São Paulo, terça-feira, 02 de fevereiro de 2010

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Cosan-Shell impulsiona etanol no mundo

Maior produtora de biocombustível do país faz joint venture com gigante petroleira em transação estimada em US$ 12 bi

Setor vê parceria como chance de quebrar barreiras no exterior; com R$ 40 bi, grupo terá 1 dos 15 maiores faturamentos do Brasil

AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A petroleira anglo-holandesa Shell e a Cosan anunciaram a assinatura de memorando de entendimento para a criação de duas subsidiárias no Brasil no prazo de seis meses. As duas joint ventures, ainda sem nome definido, terão receita estimada de R$ 40 bilhões por ano, o que as coloca entre os 15 maiores faturamentos no país.
O negócio representa um passo histórico para o setor sucroalcooleiro brasileiro e oferece à Shell a possibilidade de diversificação em direção ao setor da economia denominado de baixo carbono.
Com a transação, estimada em US$ 12 bilhões, a Shell marca uma inédito ingresso no mercado de produção de álcool combustível, algo que a estatal brasileira Petrobras e a BP (British Petroleum) fazem de forma tímida. Ao mesmo tempo, o negócio oferecerá à brasileira a posição de terceira maior distribuidora do país, uma das maiores redes de distribuição no exterior, perspectivas de expansão de exportações e projetos de desenvolvimento do etanol celulósico, nova geração dos biocombustíveis.
"Esse era o passo que faltava para tornar o etanol uma commodity global", disse Rubens Ometto, presidente do Conselho de Administração da Cosan. Para ele, a união com a Shell dará condições de a empresa se tornar líder mundial em combustíveis renováveis.
A decisão de precipitar o anúncio do acordo foi tomada em razão de riscos de vazamento. "A decisão de anunciar a assinatura de um memorando com as bases do acordo foi tomada para evitar que alguém tenha acesso a informações e comece a negociar ações da Cosan", disse Marcelo Martins, vice-presidente financeiro da Cosan. As ações da empresa subiram 10,7% na Bovespa.
Pelo acordo serão criadas duas companhias, que terão partilhados o controle por Shell e Cosan S.A.. A primeira reunirá as usinas de açúcar e álcool, a segunda, os ativos de distribuição de combustíveis.
A Cosan -que em 2009 adquiriu os ativos e o direito de uso da marca Esso no Brasil- fará a fusão dessa estrutura com a da Shell. Essa nova companhia -que responderá por cerca de 80% do faturamento da joint venture- terá 4.470 postos e distribuirá 17 bilhões de litros de combustível.
As participações de cada companhia nas duas subsidiárias não estão definidas e podem não ser equivalentes, mas a administração será dividida.
A Cosan, líder na produção de etanol de cana, com produção de 2 bilhões de litros por safra e 1 bilhão de litros em exportações, alocará nas duas novas empresas ativos com valor total estimado em US$ 4,9 bilhões, o que inclui as usinas de açúcar e álcool e a divisão de distribuição de combustíveis adquiridos da Esso. Ficarão na Cosan ativos remanescentes (terras, parte da logística, comercialização e cogeração -termelétricas a bagaço de cana), de US$ 2,1 bilhões. A Cosan leva para as subsidiárias dívidas calculadas em US$ 2,5 bilhões.
A Shell ingressará no negócio com os ativos de distribuição de combustíveis e mais uma capitalização de US$ 1,625 bilhão. A petroleira colocará ainda as participações na Iogen e na Codexis, desenvolvedoras de tecnologia em biocombustíveis.
De Londres, o diretor mundial de distribuição de combustíveis da Shell, Mark Williams, classificou o acordo como uma grande "oportunidade" de a companhia ingressar no mercado de biocombustíveis no mundo. A oferta de tecnologias de etanol celulósico poderá, segundo ele, acelerar a produção de álcool combustível para ofertar no mercado mundial.
"Há uma enorme oportunidade para acelerar o desenvolvimento de biocombustíveis de última geração", disse.
A Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) considerou o negócio um passo para a derrubada de barreiras tarifárias ao etanol brasileiro. "A parceria gera escala, eficiência e tecnologia, o que contribui para que o etanol brasileiro conquiste mais espaço no mercado mundial", disse Marcos Jank, presidente da Unica.


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