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Cristiana Arcangeli afirma que empresa fez apenas encomenda e nega subfaturamento
DA REPORTAGEM LOCAL
Cristiana Arcangeli, dona da
PH Arcangeli e da rede de lojas
de perfumes Phytá, suspeita de
ser beneficiada em uma importação irregular de perfumes feita pela Nova Importação, afirma: "Fiz uma encomenda, sim,
de perfumes para a Nova Importação. Qual o problema? Esse é o trabalho dela. A Receita
quer acabar com as tradings?"
Arcangeli diz que há uma
grande confusão em relação à
legislação que trata de operações de importação realizadas
pelas empresas brasileiras.
"Existe uma legislação que
permite a encomenda às tradings. Todas as empresas que
importam perfumes e cosméticos trabalham dessa forma. A
Receita Federal acha que, só
porque uma empresa é suspeita
de importar de forma irregular,
todas fazem a mesma coisa?"
Ex-proprietária da Phytoervas, Arcangeli, que emprega
aproximadamente 200 pessoas, decidiu criar um departamento de importação para não
correr riscos e ficar desabastecida de perfumes.
Ela lançou nesta semana
uma linha de 35 produtos para
o cabelo com a marca éh, em
parceria com o empresário
João Alves de Queiroz Filho, o
Júnior, dono da Assolan.
Leia a seguir os principais
trechos da entrevista com a
empresária.
(FF e CR)
FOLHA - A sua empresa, a PH Arcangeli, é suspeita de ter se beneficiado de importação que teria sido
feita de forma irregular pela Nova
Importação e que resultou numa
apreensão de perfumes pela Receita
Federal.
CRISTIANA ARCANGELI - Há uma
grande confusão no mercado
de importação. O setor de perfumaria inteiro trabalha dessa
forma [com encomenda de produtos às tradings]. Eu, a L'Oréal, a LVMH. Todas as empresas que trabalham com produtos importados, de A a Z, operam dessa forma. Isso não significa que a importação seja feita de modo irregular.
FOLHA - Isso significa que a sua
empresa e as outras que você mencionou fazem encomendas dos produtos às tradings. Não fazem importação direta.
ARCANGELI - Sim. Existe um fabricante lá fora e existe uma
trading no Brasil. Você faz a encomenda e a trading traz as
mercadorias. Todas as empresas trabalham assim no país, inclusive as marcas multinacionais. As tradings existem desde
que o mundo é mundo fazendo
esse trabalho.
FOLHA - A Daslu também utiliza
tradings para importar.
ARCANGELI - Não sei. Parece que
a Daslu, pelo menos é o que a
gente lê nos jornais, enfrenta
outros problemas. O que eu
posso dizer é que, no caso de
cosméticos, o mercado no Brasil trabalha dessa forma.
FOLHA - Após o caso Daslu [butique suspeita de participar, em parceria com tradings, de esquema de
importação irregular e, com isso, se
livrar do pagamento de impostos], a
Receita Federal está com o olhar
mais atento às importações?
ARCANGELI - Talvez o caso da
Daslu tenha criado essa nuvem
sobre os importadores. Qualquer empresa que traz, por
exemplo, um pneu por meio de
uma trading está fazendo algo
de errado? Não é bem assim.
Existe uma nova legislação da
Receita Federal que diz que é
legal comprar por encomenda.
FOLHA - Outras empresas que importam perfumes, como a PH, e cosméticos estão com problemas também para importar?
ARCANGELI - Estão, sim. Existe
uma confusão tão grande no
mercado de importação que
ninguém mais sabe como é possível importar. As tradings vão
ter de fazer o quê? Fechar as
portas. Existe uma empresa
com 30 contêineres parados na
Alfândega. Algumas estão com
prejuízos sérios, porque vários
desses produtos possuem data
de validade.
FOLHA - A PH Arcangeli está trazendo importados para o país?
ARCANGELI - Por causa de toda
essa discussão, optei por montar um departamento interno
de importação, que está me
custando uma fortuna. Já tenho o Radar [registro concedido pela Receita para importar e
exportar]. Já estou importando
tudo de forma direta. Como
não faço nada de errado, já tenho o registro. Não há processo
contra mim.
