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Foco
Sem salário, trabalhadores de indústria que empregou
Lula fazem greve no ABC
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Sem receber salário há dois
meses nem direitos trabalhistas há anos, 270 trabalhadores
da Fris-Moldu-Car, autopeça
que teve em seu quadro de funcionários o presidente Lula em
1965, decidiram interromper
as atividades e parar a fábrica.
A greve na empresa completa dez dias. Parte dos empregados dorme na fábrica para evitar que máquinas sejam retiradas do local. Os trabalhadores
e o Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC já recorreram ao Ministério Público e à Justiça para intervir na fábrica, que passa por problemas, segundo
eles, de má administração.
A Folha procurou advogados e diretores da empresa.
Eles não telefonaram de volta
para a reportagem.
Lula trabalhou na metalúrgica entre fevereiro e novembro de 1965, quando a empresa
estava instalada no Ipiranga.
Um ano mais tarde mudou para São Bernardo do Campo.
"Fui mandado embora porque tinha de fazer hora extra
de sábado e domingo", cita o
ex-torneiro mecânico e hoje
presidente da República, em
depoimento ao site www.
abcdeluta.org.br, que conta
a história dos metalúrgicos.
Segundo o relato publicado
no site, Lula recebeu o pagamento numa sexta-feira e decidiu ir com amigos para Santos no final de semana.
"Quando cheguei na segunda, queimadinho que nem um
camarão, porque pobre não se
bronzeia, quando vai para
Santos, ele se queima que
nem um camarão, o cara [patrão] perguntou "Por que você
não veio trabalhar?" Eu fui para Santos [respondeu]. "Então
vai ser mandado embora". Aí,
fui mandado embora", relata.
Após anos de expansão, a
Fris-Moldu-Car, fabricante
de frisos e molduras para carros, passou por problemas de
má administração e se endividou ao recorrer a empréstimos de factorings, segundo
relatam funcionários.
"O faturamento caiu de R$
4 milhões há cerca de um
ano para R$ 500 mil no
mês passado. A empresa
perdeu fornecedores, como
GM, Volks, demitiu trabalhadores, desconta FGTS e
contribuição previdenciária dos trabalhadores e não
repassa. Essa é a nossa realidade hoje", diz o técnico
em controle de qualidade
Edson Ferreira da Costa.
"Nem a pensão alimentícia
é repassada."
A água da empresa foi
cortada por falta de pagamento. O sindicato enviou
um caminhão-pipa ao local
nesta semana. O restaurante fechou portas. "Sem ter
o que comer, nem vale-transporte, durmo aqui
mesmo, em uma mesa forrada de papelão. Como vivo
sem salário? Tenho recebido ajuda de amigos", diz
Apolônio Gomes.
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