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DINHEIRO
Para secretário-geral-adjunto do órgão, país deve mirar-se na China e na Índia a fim de obter mão-de-obra mais qualificada
Educação é o maior desafio do Brasil, diz OCDE
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil terá que imitar a China
e a Índia e incluir mais jovens no
sistema educacional especializado, a fim de garantir mão-de-obra
qualificada no futuro e não ficar
para trás, segundo o secretário-geral-adjunto da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 30 países ricos), o alemão Herwig Scholögl.
O efeito anabolizante da desvalorização do dólar na posição do
Brasil no ranking mundial das
maiores economias do mundo
-apesar de ter crescido apenas
2,3% no ano passado, o Brasil subiu da 15ª para a 11ª posição-
não foi o suficiente para fazer o
Brasil recuperar a 8ª posição, que
já ocupou.
Para Scholögl, porém, a economia brasileira vai melhor agora, e
isso não é uma contradição. "Isso
ocorreu porque apareceram outros atores que ocuparam o lugar
de outros países em termos relativos, como China e Índia, não porque o Brasil piorou", disse.
Para ele, os países deveriam
concluir a Rodada Doha de liberalização comercial antes de fazer
acordos bilaterais de comércio, já
que esses arranjos, como a até
agora fracassada tentativa de
acordo comercial entre o Mercosul e a União Européia, não incluem o comércio mais importante, como os produtos agrícolas. "O Mercosul também não se
desenvolveu como se esperava."
Segundo ele, apesar da grande
liquidez mundial, muitos países
em desenvolvimento não estão
conseguindo fazer as linhas de
crédito chegarem aos pequenos
empreendedores, que são os atores que impulsionam a economia,
e, para consertar isso, os governos
precisam melhorar as instituições
e fortalecer o microcrédito.
Leia entrevista concedida à Folha na sexta-feira, ao participar da
Conferência Global da OCDE para o Financiamento das Pequenas
e Médias Empresas, em Brasília.
Folha - Apesar de ter subido da
15ª para 11ª posição no ranking
das maiores economias, o Brasil
perdeu posição nos últimos anos. O
país está ficando para trás?
Herwig Scholögl - O Brasil está
indo melhor do que antes, e isso
não é contraditório. O Brasil perdeu posição porque surgiram outras economias de peso no mercado, como China e Índia, e outras
das chamadas novas economias
IT (Tecnologia da Informação),
que tomaram o lugar que outros
países ocupavam em termos relativos. Mas o Brasil desenvolveu
muito sua economia nos últimos
anos e está bem localizado na economia mundial.
O país é muito forte em recursos
naturais e tem um grande parque
industrial, e uma das razões para
estar bem colocado na economia
mundial é justamente por causa
da demanda do mundo por esses
recursos. Mas o principal desafio
para o Brasil, se formos comparar
com a China e com a Índia, é educação. É necessário melhorar o
sistema de educação para incluir
mais crianças e jovens. Assim o
país terá um número maior de
mão-de-obra qualificada no futuro. Não só China e Índia mas outras economias em desenvolvimento estão dando uma alta prioridade para a educação e o desenvolvimento de novas tecnologias.
Folha - Se o Brasil vai tão bem,
por que não faz parte da OCDE?
Scholögl - Para nós, é importante incluir atores importantes, como o Brasil, que têm um caráter
global. Mas a associação do Brasil
não está na agenda do governo
brasileiro, portanto não pode estar na nossa. Para integrar a OCDE, é preciso ser uma economia
de mercado avançada, ter atingido princípios democráticos, além
de assinar certos acordos básicos,
como a liberalização do mercado
de capitais, por exemplo, e é preciso avaliar a estrutura legal do
país. Mas nós ainda não examinamos o Brasil. Isso seria também
uma decisão política, e os países-membros teriam que decidir sobre isso.
Folha - O atual governo brasileiro
tem recebido críticas por reforçar a
chamada diplomacia Sul-Sul, que
prioriza o relacionamento com países latino-americanos e africanos,
e por reduzir esforços para concluir
acordos comerciais com EUA e UE.
Qual a sua opinião?
Scholögl - Esse tipo de diplomacia não é exclusiva. Os países da
OCDE têm que perceber que os
chamados países em desenvolvimento, como o Brasil, estão aumentando a cooperação com seus
pares no mundo em desenvolvimento, e um exemplo disso é que
o Brasil está aumentando sua cooperação política e econômica com
a China, o que é bom porque ajuda a todos nós a integrar a China
no sistema global. Os países da
OCDE têm que perceber que a diplomacia não é mais algo dirigido
apenas por eles, e cada vez mais
vai ser dirigida por países em desenvolvimento.
Folha - Os acordos comerciais
com os países em desenvolvimento
não evoluem porque a Europa e os
Estados Unidos querem esperar os
resultados da Rodada Doha, de liberalização do comércio mundial.
Scholögl - Nós fizemos um estudo na OCDE sobre acordos regionais e acordos multilaterais de comércio e o resultado foi que os
acordos regionais podem, até um
certo ponto, ajudar na liberalização em escala global, mas o crescente número de acordos bilaterais e plurilaterais também arrisca
prejudicar o sistema multilateral
de comércio. Os governos têm
que perceber que esses acordos
não solucionam as questões fundamentais de Doha, como a agricultura, por exemplo.
Se os EUA fizerem um acordo
com a Austrália, os problemas de
acesso agrícola vão ficar de fora.
Para isso, é preciso o sistema de
trade-off (trocas) das negociações
multilaterais. Por isso, estamos
cada vez mais céticos a respeito do
aumento de acordos regionais de
comércio e acordos bilaterais. Parece-me correto esperar. Talvez
eles tenham outras razões também. O Mercosul tem que definir
sua identidade de uma forma
mais clara, o bloco não se desenvolveu da forma que se esperava.
Folha - O sr. elogiou os indicadores macroeconômicos do Brasil. O
país já está maduro para reduzir os
juros mais altos do mundo?
Scholögl - Não faço comentários
sobre as políticas monetárias dos
bancos centrais, porque sei que
eles sabem melhor do que os analistas de fora o que devem fazer.
Mas o importante é que eles
atuem independentemente da
política. Se a política pressionar o
Banco Central ou prescrever políticas, o papel do Banco Central fica prejudicado.
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