FOLHA - Em razão da apreensão de
perfumes importados pela Nova Importação para a PH, a PH recebeu alguma autuação da Receita Federal?
ARCANGELI - Não. Olha, vou explicar a minha preocupação. O
poder da mídia é muito grande.
Tudo o que sai no jornal acaba
se transformando numa verdade até que você consiga explicar
o contrário. O fato de uma empresa fazer algo que não é correto não significa que todo
mundo trabalha da mesma forma, que todo empresário é bandido, meu Deus do céu. Sou uma empresária. Comecei em
1986, com três funcionários.
Com a Phytoervas, cheguei a
ter 600 empregados. Agora,
seis anos após a venda da
Phytoervas, volto para lançar
uma linha nacional própria de
cosméticos.
FOLHA - Algumas tradings afirmam que há problema na interpretação da legislação que trata das importações.
ARCANGELI - Eu concordo. Uma
empresa pode fazer encomenda a uma trading, que é o que eu
fiz no caso da Nova Importação. Em nenhum momento minha empresa se escondeu para
não pagar IPI [Imposto sobre
Produtos Industrializados].
Sempre paguei IPI sobre os
produtos que vendo. O imposto
está destacado na minha tabela
de preços.
FOLHA - As fiscalizações da Receita
Federal nas operações de importação têm qual intenção, na sua avaliação?
ARCANGELI - Aumentar a arrecadação. O que eu acho lindo,
maravilhoso. Só que para isso
não é preciso matar todo um
setor. O governo não pode acabar com as empresas que operam de acordo com a lei. As tradings empregam muita gente e
muitas delas estão sendo forçadas a demitir porque não têm
mercadorias para vender. Se
existiu alguém loiro de olho
azul que matou alguém, não
significa que todo loiro de olho
azul é ruim. É preciso tomar
muito cuidado. Se não, você
acaba colocando todo mundo
na vala comum. Tenho muito
medo disso.
FOLHA - A Nova Importação fez algo de errado, em sua avaliação, em
relação à importação de seus produtos?
ARCANGELI - A Nova Importação é uma empresa séria, que
existe, tem endereço, é só ir lá e
ver, faz o trabalho que tem de
fazer. Agora, como ela não pode
mais importar, estou importando por conta própria.
FOLHA - A sua nova linha de cosméticos será produzida no país ou
importada?
ARCANGELI - Será produzida a
nosso pedido em uma fábrica
em Louveira (SP). Vou terceirizar a produção, o que é muito
mais inteligente, muito mais
econômico.
FOLHA - Como a PH avalia o fato de
Justiça de Itajaí ter ratificado auto
de infração para a perda dos perfumes importados pela Nova Importação?
ARCANGELI - Na prática, quem
dá o perdimento da mercadoria
é a Receita Federal. O fiscal
apreende e julga. A Justiça não
julgou o mérito. Em mandado
de segurança, não se discute o
mérito. A Justiça ratificou a decisão da Receita. A Nova Importação tem de ter direito à
defesa. Como pode o próprio
fiscal que apreende a mercadoria lavrar auto de perda dos
produtos? A empresa tem de
poder se explicar no processo
administrativo.
FOLHA - Auto da Receita cita que
há suspeita de subfaturamento dos
produtos importados e que os produtos eram revendidos por vocês
por preços sete vezes maiores.
ARCANGELI - Não houve subfaturamento algum. Eles até já
desistiram de tocar nesse assunto no processo. A margem
de lucro da importadora é de
3% sobre os perfumes trazidos.
Essa é uma margem normal de
lucro. Se o preço sobe muito,
ninguém compra. Não existe
mais no país aquela inflação
que chegou a 70% em um mês.
As pessoas precisam passar a
entender isso. Os números são
outros nos dias de hoje. Se você
começar a trabalhar com margens de 50% de lucro, quanto
vai custar um perfume para o
consumidor?
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