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"Multibolhas" preocupam Wall Street
GILSON SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Uma síndrome de multibolhas ("multi-bubble syndrome')
ronda as tesourarias do sistema
financeiro global. O neologismo foi lançado nesta semana
por Stephen Roach, do Morgan
Stanley, um dos mais criativos
analistas de Wall Street.
A imagem serve para mostrar
que, desta vez, a crise financeira tem uma nova característica:
ao contrário de crises anteriores, detonadas por um acontecimento específico (a quebra de
um banco, a maxidesvalorização de uma moeda asiática ou o
calote de um país latino-americano), desta vez há uma rede
complexa e global de acontecimentos que sinalizam a exaustão do ciclo de alta liquidez nos
mercados internacionais.
Em vez de uma bolha estourar de modo espetacular, há
muitas bolhas especulativas
prestes a se romper. Hoje é menos provável a ocorrência de
um evento cataclísmico, até
mesmo porque os bancos centrais aprenderam algumas lições desde que, no final dos
anos 70, o Fed resolveu lidar
com os riscos globais promovendo um choque de juros.
O cenário mais provável é o
de uma desvalorização lenta e
gradual dos ativos, tecida através de inúmeras corridas de
curta duração, como a que
ocorreu nas últimas duas semanas. Esta não foi a primeira
nem será a última ocorrência
num processo que, segundo
Roach, reflete um aumento da
aversão ao risco em todos os
mercados do mundo.
Como não há um evento
maior, no lugar de uma inflexão
completa rumo à inflação ou à
depressão surgem ciclos de
curta duração, tanto otimistas
como pessimistas. Aumenta a
volatilidade dos preços dos ativos e, portanto, as oportunidades de ganho no curto prazo.
Em meio ao processo, boas
notícias interrompem ou suspendem temporariamente a
sensação de catástrofe. Ontem
foram anunciados indicadores
econômicos que mostram a desaceleração da economia dos
EUA, reduzindo as chances de
nova elevação dos juros pelo
Fed. O setor de construção continua esfriando e os consumidores já sentem o aperto da alta
nos preços da energia.
Roach, no entanto, alerta para uma virada psicológica de
fundo nos mercados globais. Os
fatos das últimas semanas sinalizariam uma reversão importante no quadro mais geral de
liquidez em todos os mercados
do mundo. Ou seja, sobra cada
vez menos dinheiro para investir, especular ou emprestar.
Os mercados podem exagerar na precaução. Um dos sintomas dessa nova aversão ao
risco tem sido o surgimento de
expectativas cada vez mais intensas de que o Banco do Japão
iniciará a alta dos juros antes do
que se imaginava. Por conta
dessa expectativa, o governo japonês viu-se obrigado a injetar
US$ 13 bilhões na economia,
interrompendo o processo de
enxugamento da liquidez que
tinha começado em março.
GILSON SCHWARTZ, professor da Escola de
Comunicações e Artes da USP e diretor da Cidade do Conhecimento, viajou aos EUA a convite da Evergreen State College.
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