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COMÉRCIO
Setor substitui agricultura como "bola da vez" em encontro no Quênia para destravar negociações
Serviços vira novo impasse em reunião da OMC
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Começa hoje, no porto queniano de Mombasa, a primeira de
uma série de tentativas de estabelecer o que, no jargão diplomático, já se chama de "pacote de julho", destinado a preparar o caminho para o sucesso da ministerial que a OMC (Organização
Mundial do Comércio) fará em
dezembro, em Hong Kong.
O "pacote de julho" poria ao
menos alguma carne na até agora
magérrima Rodada Doha, o mais
recente lance de liberalização comercial, lançada em 2001, mas estancada desde então.
A reunião no Quênia envolve
perto de 30 países, entre os muito
ricos (EUA e União Européia), os
grandes países em desenvolvimento (Brasil, Índia e China, por
exemplo) e alguns pobres.
Para o Brasil, o encontro, antes
mesmo de começar, já tem más
notícias: a ênfase dos ricos em obter concessões, em vez de oferecer
o que o G20 pede, ou seja, a liberalização do setor agrícola.
O G20 foi criado, por iniciativa
de Brasil e Índia, na Ministerial de
Cancún, o mais redondo fracasso
e que levou ao adiamento do prazo originalmente concebido para
terminar a Rodada Doha (2005).
Outro fracasso, agora em Hong
Kong, poria o sistema multilateral
de comércio em profunda crise.
É claro que ninguém fala em
manter como está o protecionismo agrícola, mas a União Européia, tradicional vilã nesse capítulo, usa uma linguagem agressiva.
"É óbvio que é necessário um
acordo justo em agricultura, mas
nós, agora, temos que fornecer o
impulso político para mover as
negociações em todas as áreas da
agenda de Doha", diz Mariann
Fischer Boel, a holandesa que assumiu, em outubro, o cargo de
comissária para a Agricultura.
O britânico Peter Mandelson,
comissário de Comércio, especifica: "É necessária maior ambição
notadamente nas negociações sobre serviços e acesso a mercado
para bens não-agrícolas".
O Brasil, em tese, não teria
maiores dificuldades em abrir seu
mercado de serviços, quase todo
liberalizado. O problema é que há
restrições legais ao capital estrangeiro, que, embora não sejam
aplicadas, incomodam os investidores por não lhes dar as garantias jurídicas que gostariam de ter.
Por isso mesmo, a oferta brasileira sobre serviços foi pobre.
Poucos países, aliás, fizeram
ofertas de fato suculentas, a ponto
de Hamid Mamdouh, diretor da
Divisão de Comércio em Serviços
da OMC, dizer que o "item de crise" para a reunião do Quênia é
justamente serviços. É eloqüente:
em todas as reuniões mini-ministeriais anteriores e na própria Ministerial de Cancún, o "item de
crise" era sempre agricultura.
Mais: ele acha que, sem um bom
avanço em serviços, seria difícil
chegar a um acordo nas áreas de
agricultura e bens industriais.
O governo brasileiro recusa-se a
aceitar a barganha, alegando que
agricultura é o único setor em
que, até agora, não houve efetiva
liberalização. Concedê-la agora
seria uma obrigação mínima, não
uma moeda de troca para que sejam feitas concessões adicionais
em serviços (ou outras áreas).
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