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Microsoft admite fraqueza e desafia liderança do Google
Google lidera busca e publicidade na internet, apesar de esforços da Microsoft
Site de busca domina o crescente mercado publicitário na web, que deve passar de US$ 40 bi para US$ 80 bi em três anos
RICHARD WATERS
DO "FINANCIAL TIMES"
Steve Ballmer, o presidente-executivo da Microsoft, deixou
de lado sua característica combatividade e fez uma rara admissão de fraqueza ontem. A
despeito de cinco anos de esforço, que se estima teriam custado centenas de milhões de dólares à companhia, as investidas da Microsoft para recuperar o atraso com relação ao
Google fracassaram. "Realizamos um excelente trabalho,
mas começamos atrasados."
Agora, com o Google consolidando seu domínio sobre o
mercado de publicidade vinculada a buscas e se lançando a
outras empreitadas publicitárias, do setor de telefonia móvel
à televisão, Ballmer decidiu que
não podia permitir que a distância entre as duas empresas
continuasse a se alargar.
A Microsoft não deixou dúvida, ontem, de que a reacomodação mundial no setor de publicidade é a razão central de sua
proposta pelo Yahoo!.
À medida que os anunciantes
transferem verbas para a web, a
publicidade on-line deve dobrar de tamanho em três anos,
de US$ 40 bilhões para US$ 80
bilhões, estima a Microsoft.
Hoje, o Google seria o maior beneficiário dessa expansão.
Mesmo no curto prazo, a proposta da Microsoft poderia fazer sentido financeiramente,
dizem. Isto é, se a empresa conseguir persuadir o Yahoo! a
aceitar a oferta e se conseguir
promover a integração entre os
serviços on-line dos dois grupos, empreitada muito maior e
mais complexa do que qualquer
fusão já tentada. Ainda assim,
as perspectivas de competição
com o Google no longo prazo
continuariam nebulosas.
A força dos argumentos financeiros gira em torno da economia de custos de "ao menos
US$ 1 bilhão" que a fusão propiciaria, de acordo com a Microsoft. Enquanto a grande aquisição precedente no mercado da
internet (a fusão entre Time
Warner e AOL) se baseava na
crença de que os grupos combinados produziriam maior receita, o raciocínio da Microsoft
gira primordialmente em torno
da redução de custos.
A economia projetada equivale a 30% dos custos operacionais totais do Yahoo! em 2007 e
sinaliza a escala do abalo -e o
número de demissões- que a
transação pode causar.
No começo da semana, Jerry
Yang, presidente-executivo do
Yahoo!, prometeu que cortaria
mil empregos, número que, para Wall Street, seria pequeno
demais para a empresa e de
qualquer jeito viria tarde demais para salvá-la de sua crise.
Sob o controle da Microsoft, os
cortes devem ser maiores.
A despeito das dificuldades
da fusão, Ballmer disse que a
Microsoft não poderia mais
evitar o risco. "Poderíamos
simplesmente ter contratado
engenheiros, somos bons nisso.
Mas, nesse meio tempo, o mercado continuaria a crescer, e o
líder consolidaria sua posição."
Para fazer que a combinação
funcione, ele terá de provar que
a Microsoft é capaz de avançar
em três frentes que já se provaram difíceis para a empresa dominar sem ajuda. A primeira e
mais imediata seria criar um rival digno de respeito para o
Google no mercado de buscas.
O Google tem estimados 75%
do mercado mundial de buscas
na internet e continua crescendo. Combinar os recursos de
engenharia das duas empresas
geraria uma "capacidade expandida de pesquisa e desenvolvimento", o que poderia
produzir serviços melhores e
gerar mais inovação, disse Kevin Johnson, chefe das operações on-line da Microsoft.
No entanto, alguns analistas
descartam essa possibilidade.
"Eles já têm muita gente inteligente. Por que aumentar o
número de pessoas os tornariam mais inovadores?", disse
Mark Mahaney, do Citigroup.
A segunda área que precisa
de atenção seria reforçar a posição do Yahoo! em termos de retenção de audiência on-line,
que vem caindo, e criar novas
serviços capazes de enfrentar
os sites de redes sociais.
Ainda que a Microsoft tenha
amplo alcance na internet, ela
depende pesadamente dos serviços de webmail e mensagens
instantâneas -formatos que
não se prestam facilmente à
publicidade. Já o Yahoo! tem
uma gama mais ampla de serviços e conteúdo que poderia ser
aproveitada, mas vem enfrentando dificuldades para reformular a estratégia de seu portal, diante das mudanças no
comportamento dos consumidores quando estão on-line.
Analistas crêem que a marca
Yahoo! deva emergir dominante numa fusão. "Não imagino
que eles eliminem a marca Yahoo!", disse David Smith, analista do Gartner Group.
A combinação de talentos de
engenharia e investimento poderia ser a chave para um ganho de competitividade, o que
"propiciaria uma larga gama de
experiências que nenhuma das
duas empresas poderia prover
sozinha", disse Ray Ozzie, vice-presidente de arquitetura de
software da Microsoft.
A terceira e mais importante
área de concentração seria
criar uma plataforma efetiva de
publicidade on-line, com alcance e efetividade suficiente para
enfrentar o Google. Essa é a
área que pode oferecer as maiores oportunidades e os maiores
desafios. Por exemplo, a Microsoft criou um sistema efetivo de
publicidade vinculada a buscas,
diz Sandeep Aggarwal, analista
da Oppenheimer, mas não gerou tráfego suficiente para ele.
Já o Yahoo! só teve sucesso
parcial com a recente reforma
de sua tecnologia de publicidade vinculada a buscas, ainda
que processe número mais alto
de transações. Combinar esses
dois sistemas, e aproveitar a
força do Yahoo! na publicidade
convencional de internet, com
o objetivo de formar uma plataforma mais ampla capaz de
concorrer com o Google no longo prazo continua a ser a mais
desafiadora das tarefas.
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