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LUÍS NASSIF
Os móveis e a China
O que criou a competitividade foi a combinação de mão-de-obra barata com produtividade
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O QUE está ocorrendo com o
mercado mundial de móveis
dá uma pálida idéia do que
significa a explosão chinesa no mundo, de acordo com o relato do consultor norte-americano Arthur Raymond.
No século 18, os EUA compravam
móveis da Grã-Bretanha. Surgiram
as primeiras indústrias no nordeste
do país. Quando os custos se tornaram crescentes, a indústria moveleira migrou para Michigan, na mesma
região onde se instalou a indústria
automobilística.
Quando os salários aumentaram,
o setor mudou-se para Carolina do
Norte e Virgínia, no sudoeste do
país, que dispunham de mão-de-obra barata e madeira. Salários elevando-se, atravessaram a fronteira e
foram para o México. Nos anos 70,
várias fábricas se mudaram para
Taiwan. Quando a indústria eletroeletrônica absorveu os empregos e
melhorou o nível dos salários, que
saltaram de US$ 0,60 para US$ 4,50
a hora, o setor se mudou para as Filipinas, a Indonésia, a Malásia e a Tailândia. Finalmente, chegou à China
e ao Vietnã, conduzido pelos mesmos empresários que haviam aportado em Taiwan.
Em 1996 a China começou a exportar para os Estados Unidos. Para
abrir fábrica na China, o investimento chega a US$ 4,00 por pé quadrado, contra US$ 30 a 40 nos EUA.
O setor não exige equipamento sofisticado. Além disso, a China conta,
por enquanto, com a vantagem de
não se preocupar com o ambiente.
Assim, o custo de uma fábrica de
móveis na China sai até 65% a menos que nos EUA.
A produtividade do trabalhador
chinês corresponde a um quarto do
trabalhador americano. A hora de
trabalho chega a US$ 0,65, mas a
mão-de-obra representa apenas 5%
do preço final do produto. O que
criou a competitividade foi a combinação de mão-de-obra barata com
produtividade.
Quando percebeu sua vantagem
competitiva, a China passou a trabalhar estrategicamente para consolidá-la. Passou a investir pesadamente em estrutura portuária. Hoje em
dia possui o maior porto de contêineres do mundo, e seis outros dentre os maiores.
O tempo de transporte até a costa
oeste dos EUA é de 15 dias; até a costa leste, de 33 dias. O transporte do
contêiner de 44 pés custa US$ 4.000
até a costa oeste. Da Carolina do
Norte até a Califórnia, o transporte
pelas estradas não sai por menos de
US$ 3.000.
A volta dos contêineres para a
China, a maior parte vazios, custa
mais US$ 1.000, mas o governo subsidia esse retorno. Agora, gradativamente os contêineres estão voltando com madeira americana. Hoje
em dia, a China importa nove vezes
mais madeira dos EUA do que nos
anos 90.
No começo do processo, as empresas chinesas eram meras fornecedoras de componentes para as
americanas. À medida que invadiam
o mercado com produtos de maior
valor agregado, os chineses varreram as empresas americanas do mapa, que se tornaram meras distribuidoras de produtos chineses.
Agora, os chineses começam a
vender diretamente para as lojas de
varejo, têm força de venda própria
nos EUA e não precisam mais dos
intermediários.
Dos US$ 21 bilhões de importações de móveis dos EUA, US$ 11 bilhões são de produtos chineses; US$
483 milhões, de móveis brasileiros.
Blog: www.luisnasif.com.br
Luisnassif@uol.com.br
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