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DOUTRINA BUSH
País usa mecanismos "opacos" restritivos ao comércio, diz relatório
EUA dizem que Brasil adota práticas comerciais desleais
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O Departamento de Comércio
dos Estados Unidos acusou ontem o Brasil de manter práticas
desleais para a importação de
produtos americanos, como barreiras tarifárias elevadas e mecanismos burocráticos "opacos"
restritivos ao comércio.
Relatório divulgado pelos EUA
coloca o país em posição de destaque logo na sua introdução. Entre
os países e regiões que mereceram
comentários, o Brasil é o primeiro
da lista. Depois vêm Canadá,
União Européia, Japão e México.
As áreas de equipamentos de informática, produtos farmacêuticos e de audiovisual são consideradas as mais problemáticas.
Robert Zoellick, representante
comercial dos EUA, disse na apresentação do relatório que o governo Bush pretende atuar de forma
"agressiva" para eliminar barreiras às exportações de produtos
americanos para o Brasil e para o
resto do mundo.
"Estamos comprometidos a
identificar essas barreiras. Trabalhadores, empresários e fazendeiros americanos esperam por isso", disse Zoellick. O Brasil é hoje
o 15º maior mercado de exportações dos Estados Unidos.
No relatório, o Brasil é acusado
de impor tarifas "muito elevadas,
de até 30%", na área de produtos
de informática. "Somadas a outras taxas, o preço dos computadores [americanos] acabam custando o dobro", afirma.
A mesma conta é aplicada para
algumas categorias de produtos
no segmento têxtil.
Na área de registro patentes, o
documento constata que apenas 2
dos 18 mil pedidos de laboratórios
americanos no Brasil foram regularizados no ano passado e afirma
que "cópias não-autorizadas" de
produtos farmacêuticos norte-americanos receberam registros
sanitários oficiais.
Os EUA também afirmam que
empresas americanas tiveram
perdas de US$ 771 milhões em
2002 com a "disseminação" no
país de produtos pirateados. "As
leis de proteção aos direitos autorais no Brasil continuam não sendo cumpridas", diz o relatório.
O Departamento de Comércio
americano faz uma crítica direta à
Secretaria de Comércio Exterior
(Secex) brasileira. Afirma que os
mecanismos para importação são
"onerosos" e burocráticos.
Diz ainda que existe uma "área
cinzenta" nos procedimentos
contra importações suspeitas de
fraude. "Este processo é opaco e
prejudica as exportações norte-americanas." Os EUA consideram ainda "controvertidos", do
ponto de vista das leis americanas, alguns dos programas financiados pelo Proex (programa de
apoio às exportações).
Outras áreas como a biotecnologia, comunicações e investimentos em áreas controladas pelo
Estado também são apontadas
como restritivas.
Segundo as contas do Departamento de Comércio dos EUA, a
tarifa média para importações em
2002 no Brasil ficou em 11,8%. Os
EUA calculam que tiveram um
déficit comercial de US$ 3,4 bilhões com o Brasil no ano passado. Em 2001, haviam atingido um
superávit de US$ 1,4 bilhão.
Em março, ao anunciar a "doutrina Bush" para a área comercial,
Zoellick afirmou que os EUA pretendem "conquistar o máximo de
vantagens" e "liderar" a implantação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), da qual o
Brasil e outros 33 países podem
fazer parte.
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