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Impacto de alta de preço de serviços na inflação preocupa governo
Secretaria aprimora monitoramento dos custos com médico, salão de beleza e empregado doméstico; Fazenda estuda nova regulação para cartão de crédito
JULIANNA SOFIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo iniciou 2008 atento aos riscos que a variação nos
preço dos serviços pessoais pode trazer para a inflação.
A Seae (Secretaria de Acompanhamento Econômico) do
Ministério da Fazenda refinou
seu trabalho de monitoramento de preços e vem destrinchando com especial atenção
os dados referentes a custos
com empregados domésticos,
médicos, dentistas, salão de beleza, cursos educacionais, entre
outros.
Em entrevista à Folha, o titular da Seae, Nelson Barbosa,
destacou que é natural que esses preços fiquem acima da inflação em processos de desenvolvimento econômico.
"Isso não é o que nos preocupa, mas é o que interessa no
nosso acompanhamento", disse Barbosa.
O secretário afirmou ainda
que o governo estuda mudanças na regulação dos cartões de
crédito e dos fundos de investimento, em uma segunda etapa
após o pacote lançado no ano
passado de mudanças nas tarifas bancárias.
Barbosa acrescentou que o
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento) será capaz de
dar um empurrão no crescimento econômico a partir da
metade do ano. Isso deverá garantir a expansão de 5% que o
governo prevê.
FOLHA - Quais as preocupações da
Seae neste ano com relação à inflação?
NELSON BARBOSA - É preciso primeiro entender 2007. No ano
passado, grande parte foi inflação de alimentos. Houve dois
choques de oferta clássicos: feijão e leite. A inflação, sem eles,
seria de 3,8%. O que deu essa
pancada na inflação foram esses choques. Serão revertidos
ou não? Esperamos que sim, já
estão sendo. A questão é qual a
magnitude disso. A expectativa
é que a inflação de alimentos se
desacelere neste ano. Quanto
vai desacelerar depende das
condições de oferta, das condições climáticas. Os alimentos
dependem de preços internacionais e condições climáticas.
Agora, não deixa de ser preocupação. Alimentos têm dois pontos: choques de oferta e aumento da demanda mundial, e essa
última pressão se mantém no
trigo, na soja, na carne.
A perspectiva que eu vejo e o
mercado está sinalizando é que
o preço das commodities agrícolas ficará no mesmo patamar.
Nos preços administrados, basicamente gasolina, energia
elétrica e transporte, a expectativa é que o preço da gasolina fique parado. Tem esse problema da energia elétrica [falta de
gás para termelétricas], que todos estão acompanhando. Agora, bens e serviços são mais afetados pelo nível de atividade,
emprego, taxa de salário. Há
um peso grande de aluguel e
condomínio e serviços pessoais
-empregada doméstica, cursos
educacionais, médico, dentista.... Estamos acompanhando
porque realmente os preços de
serviços pessoais correm acima
da inflação, mas é natural porque, com o desenvolvimento,
esses serviços ficam mais caros.
Em 2006, foi aumento de 7,3%
e ficou em 6,5% no ano passado. Não quero dizer que não é
problema, mas desacelerou.
FOLHA - Há uma grande preocupação do BC com a inflação. Já se fala
em aumento de juros?
BARBOSA - Esse choque desfavorável [dos alimentos] diminuiu o grau de liberdade. Uma
coisa é quando você está bem
abaixo da meta de inflação, há
um choque, e você ainda está
abaixo da meta. Quando você
está em cima da meta, qualquer
choque pode te jogar para cima.
O balanço de risco por parte
dos alimentos é que agora eles
vão puxar para baixo. Mas tem
os outros fatores, como preços
internacionais e taxa de câmbio. Eu acho que é uma questão
de cautela do Banco Central.
FOLHA - E o câmbio preocupa por
causa da inflação?
BARBOSA - O câmbio está estável. A expectativa de mercado é
girar em torno de R$ 1,70 ou R$
1,80. O fator novo do câmbio é
que, nesse cenário de R$ 1,80,
isso representa uma valorização em relação à média do ano
passado. Como para a inflação
não importa esse movimento
de mais longo prazo, é uma
contribuição positiva, mas
também não há mais espaço
para uma grande valorização
como vimos nos últimos anos.
Está tendendo a se estabilizar.
Por volta de março e abril, vai
ficar mais claro o tamanho da
desaceleração americana. Se
for leve, o Brasil se destaca, vira
"investment grade", entra bastante dinheiro e o câmbio vai
para baixo. Aí voltam os fluxos
de capitais, os nossos números
melhoram. Mas há muitas incertezas. O cenário de crise forte é o mais improvável.
FOLHA - Depois do pacote para
mudar as tarifas bancárias, a Seae
estuda algo mais nessa linha de regulação?
BARBOSA - Durante as discussões das tarifas, surgiu a questão dos cartões de crédito e dos
fundos de investimento. Não é
que haja tanta reclamação. É
mais se a regulação pode ser
melhorada. Cartão de crédito
tem muita reclamação, mas é
mais no âmbito do Procon. E
cartão tem uma regulação meio
financeira que é BC, mas não é
BC. Tem uma coisa aí que talvez possa ser melhorada. No
cartão de crédito, medidas podem ser adotadas. Existe um
grupo de trabalho entre Seae,
SDE e BC para analisar o mercado de cartão de crédito. Para
analisar como é.
O fundo de investimento não
é tanto consumidor, é mais no
âmbito da CVM [Comissão de
Valores Mobiliários] e do Conselho Monetário Nacional. As
pessoas reclamam das taxas de
administração. No caso do cartão, eu já coloquei um pessoal
para ter isso como prioridade
-analisar como é nos outros
países, quem regula. Será um
trabalho muito mais de sugestão e talvez uma medida de ser
encaminhada ao Congresso. E
tem ainda aquela briga dos cartões e lojas. A loja reclama e aí
quer repassar o custo do cartão
para o consumidor. Na verdade, há um triângulo aí.
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