São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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Aquecimento da construção eleva preços

Setor cresceu, no primeiro trimestre do ano, 7% em relação aos três últimos meses de 2005, segundo dados do IBGE

Cimento aumenta 1% em maio, na primeira alta em quase dois anos; procura por itens da construção civil está maior, dizem especialistas


PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Construir ou reformar a casa ficou mais caro, e uma das causas do aumento de preços é o próprio aquecimento da atividade de construção civil. Os preços médios de serviços e da mão-de-obra subiram 0,81% em maio, a maior variação desde junho de 2005, segundo dados do INCC (Índice Nacional da Construção Civil), pesquisado pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Em abril, o indicador havia subido apenas 0,21%.
Item de maior consumo do setor, o cimento subiu 1% em maio, na primeira alta em quase dois anos, de acordo com a FGV. "Nesse caso, o aumento é compatível com a recuperação do setor", afirmou Salomão Quadros, coordenador de análises econômicas da FGV.
Anteontem, os dados do PIB mostraram forte aquecimento da construção civil, que não se via há muito tempo. O setor cresceu, no primeiro trimestre, 7% em relação aos três últimos meses do ano passado, segundo o IBGE. No acumulado dos quatro trimestres encerrados em março de 2006, a expansão ficou em 2,8%.
Além do cimento, também subiram com força os preços de condutores elétricos (24,5%), ferragens para esquadrias (1,35%) e esquadrias de alumínio (0,47%). Esses foram os reajustes de maior impacto no INCC, junto com o cimento.
Ao todo, o grupo materiais e serviços teve incremento de 0,42% em maio. Neste ano, o INCC teve alta de 1,77%. Em 2005, acumulou reajuste de 6,84%.
Os aumentos de fios e esquadrias, diz Quadros, são resultado do "choque dos metais", cujas cotações estão em alta no mercado internacional. Um dos itens de maior pressão é o cobre, principal insumo de componentes elétricos, como fios e condutores.

Mão-de-obra
Além da pressão de demanda em um momento em que o setor começa a reagir, o INCC subiu também a reboque do reajuste dos salários, que aumentaram 5,5% em São Paulo, em média, segundo o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de São Paulo).
Pressionado pelos dissídios, o CUB (Custo Unitário Básico da construção civil) de São Paulo subiu 2,77% em maio na comparação com abril, segundo dados divulgados pelo Sinduscon-SP.
"De fato, a mão-de-obra teve um grande impacto no índice, especialmente porque São Paulo é a região de maior peso", disse Quadros.
Para Eduardo Zaidan, diretor do Sinduscon-SP, "é inegável que o setor da construção civil está crescendo", mas o aumento dos índices setoriais é reflexo do aumento dos salários no país e não de uma pressão de demanda.

Voltando a 1998
Na opinião de Zaidan, não há um crescimento "explosivo" que sustente um reajuste disseminado de preços. As altas, avalia, são localizadas e estão relacionadas a questões como pressões de custos em alguns ramos que fornecem produtos à construção civil.
Por trás do crescimento da construção civil no primeiro trimestre, diz Zaidan, está o próprio crescimento econômico que, neste ano, deve ser maior, já que o ramo responde a investimentos de outros setores e do governo. "O programa tapa-buraco das estradas, por exemplo, ajudou o PIB da construção", afirmou.
Maior volume de crédito à habitação e o pacote de redução dos preços de produtos básicos da construção civil também são fatores que explicam o maior dinamismo do setor, dizem especialistas.
Bráulio Borges, economista da LCA, afirma, no entanto, que o setor, apesar da recuperação no primeiro trimestre, voltou apenas ao patamar de produção de 1998, já que nos últimos anos sofreu com sucessivas crises.


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