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EUA querem formar G2 com a China
Secretário do Tesouro, Timothy Geithner, diz que grupo traria equilíbrio à economia
Discurso enfraquece teoria de que o G20 será o novo protagonista global e dá relevo somente à China dentro do grupo dos Brics
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O secretário norte-americano do Tesouro, Timothy Geithner, apresentou ontem o que é
uma nítida proposta de G2, um
grupo formado apenas por
EUA e China, para devolver o
equilíbrio à economia mundial.
A proposta de Geithner, em
discurso na Universidade de
Pequim, atropela claramente o
G20, o clube das 20 maiores
economias do mundo, o veículo
pelo qual o governo do presidente Lula pretende ocupar espaço na linha de frente da gerência econômico-financeira
do planeta.
Geithner olhou além das tarefas do G20, quais sejam, recuperar a economia mundial e redesenhar a arquitetura do sistema financeiro internacional.
O que Geithner sugere é atacar os desequilíbrios que já
existiam antes da crise e que
não estão no radar nem do G20
nem do G8, o grupo dos sete
países mais ricos do mundo
mais a Rússia.
Resumindo o que disse
Geithner: a China precisa tornar sua moeda mais flexível e
deve diversificar sua economia
de forma a depender menos pesadamente das exportações para crescer.
Os EUA, em troca, poriam o
foco em controlar o seu colossal déficit, o que serviria para
proteger os maciços investimentos chineses em títulos do
governo norte-americano. Esse
déficit, como é óbvio, é potencial combustível para uma disparada inflacionária, que minaria o valor dos papéis norte-americanos que os chineses
compraram e do próprio dólar.
Qual é o desequilíbrio na economia global que antecede a
crise e foi pelo menos parte das
suas causas? Explica Brad Setser, especialista do Council on
Foreign Relations: "Os norte-
-americanos poupam muito e
tomam empréstimos excessivamente. Na outra ponta, muitos dos credores dos Estados
Unidos consomem muito pouco e poupam demasiado", em
alusão não apenas à China e a
outros países asiáticos, mas
também aos países exportadores de petróleo.
Grande número de especialistas considera esse desequilíbrio insustentável, no médio
prazo. Corrigi-lo, ao menos a
julgar pelo que disse Geithner,
é um mano a mano China-EUA,
o que torna no mínimo exagerado todo o alarido em torno da
importância que o G20 -e, por
extensão, o Brasil- teria na
reordenação do sistema financeiro global.
Tanto é assim que o foco da
mídia chinesa a respeito da visita do secretário do Tesouro
foi precisamente em torno do
papel mais substancial que Pequim deveria desempenhar na
elaboração da política econômica planetária.
Mesmo os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China, supostas
grandes potências a partir de
2020, segundo a firma financeira Goldman Sachs) perdem
relevância porque apenas a letra C, de China, está sendo convocada a esse papel de colíder
na restauração do equilíbrio
econômico no planeta.
A propósito, há uma reunião
de cúpula dos Brics marcada
para este mês na Rússia, mas
está por ver se a pauta inclui os
desequilíbrios de que Geithner
falou em Pequim.
Convém notar também que
G2, para EUA e China, é uma sigla que aparece recorrentemente em análises acadêmicas
sobre o novo mundo que emergirá do fato de o unilateralismo
norte-americano ter batido no
muro sem que tenha surgido
um coletivo capaz de liderar o
multilateralismo, a menos que
ele se transforme mesmo em
bilateralismo China-EUA.
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