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LUÍS NASSIF
O anexo 4 e o dinheiro do Vetor
Parte do dinheiro dos precatórios, recebido pelo Banco
Vetor, pode ter saído do Brasil por meio de ato do interventor do Banco Central, autorizando a remessa de US$
14 milhões de uma conta
CC4. A análise é de um dos
principais operadores do
mercado de câmbio de São
Paulo.
O interventor alegou que
reter o dinheiro poderia afetar a imagem do Brasil lá fora. Bastaria ter condicionado
a liberação do dinheiro à presença física do investidor estrangeiro. Provavelmente
ninguém iria aparecer, assim
como muitos titulares das
contas ao portador, quando
houve o bloqueio de cruzados
no Plano Collor. Mesmo porque, grande parte dos recursos da conta CC4 é de investidores brasileiros querendo
esquentar dinheiro.
É importante a CPI entender o funcionamento dos
mercados A (oficial) e B (paralelo) de dólares.
Até abril de 1996, quase toda a movimentação do paralelo se dava por meio das
contas CC5 -as chamadas
contas de não-residentes, em
bancos brasileiros, que podem operar com dólares.
O sujeito abria a conta em
dólares e movimentava livremente.
Naquele mês, o Banco Central mudou as regras do jogo
e tornou os bancos responsáveis pela contabilidade dessas contas. O investidor podia depositar na CC5, mas
atrás de cada cheque tinha
de informar se era para a
compra de câmbio. Com isso,
fechou o caminho para transferir dólares do mercado A
para o B.
Aí começou a subir o ágio
do dólar paralelo. Para conter o ágio, o BC permitiu que
alguns bancos brasileiros na
fronteira com o Paraguai
passassem a dar conversibilidade ao real.
Foi como uma espécie de
ponte de safena por onde
passou a correr o mercado
paralelo.
O trabalho passou a ser feito por bancos brasileiros -o
Banestado, o Araucária, o
Rural e o Bemge-, tendo como parceiros bancos paraguaios, como o Integración e
o Ciudad del Paraná. O esquema funciona da seguinte
maneira:
1) o sujeito quer mandar
dólares para fora. Ele abre
conta num banco brasileiro
em seu nome; e na agência do
mesmo banco, em Foz do
Iguaçu, em nome de um "laranja". Há um comércio de
"laranjas" em Foz. Por US$
500 ou US$ 600 mensais é
possível "alugar" o CIC e o
RG de uma pessoa;
2) o investidor deposita
reais na conta do "laranja"
(ou um procurador). O ``laranja'' saca os reais e leva-os
até o Paraguai. Lá, vende para um dos dois bancos correspondentes -o Integración
ou o del Paraná- e recebe os
dólares, em geral em sua conta no exterior; 3) diariamente, os bancos paraguaios juntam esses reais lá depositados
e remetem, de carro forte, de
volta para o lado brasileiro.
Aqui, vendem os reais para os
bancos brasileiros e recebem
de volta seus dólares;
4) para repor os dólares dos
bancos paraguaios, os bancos
brasileiros vão adquirir no
mercado oficial;
5) depois que o dinheiro
chega lá fora, parte dele retorna para o Brasil por meio
do Anexo 4 -os tais fundos
de capital estrangeiro autorizados a operar em Bolsa. Provavelmente, esse deve ter sido
o ciclo seguido pelo dinheiro
do Vetor. Primeiro, o doleiro
que mandou o dinheiro para
fora por meio de Ciudad del
Este. Depois o dinheiro retornando via Anexo 4.
O passarinho estava na
gaiola quando foi decretada
a intervenção no Vetor. O BC
abriu a porta.
Fábio Nahoum
Se você fosse prefeito de uma
cidade, emitisse títulos para pagamento de precatórios, tudo
conforme manda a lei. Depois,
viesse um espertalhão de mercado, corrompesse seus funcionários, levasse a operação para outros Estados, espalhando suspeitas sobre sua lisura, qual seria
seu comportamento?
No mínimo, desancar o oportunista. Pago um almoço de pizzas
se alguém me apontar uma frase
de Maluf criticando ou incriminando o Banco Vetor. No episódio em que Fábio Nahoum, do
Vetor, mencionou Maluf, o
ex-prefeito investiu vigorosamente contra mim -e, curiosamente, poupou o autor das declarações. De sua parte, nem no âmbito de uma reunião reservada,
Nahoum avançou além de generalidades sobre os meandros dessa operação de precatórios.
Ele passa o foco das investigações para Wagner Ramos, que
passa para ele, que insinua Maluf. Tudo sem avançar uma informação relevante sequer, numa
autêntica operação despiste.
Sendo o principal articulador
do esquema, ou apenas seu braço
financeiro (o mais provável), Nahoum sabe praticamente de todos os lances e conhece os principais personagens.
Foi ele quem recebeu o dinheiro
da comissão de Estados e determinou o destinatário de cada
cheque. E era seu banco que detinha esse volume de recursos do
Anexo 4, desproporcional ao próprio capital da instituição. A coluna estabeleceu o dia de ontem
como prazo para que Nahoum
apresentasse uma informação relevante sobre o episódio, como
demonstração de sua lisura no
processo. Não apresentou.
Email: lnassif@uol.com.br
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