UOL


São Paulo, quarta-feira, 02 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DISTENSÃO

Dólar também recua com resultados positivos do comércio exterior e a dissipação de incertezas dos investidores

Risco-país cede e cai abaixo dos mil pontos

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

Os recentes resultados positivos do comércio exterior do país e a dissipação das incertezas referentes ao novo governo continuam a refletir na melhora dos indicadores financeiros. O risco-país caiu ontem 5,44% e rompeu a barreira psicológica dos mil pontos, ao fechar aos 991 pontos. É o menor patamar desde 31 de maio do ano passado. O C-Bond, principal título da dívida externa brasileira, subiu 3% e fechou transacionado a US$ 0,815, o maior valor desde 22 de abril de 2002.
O dólar fechou em baixa de 1,25%, cotado a R$ 3,313, o menor nível desde 18 de janeiro.
Um dos fatores que aceleraram a queda no risco ontem foi a perspectiva da aprovação da emenda constitucional sobre o sistema financeiro, que abre espaço para a aprovação da autonomia do Banco Central.
Segundo economistas e analistas do mercado, um dos principais motivos para a gradual recuperação dos títulos externos brasileiros -que entram na composição do risco-país- é o resultado positivo da balança comercial (exportações menos importações) e a consequente melhora na conta corrente (balança comercial e de serviços, ou seja, a diferença entre todas as trocas comerciais e financeiras de uma economia com os demais países).
"Tínhamos entre março e outubro do ano passado muitas incertezas sobre as diretrizes políticas e econômicas que seriam adotadas e do crescimento insustentável da dívida pública. Os últimos resultados e as medidas adotadas pelo novo governo fizeram esse temor desaparecer", disse Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC Investment Bank.
A melhora representa uma diminuição da dependência brasileira em relação a capitais externos e, consequentemente, uma diminuição da vulnerabilidade do país. "O Brasil está percorrendo o mesmo caminho que a Rússia fez em 98. Após declarar o "default" [calote], o país passou a gerar superávits monstruosos e mostrar que não teria dificuldade em pagar as suas dívidas. A redução do déficit externo gera uma queda no risco e uma diminuição do prêmio pedido pelos investidores para aplicar nos papéis do país", disse Marco Franklin, sócio-diretor da ARX Capital Management.
Para os investidores, o atual cenário interno proporciona uma diminuição maior do risco. Entretanto a invasão do Iraque pelos EUA e suas consequências trazem um aumento das incertezas que retardam a queda. "Esse não é um movimento conjunto dos países emergentes. Se estivéssemos em um contexto externo mais favorável, a queda já poderia ter sido maior", disse Bassoli.
"Não é favor nenhum ao país um risco abaixo dos mil pontos. Em 2000, quando tínhamos um déficit de conta corrente de mais de 4% do PIB (Produto Interno Bruto), o risco era por volta de 800 pontos", diz Franklin.
Além disso, os analistas constatam um aumento da demanda pelos títulos brasileiros, motivado pela diminuição dos papéis disponíveis para investidores estrangeiros devido à compra feita por instituições que não rolaram seus vencimentos no ano passado.
Apesar do otimismo, há quem alerte que parte da melhora da balança comercial em 2002 se deveu à queda nas importações mais forte do que o aumento das exportações. Além disso, a desvalorização do real contribuiu para o saldo das contas externas.


Texto Anterior: Painel S/A
Próximo Texto: Queda é credibilidade, diz governo
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.