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CLANDESTINO
Estudo a pedido de empresas avalia incidência de crimes e descobre que complexidade social é fator determinante
GV elabora índice sobre tendência à fraude
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Não é apenas a pobreza que explica as perdas que as distribuidoras de energia elétrica têm por
causa de fraudes ou "gatos". A
complexidade social, medida por
taxa de homicídios, urbanização e
favelização, também explica por
que, em algumas áreas, as pessoas
são mais predispostas a fraudar os
medidores de energia ou fazer ligações clandestinas.
Essa constatação é das distribuidoras de energia elétrica, com base em um estudo da Fundação
Getulio Vargas feito por encomenda da Ampla, empresa cuja
área de abrangência cobre 73% do
território do Estado do Rio.
Para entender por que as perdas
da empresa eram maiores em algumas áreas, a pesquisa levou em
conta também outros indicadores, além da renda, que explicariam essa "complexidade social".
Foi elaborado então um Índice
de Complexidade Social para todos os Estados, levando em conta
a taxa de óbitos por agressão, a de
urbanização e a proporção de domicílios em favelas. O Estado que
apresentou maior complexidade
social foi o Rio de Janeiro, que,
por essa razão, teve a nota máxima na escala criada para comparação, que vai de 0 a 1.
No Rio, as perdas de energia por
razões técnicas ou comerciais
chegam a 19,9%. No Paraná, onde
o índice (de 0,460) é metade do
verificado no Rio, a perda de
energia foi de apenas 7,3% -a
menor do Brasil em 2004.
"Nós tínhamos na empresa perdas da ordem de 23%, mas, quando fazíamos comparações com os
demais Estados da região Sudeste,
percebíamos que as perdas lá ficavam em um dígito apenas. No
nosso caso, percebemos que a
complexidade social explica muito mais as perdas do que a questão econômica", afirma Carlos
Ewandro Moreira, diretor de relações institucionais e comunicação
da Ampla.
Dentro da área de atuação da
Ampla foram comparadas, por
exemplo, duas localidades com o
mesmo perfil socioeconômico: o
bairro Jardim Catarina (em São
Gonçalo, região metropolitana do
Rio) e o município de Itaperuna
(no interior do Estado). A renda
média do trabalhador em Itaperuna é de R$ 383, o número médio
de anos de estudo do chefe do domicílio é de 4,3 e o número de moradores por domicílio é de 3,6.
Jardim Catarina tem maior renda
(R$ 452), mais escolaridade (5,4
anos) e menos moradores por domicílio (3,4), mas a perda de energia lá é muito maior (44,3%) do
que em Itaperuna (24,1%).
Para os autores do estudo, nesse
caso "os valores associados à cultura mostram-se mais importantes na determinação das perdas de
energia do que elementos estritamente econômicos".
O Índice de Complexidade Social tem a vantagem de refletir
com maior precisão problemas
causados pela violência e pela informalidade em determinadas
áreas das cidades, o que dificulta o
trabalho de fiscalização e punição
a fraudes e furtos.
O índice, no entanto, não reflete
outros fatores que podem contribuir para a perda. Tanto que São
Paulo, com a segunda maior complexidade social, tem perda média
de 9,7%, bem inferior à do Rio.
Para Fernando Maia, diretor
técnico-regulatório da Abradee
(Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica),
uma cultura maior de impunidade também explica a diferença entre Estados. "Há Estados onde há
uma cultura maior da impunidade, quando os juízes resistem
mais a punir o consumidor por
falta de pagamento. É também
questão cultural que não vai se refletir nesse tipo de indicador."
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