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Centrais abrem disputa por sindicatos
Para receber parte do imposto sindical, avaliada em R$ 100 milhões, entidades têm de comprovar representatividade
Assédio é maior sobre os 4.000 sindicatos que atuam de forma independente; viagens e até cargos são oferecidos pelas centrais
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
O dinheiro do imposto sindical, equivalente a um dia de salário do trabalhador, que começa a ser repassado às centrais
sindicais, provoca acirrada disputa por sindicatos no país.
É que, para ter direito aos recursos provenientes desse imposto, a lei nº 11.648, de março
deste ano, determina que as
centrais comprovem um mínimo de representatividade.
Quanto maior o número de
sindicatos filiados e de trabalhadores sindicalizados, maior
será a representatividade da
central e maior, portanto, a fatia obtida do imposto sindical.
Pela lei, as centrais que comprovarem representatividade
poderão abocanhar 10% do total arrecadado com o imposto
sindical. Neste ano, sindicalistas e especialistas estimam que
esse percentual seja de R$ 100
milhões. Para o Ministério do
Trabalho, são R$ 60 milhões.
O principal alvo da disputa
das centrais são 4.046 sindicatos de trabalhadores que ainda
são independentes (não têm
vinculação a essas entidades),
segundo dados mais recentes
do recadastramento sindical do
Ministério do Trabalho. Os outros 3.656 sindicatos já filiados
a uma central também estão na
mira das entidades que correm
atrás de representatividade.
Viagens ao exterior, indicações para disputar uma vaga
em eleições municipais, cargos
na direção da central, brindes
variados e até a devolução de
uma parte do imposto sindical
são alguns dos benefícios que já
foram oferecidos pelas centrais, segundo a Folha apurou.
Nessa "guerra por filiados"
houve até uma espécie de "caça" a CNPJ de sindicatos de todo o país para fazer registro no
site do ministério como filiado
à determinada central.
Busca pelo "ouro"
Em carta enviada em março
deste ano a 2.000 sindicatos do
país, José Calixto Ramos, presidente da Nova Central Sindical
de Trabalhadores (NCST), pede aos sindicalistas que não forneçam o CNPJ da entidade a
outra central, caso procurados
por telefone ou por carta.
"Com a recente aprovação do
reconhecimento das centrais e
com o conseqüente repasse de
parte da verba, oriunda da contribuição sindical, teve início
uma verdadeira corrida em
busca do ouro", afirma Calixto.
"Trata-se de uma espécie de
chantagem e uma maneira sórdida e totalmente antiética de
conquistar filiados", diz, ao se
referir ao pedido do CNPJ.
"Sem dúvida, o sindicato passou a ser moeda para as centrais", afirma Ricardo Patah,
presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores). A central, segundo o recadastramento do ministério, é a quarta colocada no ranking sindical, com
351 sindicatos associados. A
primeira é a CUT (Central Única dos Trabalhadores), com
1.577 sindicatos; e a segunda, a
Força Sindical, com 721.
Patah informa que a sua central deve conseguir filiação de
mais 180 sindicatos até o final
deste mês. "Vai ser uma luta
selvagem. Estamos voltados
para os sindicatos do interior
do Brasil em alguns Estados,
como Bahia, Santa Catarina e
Pará", afirma. "Alguns sindicatos nem sabem que as centrais
foram regulamentadas. Nossos
assessores estão indo pessoalmente a esses sindicatos para
levar nossa mensagem. Pedimos a eles que lutem pelos trabalhadores e para se filiarem.
Queremos ter ao menos 500
sindicatos filiados."
O Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil de
Osasco e região, recém-desfiliado da Força, está sendo assediado por várias centrais. "Sou
um dos fundadores da Força,
mas não havia mais compatibilidade com a direção da central.
Optamos pela CTB [Central
dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil]", diz José Roberto Silva dos Santos, presidente do sindicato.
A CTB é formada por sindicatos dissidentes da CUT e, em
sua maior parte, ligados ao PC
do B. Após o sindicato trocar de
central, Santos foi convidado a
disputar pelo PC do B o cargo
de prefeito em Osasco.
Assédio
No Nordeste, UGT e CGTB
(Central Geral dos Trabalhadores do Brasil) foram as centrais
que mais assediaram os sindicatos ligados à Nova Central
Sindical de Trabalhadores
(NCST). "Recebemos da UGT a
ficha de nossa filiação pronta
pelo Correio. No documento
constava até nosso CNPJ", diz
Antonio Diogo dos Santos, presidente do Sindicato dos Hoteleiros de Pernambuco (filiado à
NCST), que representa 30 mil
trabalhadores em 26 cidades.
"Todo ano as centrais terão
de comprovar a representatividade. É natural que haverá reacomodação de forças. Vamos
continuar fazendo o que sempre fizemos, que é convidar as
pessoas e sindicatos a se filiarem à nossa central", diz Antonio Neto, presidente da CGTB.
A Confederação Nacional
dos Trabalhadores no Comércio vai manter, por enquanto, a
posição de independente e não
deve se filiar a uma central. "Já
nos procuraram Força, CUT,
UGT, Nova Central, CTB e outras. Ainda vamos discutir esse
assunto em reunião de diretoria", diz José Augusto da Silva
Filho, diretor da confederação.
Em Santa Catarina, dirigentes de sindicatos que mudaram
de uma filial para outra ou de
entidades que eram independentes e escolheram se vincular a uma central foram "convidados" a participar de seminários internacionais e viagens.
"Canadá, Japão foram alguns
dos itinerários concedidos a
quem aceitou se associar a uma
central", diz Altamiro Perdoná,
presidente da Federação dos
Trabalhadores da Construção
Civil de Santa Catarina.
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