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ARTIGO
Ainda desacelerando
ROGÉRIO MORI
ESPECIAL PARA A FOLHA
Publiquei no início de dezembro do ano passado um
artigo na Folha intitulado "Desacelerando na Margem", comentando os resultados do PIB do terceiro trimestre de 2004. Naquele
artigo, havia apontado que, a despeito dos bons resultados do PIB
naquele trimestre, o crescimento
brasileiro já estava em desaceleração e as elevações da taxa de juros
e a apreciação do real ante o dólar
aprofundariam esse movimento,
apesar do bom resultado que ficaria registrado em 2004.
Os dados do IBGE relativos ao
PIB do quarto trimestre do ano
passado sancionam essa visão e
sugerem um grau maior de preocupação quanto ao futuro. De fato, o resultado de 2004 ficou bem
acima do verificado em anos anteriores: o crescimento de 5,2%
contrapõe-se aos fracos desempenhos de 2002 e 2003. Setores ligados à exportação e/ou mais sensíveis ao ciclo de crédito tiveram
um desempenho bom no ano
passado. É o caso da agropecuária, cujo produto registrou expansão de 5,3%, e da indústria, com
expansão de 6,2%. O setor de serviços, cujo desempenho está mais
atrelado à evolução da renda real,
registrou uma performance mais
modesta, com variação de 3,7%.
Apesar desse crescimento no
ano passado, o resultado do último trimestre reforça o fato de que
a economia brasileira seguiu desacelerando no final de 2004. A
variação sazonalmente ajustada
do PIB no quarto trimestre em relação ao anterior foi de 0,4%,
equivalente a 1,7% em termos
anualizados. Para ter uma idéia da
velocidade de desaceleração do
crescimento do produto ao longo
do ano passado, essa mesma
comparação realizada com o resultado do primeiro trimestre de
2004 relativamente ao último trimestre do ano anterior mostra
uma variação de 1,8%, equivalente a 7,3% em termos anualizados.
Vale ressaltar que o resultado
do PIB do último trimestre ainda
não incorpora plenamente os
efeitos das elevações dos juros. De
fato, leva alguns trimestres para
que os efeitos das altas das taxas
sejam percebidos em sua plenitude do lado da demanda.
Adicionalmente, o real apreciou-se fortemente nos últimos
meses, o que desestimula as exportações brasileiras no médio
prazo e, em certo sentido, elimina
um dos principais vetores do
crescimento no ano passado. Em
outras palavras, a conjugação das
elevações da taxa de juros e da
apreciação cambial deverá ter
efeitos adicionais sobre a desaceleração no começo de 2005. Nesse
sentido, não se deve descartar inteiramente a possibilidade de
uma variação nula ou negativa do
PIB no primeiro trimestre deste
ano na comparação sazonalmente ajustada.
Outro aspecto que chama a
atenção no resultado do PIB do
quarto trimestre de 2004 diz respeito à componente de investimentos produtivos. Após alguns
trimestres de crescimento, a formação bruta de capital fixo registrou uma queda dessazonalizada
de 3,9%, o que sugere, à primeira
vista, uma contração preocupante
dessa variável. A retomada dos investimentos produtivos havia sido comemorada com grande ênfase pelas autoridades brasileiras
e sua expansão está intimamente
associada ao crescimento da oferta agregada e à melhoria da produtividade da economia brasileira. Esse comportamento deve ser
encarado com alguma preocupação caso venha a se repetir nos
próximos resultados do PIB, pois,
em certo sentido, limita naturalmente o próprio crescimento econômico de longo prazo.
Rogério Mori é professor e Coordenador do Cemap (Centro de Macroeconomia Aplicada) da FGV/EESP.
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