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LUÍS NASSIF
BC em mãos amadoras
Se o presidente do Fed (o
Banco Central norte-americano) tivesse declarado que seu
único objetivo era combater a
inflação, teria sido demitido.
Quem chama a atenção para isso é o economista Michal Gartenkraut.
No entanto, foi essa a afirmação do presidente do Banco
Central brasileiro, Henrique
Meirelles, demonstrando a mesma visão tecnocrática, monofásica, limitada dos seus antecessores que destruíram parte da
economia brasileira no período
de valorização cambial e juros
pornográficos do primeiro governo de Fernando Henrique
Cardoso. Fez mais: irresponsavelmente sinalizou para maior
queda do dólar, mesmo sabendo
que o movimento atual é puramente psicológico e caracteriza
um "overshooting".
O papel de um presidente de
BC competente é o de combater
a inflação com o mínimo de sacrifício para o país. É também
atuar com competência, prevendo os desdobramentos futuros
de medidas, e não ceder ao deslumbramento basbaque com resultados imediatos da política
monetária.
A curva de juros é decrescente,
não há ingresso forte de capitais
no país. Tudo sinaliza para movimentos especulativos de curtíssimo prazo, de especuladores
se beneficiando do diferencial
de juros. Haveria espaço imediato para a queda de juros, se
não mais aguda, pelo menos sinalizadora para frear o movimento especulativo do câmbio.
O presente caiu no colo de
Meirelles e do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O custo
do real desvalorizado já havia
sido pago, com os preços absorvendo os aumentos e a inflação
começando a ceder. A desvalorização provocou forte impulso
nas exportações, permitindo reduzir substancialmente a vulnerabilidade externa. Tudo isso
somado a uma redução substancial dos compromissos externos deste ano -em parte devido à liquidação antecipada de
financiamentos externos no ano
passado criou um céu de brigadeiro para a política econômica.
Em mãos profissionais, poderia abrir espaço para sair da armadilha cambial e de juros do
Real. Em mãos dogmáticas, é o
pré-ensaio de uma tragédia
anunciada.
Meirelles está conseguindo o
pior dos mundos, juntar a apreciação cambial do período Gustavo Franco com a volatilidade
cambial do período Armínio
Fraga no ano passado.
O forte superávit registrado
nesse período reflete exportações contratadas e, ao tempo em
que o dólar superou largamente
os R$ 3,00. Se o câmbio continuar despencando nessa velocidade, será rápida a reversão dos
superávits comerciais. Ao menor sinal de que se inverteu a
mão na balança comercial, esse
capital especulativo sairá do
país voltando a apreciar agudamente o dólar. Mas com uma
diferença: o exército de pequenos exportadores que acordou
para o mercado externo no ano
passado, em razão do câmbio
favorável, não irá ousar repetir
a experiência.
É bom Lula acordar enquanto
é tempo.
E-mail-
luisnassif@uol.com.br
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