São Paulo, sábado, 02 de julho de 2005

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VAREJO

Dados são da Associação Comercial da cidade, mas analistas e lojas já falam em desaceleração no final do período

Vendas em SP crescem 6,3% no semestre

Daniel Kfouri/Folha Imagem
O estilista Caio Gobbi na área de roupas do hipermercado Extra Itaim, na zona sul de SP


DA REPORTAGEM LOCAL

Na contramão de indicadores que mostram arrefecimento no fôlego do comércio, a ACSP (Associação Comercial de São Paulo) apresentou dados ontem que concluem que o primeiro semestre do ano foi o melhor da história do varejo na capital. Junho registrou recorde, para o mês, no volume de vendas a prazo e à vista nos últimos dez anos. Analistas da área de varejo se surpreenderam com os dados e questionam um possível vigor do setor, num período em que a renda do brasileiro cai e o crediário dá sinais de esgotamento de sua força.
Segundo os dados publicados ontem, o volume de consultas ao SCPC (Serviço Central de Proteção ao Cheque) atingiu 9,3 milhões de janeiro a junho, uma expansão de 6,3% sobre 2004 -ano que já apresentou um desempenho celebrado pelas lojas. No caso do Usecheque, pela primeira vez o número de registros ultrapassou os 10 milhões no intervalo (foram quase 10,3 milhões, uma alta de 4,4% sobre 2004).
O SCPC mede as consultas do comércio ao sistema da associação para que seja liberada a venda a prazo ao cliente, no momento da compra. Já o Usecheque contabiliza as operações à vista. A consulta é feita por telefone pelo comerciante à ACSP.
Para tentar explicar os resultados, a ACSP fez algumas considerações técnicas. Lembrou que o feriado de Corpus Christi aconteceu em maio, e isso enfraqueceu o mês e favoreceu o desempenho de junho. No mês passado, as consultas ao SCPC cresceram 6,9% sobre igual período de 2004. No Usecheque, a alta foi de 4,6%. A entidade ainda reforçou o fato de que junho teve um dia útil a mais sobre igual mês do ano passado. Isso pressiona a taxa para cima.
Ao analisar o semestre, a área econômica atribuiu o desempenho recorde do período à expansão do farto crédito consignado e à leve melhora nos indicadores de emprego. O volume de pessoas economicamente ativas no país sobe desde janeiro. "Os resultados robustos refletem o momento de expansão no crediário, impulsionado pela estratégia dos bancos de oferecerem recursos ao consumidor. Mas a possibilidade de esse vigor se perder no segundo semestre, assim como a renda continuar a cair, pode fazer o crescimento se desacelerar", afirma Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial.
Renda em queda é o principal breque para o setor. O IBGE mostra que o rendimento real do trabalhador cai desde fevereiro. Estava em R$ 1.159 ao final de 2004 e caiu para R$ 948 em abril. Com o consumidor sem dinheiro no bolso, o varejo de alimentos -altamente dependente de renda- perde vendas. Maio e junho foram meses fracos, segundo apurou a Folha com o grupo Pão de Açúcar. O comércio de eletrônicos, que depende mais de crédito fácil do que de renda para se expandir, também perde fôlego desde maio, segundo a indústria, representada pela Eletros.
Na avaliação de Marcos Gouvêa, um dos principais analistas de varejo do país, sócio-diretor da Gouvêa de Souza&MD, seria surpreendente verificar indicadores de expansão recorde de vendas no semestre, como informa a ACSP.
Ele lembra, por exemplo, que a inadimplência do consumidor nas lojas ganhou força no último mês, o que pode ser um indicador de um processo de esgotamento da expansão no crédito consignado. "O varejo de itens duráveis [eletrônicos] já cresce menos, e o índice de confiança, que é um fator de peso no ânimo de compra, perdeu vigor", conta.
(ADRIANA MATTOS)


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