São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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LUÍS NASSIF

Os móveis e a China


O que criou a competitividade foi a combinação de mão-de-obra barata com produtividade

O QUE está ocorrendo com o mercado mundial de móveis dá uma pálida idéia do que significa a explosão chinesa no mundo, de acordo com o relato do consultor norte-americano Arthur Raymond.
No século 18, os EUA compravam móveis da Grã-Bretanha. Surgiram as primeiras indústrias no nordeste do país. Quando os custos se tornaram crescentes, a indústria moveleira migrou para Michigan, na mesma região onde se instalou a indústria automobilística.
Quando os salários aumentaram, o setor mudou-se para Carolina do Norte e Virgínia, no sudoeste do país, que dispunham de mão-de-obra barata e madeira. Salários elevando-se, atravessaram a fronteira e foram para o México. Nos anos 70, várias fábricas se mudaram para Taiwan. Quando a indústria eletroeletrônica absorveu os empregos e melhorou o nível dos salários, que saltaram de US$ 0,60 para US$ 4,50 a hora, o setor se mudou para as Filipinas, a Indonésia, a Malásia e a Tailândia. Finalmente, chegou à China e ao Vietnã, conduzido pelos mesmos empresários que haviam aportado em Taiwan.
Em 1996 a China começou a exportar para os Estados Unidos. Para abrir fábrica na China, o investimento chega a US$ 4,00 por pé quadrado, contra US$ 30 a 40 nos EUA. O setor não exige equipamento sofisticado. Além disso, a China conta, por enquanto, com a vantagem de não se preocupar com o ambiente. Assim, o custo de uma fábrica de móveis na China sai até 65% a menos que nos EUA.
A produtividade do trabalhador chinês corresponde a um quarto do trabalhador americano. A hora de trabalho chega a US$ 0,65, mas a mão-de-obra representa apenas 5% do preço final do produto. O que criou a competitividade foi a combinação de mão-de-obra barata com produtividade.
Quando percebeu sua vantagem competitiva, a China passou a trabalhar estrategicamente para consolidá-la. Passou a investir pesadamente em estrutura portuária. Hoje em dia possui o maior porto de contêineres do mundo, e seis outros dentre os maiores.
O tempo de transporte até a costa oeste dos EUA é de 15 dias; até a costa leste, de 33 dias. O transporte do contêiner de 44 pés custa US$ 4.000 até a costa oeste. Da Carolina do Norte até a Califórnia, o transporte pelas estradas não sai por menos de US$ 3.000.
A volta dos contêineres para a China, a maior parte vazios, custa mais US$ 1.000, mas o governo subsidia esse retorno. Agora, gradativamente os contêineres estão voltando com madeira americana. Hoje em dia, a China importa nove vezes mais madeira dos EUA do que nos anos 90.
No começo do processo, as empresas chinesas eram meras fornecedoras de componentes para as americanas. À medida que invadiam o mercado com produtos de maior valor agregado, os chineses varreram as empresas americanas do mapa, que se tornaram meras distribuidoras de produtos chineses.
Agora, os chineses começam a vender diretamente para as lojas de varejo, têm força de venda própria nos EUA e não precisam mais dos intermediários.
Dos US$ 21 bilhões de importações de móveis dos EUA, US$ 11 bilhões são de produtos chineses; US$ 483 milhões, de móveis brasileiros.


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