São Paulo, quinta, 2 de abril de 1998

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SISTEMA FINANCEIRO
US$ 181,6 milhões do Noroeste são desviados principalmente para Suíça; Price pode ser processada
Fraude em banco é rastreada em 5 países

FREDERICO VASCONCELOS
da Reportagem Local

Um rastreamento da fraude no Banco Noroeste, segundo levantamento obtido pela Folha, revela que US$ 181,6 milhões foram desviados -do paraíso fiscal das Ilhas Cayman- para cinco países, incluindo mercados tão díspares como China e Nigéria. Mas, como é usual nesses casos, o grosso do dinheiro (US$ 120,3 milhões) foi parar em bancos na Suíça.
Parte substancial dos recursos (US$ 38,2 milhões) foi desviada para a Inglaterra e US$ 14,7 milhões, para os Estados Unidos. Foram listadas como beneficiárias das remessas 20 empresas.
A fraude envolvia remessas de dinheiro sem documentação comprobatória, contabilização indevida de juros na agência das Ilhas Cayman e outros valores (US$ 54,3 milhões) cuja natureza não foi determinada.
Até dezembro último, a Price Waterhouse havia identificado divergências nos registros contábeis do banco e nos extratos emitidos pela agência, no total de US$ 236,2 milhões. As operações fraudulentas, contudo, continuaram sendo praticadas neste ano, ainda nas vésperas da homologação oficial da compra do Noroeste pelo banco espanhol Santander, chegando-se a um rombo total de US$ 242 milhões até o dia 20 de janeiro.
Detectado o desfalque, os ex-controladores do banco, as famílias Wallace e Simonsen, contrataram a Kroll Associates, uma firma privada de investigação com sede nos Estados Unidos e escritório em São Paulo.
Esperam, com isso, ver parte daquela fortuna repatriada pelos mesmos caçadores de dinheiro perdido, que localizaram, anos atrás, o caminho tomado por fortunas ilegais de ex-ditadores, como Ferdinando Marcos, das Filipinas, e Jean-Claude Duvalier ("Baby Doc"), do Haiti.
A contratação da Kroll sugere que os antigos sócios e administradores pretendem demonstrar que a fraude seria de responsabilidade de altos executivos do banco. Eles se antecipam, assim, aos inquéritos administrativos e processos judiciais que seguramente deverão ser detonados e que poderão atingi-los, no mínimo, por falhas nos controles internos do banco.
Prevê-se que o caso deverá caminhar para uma acirrada disputa judicial. Segundo os antigos controladores do Noroeste, o advogado criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira foi contratado para propor nos próximos dias queixa-crime contra o diretor da área internacional, Nelson Sakagushi, a quem responsabilizam pelas operações irregulares.
Os ex-controladores do Noroeste estudam a possibilidade de processar a Price Waterhouse, auditores independentes do banco, sob a alegação de que a firma não teria detectado, a tempo, as operações fraudulentas.
A empresa de auditoria não quis se pronunciar. A Folha apurou que a empresa está bem documentada para comprovar que seus procedimentos contábeis foram corretos.




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