São Paulo, domingo, 2 de março de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OS PECADOS DO CAPITAL SOBERBA
Executivos enfrentam o ``casual Friday''

SUZANA BARELLI
da Reportagem Local

Acredite: a vida continua após o fim do terno e da gravata.
Amado ou odiado pelos executivos, o traje social está perdendo espaço nas sextas-feiras, com a instituição do ``casual Friday'', hábito que permite usar roupas mais descontraídas no local de trabalho. E, sem a praticidade do ``uniforme'', vem a inevitável dúvida: e agora, o que vestir?
Alguns executivos sofrem para escolher um traje que se encaixe tanto na descontração do dia quanto na formalidade que o meio empresarial exige. Outros tiram de letra o confronto com o guarda-roupa e até se divertem escolhendo que roupa vestir.
``É uma delícia se vestir na sexta. E, para não errar, escolho roupas discretas, de cores neutras'', diz Antônio Caggiano Filho, sócio-diretor da Coopers & Lybrand.
Mas uma coisa é certa: a maioria não sai de casa sem o ``OK'' da mulher, garantindo que não há erro nas combinações das cores ou na escolha dos tecidos.
``Pergunto à minha mulher para saber se não estou muito casual'', diz José Taragano, diretor de recursos humanos da Alcoa.
``É psicológico. Até sei que a roupa está combinando, mas peço o aval dela'', diz Glen Valente, 32, diretor de marketing para associados da American Express.
Quando a administradora de cartões de crédito começou o programa de ``casual Friday'', Valente resolveu renovar seu guarda-roupa, com novas calças de prega, camisas e sapatos menos formais.
``Não podia usar a mesma roupa toda sexta-feira e aproveitei as viagens internacionais para comprar peças mais informais.''
Para não agredir a etiqueta, ele trouxe calças e camisas que combinavam entre si.
Antônio Álvaro de Castro Couto, 36, analista de crédito da Alcoa, seguiu o mesmo caminho: compra suas roupas pensando, até com a ajuda do vendedor, na sua combinação. Ele sempre evita cores fortes ou desenhos chamativos nas camisas.
Daltônicos
Alex Zornig, 37, diretor-financeiro do Banco de Boston, conta que no início do programa de ``casual day'' foi preciso administrar os daltônicos de primeira viagem.
``Alguns optavam por combinações de cores meio esdrúxulas, que lembravam a bandeira de Portugal, com muito verde e vermelho.''
O próprio diretor do Boston conta que foi difícil aprender a ser ``casual''. ``Uma vez, minha mulher me fez trocar de roupa, dizendo que eu parecia um bicheiro.''
O Boston também registrou incidentes folclóricos com o ``casual''. Num dia de frio, lembra Zornig, um funcionário foi trabalhar com uma camisa branca e, por baixo, uma camiseta com a propaganda de uma instituição concorrente. Teve de tirar.
Para Zornig, o mais complicado é acertar na combinação das meias com o restante da roupa. ``Já tive de mudá-las algumas vezes.''

Bermuda
Na maioria das empresas que aderiram ao ``casual day'' não há regras claras sobre o que não vestir. Costuma prevalecer a máxima do bom senso, ou seja, não vale bermuda, tênis ou jeans. Roupas mais espalhafatosas também devem ser evitadas.
Em casos de reuniões às sextas-feiras, muitos executivos abrem mão do ``casual'' e voltam ao terno.
Victor Mezei, 32, diretor de relações externas da indústria farmacêutica Novartis, mantém uma camisa extra e gravata no escritório, para reuniões imprevistas nas sextas-feiras.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1996 Empresa Folha da Manhã