São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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Governo dos EUA injetará mais US$ 30 bilhões na AIG

Maior seguradora do mundo deve anunciar prejuízo recorde de até US$ 60 bi

Casa Branca já havia colocado US$ 150 bi na empresa em troca de uma participação acionária de 80%; tentativa de resgate será a quarta

Michael Caronna-27.fev.09/Reuters
Entrada da AIG em Tóquio controlará subsidiária no Japão

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O governo dos Estados Unidos e a AIG (American International Group), a maior seguradora do mundo, devem anunciar hoje um acordo que ampliará a estatização da companhia. Será a quarta tentativa de resgate da AIG, em que o governo já injetou US$ 150 bilhões em troca de uma participação de 80%.
O anúncio ocorre na sequência da estatização parcial do Citigroup, na sexta-feira passada, quando o governo norte-americano ampliou seu controle de 8% para 36% e exigiu a troca de diretores do banco.
Pelo novo acordo, a AIG poderá receber mais US$ 30 bilhões em dinheiro público e ser beneficiada por uma redução na taxa de juros paga para usufruir de uma linha especial de crédito criada pelo governo de US$ 60 bilhões. A economia anual com o corte no juro pode chegar a US$ 1 bilhão.
O anúncio deve ser feito no momento em que a empresa divulgar seus resultados do quarto trimestre de 2008. A expectativa é que o prejuízo da AIG no período marque um recorde absoluto e histórico entre as maiores perdas corporativas nos Estados Unidos.
Algumas projeções indicam que o prejuízo no trimestre pode ser de US$ 60 bilhões. Como comparação, os bancos Merrill Lynch e Citigroup perderam US$ 15,4 bilhões e US$ 8,3 bilhões no período. Já a combalida GM teve prejuízo de US$ 31 bilhões em 2008 inteiro.
No final de 2007 (último dado disponível), a AIG contava com 74 milhões de segurados. Mas ela vem perdendo clientes e receita rapidamente desde que foi socorrida pelo governo pela primeira vez, em setembro do ano passado.

Subsidiárias
Pelo novo acordo, em troca da nova injeção de capital, o Fed (o banco central dos EUA) passará a controlar duas subsidiárias da AIG, a Alico (American Life Insurance), que gera sua receita principalmente no Japão, e a AIA (American International Assurance), baseada em Hong Kong.
Antes de seu colapso, a AIG era considerada uma das empresas mais sólidas dos EUA. Sua classificação por agências de risco era o chamado "triple A", ou "AAA", nota máxima obtida por menos de uma dúzia de empresas no país antes da atual crise econômica.
Durante o boom do mercado imobiliário nos EUA, a AIG se engajou em uma série de operações heterodoxas, como "emprestar", em troca de comissões, sua chancela "triple A" para papéis emitidos por bancos e lastreados em dívidas imobiliárias -que estão na raiz da atual crise e são a gênese dos ativos "tóxicos" que hoje entopem os bancos.
A classificação "AAA" facilitou a negociação de vários desses papéis no mercado, mas a AIG acabou se tornando responsável direta por grande parte das perdas que vieram depois, quando a bolha imobiliária estourou e os preços dos imóveis começaram a cair, ceifando o valor dos títulos que eram lastreados nos preços e nas dívidas residenciais.

Papéis exóticos
A AIG também entrou fundo no mercado de "credit-default swaps" (CDS), um instrumento financeiro exótico que funciona como uma espécie de seguro para perdas em investimentos que dão errado. Como os CDS não eram regulados pelas autoridades, a AIG não fez o que costuma fazer com os seguros contra incêndio ou roubo, por exemplo, que vende: provisões para eventuais perdas.
A empresa simplesmente entrou pesado na venda de CDS sem as provisões que poderiam cobrir as perdas. Quando milhões de investidores em vários países do mundo perderam apostas e foram cobrar o seguro para suas aplicações da AIG, a empresa não tinha caixa suficiente para bancar as perdas. O governo então interveio.
Os socorros bilionários já repassados à AIG são vistos como a provável convicção, por parte do Tesouro dos EUA, de que a AIG simplesmente não pode quebrar. Se não honrar os "credit-default swaps"" de milhões de investidores em dezenas de países, o sistema financeiro global poderá sofrer um novo e mais grave colapso.


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