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País precisa investir mais no álcool, diz BID
Só para manter sua fatia de mercado até 2020 país precisa investir ao menos US$ 60 bi, diz autor de estudo do banco
Rothkopf teme uma "bolha do milho" nos EUA e acredita que, com investimento, o Brasil pode se tornar a Arábia Saudita do setor
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Terreno preparado para o plantio de cana no distrito de Santo Antonio da Estiva, no município de Pirajuí, interior de São Paulo
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Se fizer os investimentos necessários na infra-estrutura e
criar um mercado global para
biocombustíveis, o Brasil pode
se tornar a Arábia Saudita do
álcool. E muita gente vai perder
dinheiro na "bolha do milho",
uma explosão de investimentos
em produção de etanol feito a
partir do milho nos EUA.
É o que diz o analista e consultor David Rothkopf, ex-membro do governo Clinton,
comissionado pelo BID (Banco
Interamericano de Desenvolvimento) para fazer um estudo
que projeta como estará o mercado global de biocombustíveis
em 2020. Em entrevista à Folha, adianta conclusões do levantamento, a ser anunciado
hoje em Washington.
FOLHA - Qual a principal conclusão
de seu relatório?
DAVID ROTHKOPF - Eu não diria
que há apenas uma, mas a que
se sobressai é que o mercado
dos biocombustíveis está mudando rapidamente, há muito
mais dinheiro entrando, há
muitas mudanças nas legislações, há muita inovação e competição. Velhos modelos de negócios, velhos enfoques de investimento serão rapidamente
sobrepostos pelos novos.
FOLHA - O estudo menciona que
US$ 200 bilhões serão necessários
para que os biocombustíveis respondam por 5% do mercado global
de combustíveis. Hoje tem 1%. Não
é uma meta ambiciosa?
ROTHKOPF - Na verdade, é modesta, dada a atividade recente.
Por exemplo, a mistura obrigatória de biocombustível na gasolina já existe em 27 dos 50
países estudados. Para ser mais
cuidadoso, 5% em 2020 é razoável, e 10% não é impossível.
FOLHA - Como o Brasil se sai no estudo? Hoje, o país e os EUA respondem por mais de 70% da produção
mundial de etanol. Isso mudará?
ROTHKOPF - Se o Brasil quiser
manter algo parecido com a fatia de mercado que tem agora,
ou mesmo perder só um pouco,
terá de investir US$ 60 bilhões
ou US$ 70 bilhões nos próximos 12 anos apenas para cumprir sua meta de triplicar o volume atual de exportações.
Neste momento, pelo menos,
há muito dinheiro indo ao Brasil, e os investimentos em biocombustíveis cresceram muito.
Mas a pergunta que os investidores farão nos próximos
anos é se o mercado global vai
se desenvolver, se a economia
brasileira se manterá forte, se o
Brasil vai continuar um país
inovador no setor e se serão dados os passos necessários para
um crescimento sustentável.
O país se tornou o líder dos
biocombustíveis num ambiente relativamente não-competitivo. Para continuar líder no
meio de uma revolução mundial energética como a que está
começando, terá de descobrir
uma maneira de se sair bem
diante de competição feroz.
FOLHA - O Brasil tem tomando as
medidas corretas para isso?
ROTHKOPF - Até agora, sim. O
governo brasileiro tem sido extremamente sábio em fazer
contatos e acordos, por exemplo, com líderes mundiais. Isso
mostra confiança. Mostra vontade de ser líder global.
O Brasil pode ser a Arábia
Saudita dos biocombustíveis,
mas precisa criar um mercado
global para o produto. Criar
oferta e nova demanda em outros países, como vem tentando
fazer, vai beneficiar o Brasil
mesmo se beneficiar outros
países. Isso mostra muita visão
e coragem, e é o passo certo.
FOLHA - O sr. vê queda da tarifa nos
EUA para o álcool brasileiro?
ROTHKOPF - Não sei quando,
mas tem de cair. Os EUA não
podem se comprometer com
energia alternativa e com segurança energética e manter essa
tarifa. As metas estabelecidas
pelo presidente dos EUA não
podem ser atingidas sem um
mercado aberto de biocombustíveis entre EUA e Brasil. A
mensagem não é séria a não ser
que seja eliminada essa tarifa
completamente indefensável.
FOLHA - Quem financiará a revolução energética?
ROTHKOPF - Todos. O setor privado está investindo muito, em
bons e maus negócios. Por
exemplo, o investimento em
etanol de milho nos EUA vai ser
uma decepção para as pessoas,
como na bolha da internet.
Muita gente ganhará dinheiro,
mas outros perderão muito.
FOLHA - Há uma "bolha do milho"?
ROTHKOPF - Sim. Há muito investimento no etanol de milho
que é superestimado. Se você
olhar para a nova geração de
criação de etanol, como o de celulose, vê produtos que crescem muito mais rapidamente
que o milho e são mais eficazes.
O etanol de milho é um resquício de um programa que foi
criado para prover uma fonte
alternativa de renda para os fazendeiros americanos em época de sobras de safra. E não acaba por motivos políticos. Você
não pode ser eleito presidente
dos EUA sem passar por Iowa
[Estado produtor de milho dos
EUA]. Mas isso está mudando.
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