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OPINIÃO ECONÔMICA
Fica, Robinho!
GESNER OLIVEIRA
Embora não seja santista,
adiro ao movimento "fica,
Robinho!", que procura convencer o atleta do Santos a permanecer no país e abrir mão de proposta milionária do Real Madrid, da
Espanha. Apesar de romântica e
com escassa chance de sucesso, a
tentativa obriga a refletir sobre o
que é necessário para reter os melhores talentos no país.
Todos os titulares da seleção
que derrotou a Itália na final da
Copa do México, em 1970, por 4 a
1, jogavam no Brasil. Apenas dois
jogadores do time que derrotou a
Argentina por 4 a 1 na última
quarta-feira jogam em clubes
brasileiros: Robinho, do Santos, e
Cicinho, do São Paulo. O primeiro está de malas prontas, e o segundo já é assediado por clubes
estrangeiros.
Nos anos 70, o país crescia à taxa média de quase 9% ao ano.
Não se cogitava a hipótese de estagnação e não se conhecia o desemprego aberto. A Espanha, em
contraste, era uma economia
atrasada relativamente ao resto
da Europa, marcada por quatro
décadas de ditadura franquista.
Nas últimas décadas, o Brasil
reconquistou a democracia, estabilizou a economia, mas cresceu
de forma modesta (menos de 3%
ao ano). A Espanha promoveu
bem-sucedida transição para a
democracia e acusou notável modernização ao se integrar à União
Européia. O PIB por habitante da
Espanha era cerca de 1,6 vez o
brasileiro em 1970; atualmente, é
mais de 7 vezes o do Brasil.
Nos anos 70, seria motivo de revolta se alguém ousasse molestar
algum jogador de futebol, mesmo
não se tratando de um ídolo como Robinho. Já houve caso de assaltantes que devolveram o fruto
do assalto e pediram desculpas às
suas vítimas ao se darem conta de
que eram atletas conhecidos. Não
faziam isso por medo, mas por
respeito. Atualmente, não há respeito sequer pelas mães dos jogadores, que se tornaram alvos da
indústria do seqüestro! Luis Fabiano, Grafite e o próprio Robinho, entre outros, tiveram as
mães seqüestradas.
Em meio à comemoração da vitória sobre a Argentina, Robinho
alegou que a segurança da família era um dos fatores que pesavam em sua decisão de partir.
Quantos biólogos, engenheiros
mecatrônicos, geneticistas e tantos outros profissionais talentosos
o Brasil não perde pela mesma
razão? Quantas empresas não
deixam de expandir suas atividades no país em razão do crônico
problema de violência? A criminalidade constitui hoje um dos
entraves ao crescimento, e não há
uma ação sistemática para reverter esse quadro.
Além disso, há a atração da
moeda forte. Os mais fanáticos
torcedores do Santos devem fazer
um exame de consciência e se perguntar se estariam dispostos a
deixar de receber de cinco a dez
vezes mais em euros para permanecer no Brasil. Nenhuma moeda
se torna forte por um passe de
mágica. Juros excessivamente altos como os nacionais podem valorizar a moeda apenas temporariamente. No longo prazo, uma
moeda só se fortalece com o aumento da competitividade, que,
por sua vez, exige elevação do investimento e da produtividade.
No entanto a taxa de inversão no
Brasil é baixa e está declinando.
Não bastassem os fatores macroeconômicos, há os problemas
gerencial e societário nos clubes
de futebol no Brasil. Apesar de deterem marcas fortíssimas e um
bom mercado doméstico, a maioria dos clubes nacionais ainda
não adotou práticas modernas de
governança corporativa e administração profissional. Será necessário um período de saneamento
das finanças e reorganização dos
clubes, como ocorreu na Espanha
no início dos anos 90. Mais importante, será necessária uma nova geração de empresários esportivos de forma análoga à que
ocorreu no agronegócio brasileiro
nas duas últimas décadas.
Seria injusto pedir que um profissional abra mão de oportunidades de uma economia globalizada. Mas é inaceitável que o país
assista de forma passiva a sua
contínua perda de importância
no cenário internacional. O apelo
do "fica, Robinho" é legítimo,
mas insuficiente. Para segurar
outros Robinhos do futebol, das
artes e das ciências, serão necessários mais segurança, educação e
investimento. Isso, por sua vez, requer um choque de gestão pública
e privada.
Gesner Oliveira, 49, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, presidente do Instituto Tendências de Direito e Economia e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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