresta dinheiro a juros menores do que os de mercado, desembolsou R$ 2,2 bilhões.
Desestatizadas a partir da segunda metade da década de 90, boa parte das distribuidoras vive dificuldades financeiras. É o caso da Eletropaulo, que decretou "default técnico" na sexta-feira após deixar de pagar uma parcela da dívida de US$ 85 milhões.
Na privatização da Eletropaulo, em 1998, o banco financiou R$ 1,013 bilhão à AES. Foi o maior crédito dado para a compra de uma ex-estatal.
O grupo americano AES controla a Eletropaulo por duas subsidiárias, a AES Elpa, holding que detém as ações ordinárias da companhia, e a AES Transgás, dona das ações preferenciais.
O BNDES divulga apenas cifras da época e referentes ao principal da dívida, sem contar juros nem acréscimos por renegociações de contratos. Alegando sigilo bancário, o banco também não informa quanto do total financiado já foi quitado.
Isso significa que a dívida da empresa com o BNDES hoje é bem maior do que R$ 1,013 bilhão. A própria AES afirma que as duas holdings devem atualmente cerca de US$ 1,1 bilhão ao banco. Segundo a empresa, parte da dívida sofreu correção cambial.
O BNDES contabiliza apenas como empréstimos de privatização os concedidos no leilão de venda do controle da companhia, que se refere ao concedido à Elpa. O empréstimo da Transgás, realizado depois para comprar as ações preferencias (fora do bloco de controle) em circulação no mercado, não entrou na conta.
Também atravessam problemas financeiros a Light, cuja controladora (a francesa EDF) já fez aportes de recursos para melhorar o caixa da empresa, e a Cemar (MA), administrada sob intervenção da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) desde que a dona da concessão, a americana PPL, entrou em concordata.
Depois da AES, o segundo maior empréstimo foi concedido à Guaraniana (holding controlada pela espanhola Iberdrola) na compra da Coelba (BA): R$ 488 milhões. O Grupo Rede, nacional, obteve R$ 225 milhões para adquirir a Celpa (PA). A portuguesa EDP, que comprou a Enersul (MS), levou R$ 170 milhões.
Ao menos um desses financiamentos já passou por renegociação. É o da mesma AES, que vive uma crise nos Estados Unidos e já havia repactuado o débito em 2000. Neste ano, conseguiu adiar em um mês uma parcela que venceria em janeiro.
De acordo com o BNDES, foram emprestados às concessionárias outros R$ 2,2 bilhões para projetos de expansão e melhorias na rede de distribuição de energia. Parte desses recursos ainda está em processo de liberação.
Entre as empresas beneficiadas, ao menos uma delas vive dificuldades. Trata-se da Elektro (interior de São Paulo), cuja controladora, a norte-americana Enron, está em concordata nos Estados Unidos. Ela recebeu R$ 109 milhões.
Também tiveram créditos a Cerj (RJ) -R$ 98 milhões- e a Escelsa (ES) -R$ 87 milhões-, entre outras.
O governo Lula tem mostrado preocupação com a crise financeira das distribuidoras. Na semana passada, o presidente do BNDES, Carlos Lessa, a ministra Dilma Rousseff (Minas e Energia) e o presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, se reuniram em Brasília para discutir os problemas do setor elétrico.
A presença de Lessa levantou especulações de que poderia vir um socorro às companhias.



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