São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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Impacto de alta de preço de serviços na inflação preocupa governo

Secretaria aprimora monitoramento dos custos com médico, salão de beleza e empregado doméstico; Fazenda estuda nova regulação para cartão de crédito

JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo iniciou 2008 atento aos riscos que a variação nos preço dos serviços pessoais pode trazer para a inflação. A Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico) do Ministério da Fazenda refinou seu trabalho de monitoramento de preços e vem destrinchando com especial atenção os dados referentes a custos com empregados domésticos, médicos, dentistas, salão de beleza, cursos educacionais, entre outros.
Em entrevista à Folha, o titular da Seae, Nelson Barbosa, destacou que é natural que esses preços fiquem acima da inflação em processos de desenvolvimento econômico. "Isso não é o que nos preocupa, mas é o que interessa no nosso acompanhamento", disse Barbosa.
O secretário afirmou ainda que o governo estuda mudanças na regulação dos cartões de crédito e dos fundos de investimento, em uma segunda etapa após o pacote lançado no ano passado de mudanças nas tarifas bancárias.
Barbosa acrescentou que o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) será capaz de dar um empurrão no crescimento econômico a partir da metade do ano. Isso deverá garantir a expansão de 5% que o governo prevê.

 

FOLHA - Quais as preocupações da Seae neste ano com relação à inflação?
NELSON BARBOSA -
É preciso primeiro entender 2007. No ano passado, grande parte foi inflação de alimentos. Houve dois choques de oferta clássicos: feijão e leite. A inflação, sem eles, seria de 3,8%. O que deu essa pancada na inflação foram esses choques. Serão revertidos ou não? Esperamos que sim, já estão sendo. A questão é qual a magnitude disso. A expectativa é que a inflação de alimentos se desacelere neste ano. Quanto vai desacelerar depende das condições de oferta, das condições climáticas. Os alimentos dependem de preços internacionais e condições climáticas. Agora, não deixa de ser preocupação. Alimentos têm dois pontos: choques de oferta e aumento da demanda mundial, e essa última pressão se mantém no trigo, na soja, na carne. A perspectiva que eu vejo e o mercado está sinalizando é que o preço das commodities agrícolas ficará no mesmo patamar. Nos preços administrados, basicamente gasolina, energia elétrica e transporte, a expectativa é que o preço da gasolina fique parado. Tem esse problema da energia elétrica [falta de gás para termelétricas], que todos estão acompanhando. Agora, bens e serviços são mais afetados pelo nível de atividade, emprego, taxa de salário. Há um peso grande de aluguel e condomínio e serviços pessoais -empregada doméstica, cursos educacionais, médico, dentista.... Estamos acompanhando porque realmente os preços de serviços pessoais correm acima da inflação, mas é natural porque, com o desenvolvimento, esses serviços ficam mais caros. Em 2006, foi aumento de 7,3% e ficou em 6,5% no ano passado. Não quero dizer que não é problema, mas desacelerou.

FOLHA - Há uma grande preocupação do BC com a inflação. Já se fala em aumento de juros?
BARBOSA -
Esse choque desfavorável [dos alimentos] diminuiu o grau de liberdade. Uma coisa é quando você está bem abaixo da meta de inflação, há um choque, e você ainda está abaixo da meta. Quando você está em cima da meta, qualquer choque pode te jogar para cima. O balanço de risco por parte dos alimentos é que agora eles vão puxar para baixo. Mas tem os outros fatores, como preços internacionais e taxa de câmbio. Eu acho que é uma questão de cautela do Banco Central.

FOLHA - E o câmbio preocupa por causa da inflação?
BARBOSA -
O câmbio está estável. A expectativa de mercado é girar em torno de R$ 1,70 ou R$ 1,80. O fator novo do câmbio é que, nesse cenário de R$ 1,80, isso representa uma valorização em relação à média do ano passado. Como para a inflação não importa esse movimento de mais longo prazo, é uma contribuição positiva, mas também não há mais espaço para uma grande valorização como vimos nos últimos anos.
Está tendendo a se estabilizar. Por volta de março e abril, vai ficar mais claro o tamanho da desaceleração americana. Se for leve, o Brasil se destaca, vira "investment grade", entra bastante dinheiro e o câmbio vai para baixo. Aí voltam os fluxos de capitais, os nossos números melhoram. Mas há muitas incertezas. O cenário de crise forte é o mais improvável.

FOLHA - Depois do pacote para mudar as tarifas bancárias, a Seae estuda algo mais nessa linha de regulação?
BARBOSA -
Durante as discussões das tarifas, surgiu a questão dos cartões de crédito e dos fundos de investimento. Não é que haja tanta reclamação. É mais se a regulação pode ser melhorada. Cartão de crédito tem muita reclamação, mas é mais no âmbito do Procon. E cartão tem uma regulação meio financeira que é BC, mas não é BC. Tem uma coisa aí que talvez possa ser melhorada. No cartão de crédito, medidas podem ser adotadas. Existe um grupo de trabalho entre Seae, SDE e BC para analisar o mercado de cartão de crédito. Para analisar como é.
O fundo de investimento não é tanto consumidor, é mais no âmbito da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] e do Conselho Monetário Nacional. As pessoas reclamam das taxas de administração. No caso do cartão, eu já coloquei um pessoal para ter isso como prioridade -analisar como é nos outros países, quem regula. Será um trabalho muito mais de sugestão e talvez uma medida de ser encaminhada ao Congresso. E tem ainda aquela briga dos cartões e lojas. A loja reclama e aí quer repassar o custo do cartão para o consumidor. Na verdade, há um triângulo aí.


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