São Paulo, domingo, 02 de julho de 2006

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Genebra vê fracasso em negociação comercial

G-8 pode discutir tema na reunião da Rússia na semana que vem

Sem acordo, encontro da OMC acaba um dia antes; alternativa foi deixar Lamy negociar individualmente com os países-membros

SHEILA D"AMORIM
ENVIADA ESPECIAL A GENEBRA

Com o fracasso das negociações esta semana na sede da OMC (Organização Mundial do Comércio), em Genebra, a promessa assinada, em 2001, pelos EUA, União Européia (UE) e países em desenvolvimento de corrigir distorções no comércio internacional de produtos agrícolas e aumentar o acesso aos mercados como forma de estimular o desenvolvimento, sobretudo de economias mais pobres, pode ser definitivamente enterrada.
Depois de quatro dias de reuniões formais e informais, os representante dos 149 países da organização tentam encontrar uma saída honrosa para essa pauta de negociação, que ficou conhecida como rodada de Doha. A alternativa encontrada foi deixar o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, negociar individualmente com os países nas próximas semanas para ver até onde cada um pode ceder.
Nesse meio tempo, o encontro presidencial dos sete países mais industrializados e a Rússia (G-8), previsto para semana que vem em São Petersburgo, pode servir de palco para uma reunião paralela também sobre comércio. A expectativa dos defensores de economias envolvidas na rodada de Doha estarão na mesma cidade para tentar obter uma sinalização política de que novas propostas serão feitas.
Em Genebra, o único consenso após os encontros da última semana foi que não adiantava mais nada manter os debates em grupo porque o impasse estava estabelecido. Diante da inflexibilidade dos norte-americanos as chances de avanços eram nulas. Por isso, a negociação foi encerrada um dia antes do previsto e, ontem, cada país tentava empurrar a culpa para o outro.
"Estamos numa crise e temos que admitir isso. É uma crise, mas não estamos em pânico", assegurou Lamy após mais um dia de reuniões. Segundo ele, não haverá alteração nas linhas centrais das discussões que visam reduzir os subsídios agrícolas e eliminar barreiras comerciais. "O plano de construir nosso edifício está mantido, mas é preciso mais pedra e areia".
Os EUA, ao contrário do que aconteceu no encontro de Hong Kong, em dezembro do ano passado, ficaram com o papel do vilão. Isso porque, a UE logo na abertura dos trabalhos sinalizou que poderia se aproximar da proposta feita pelos países em desenvolvimentos, liderados pelo Brasil e a Índia e agrupados no G-20. Eles querem um corte médio das tarifas de importação de produtos agrícolas de 54%.
Os americanos, porém, não avançaram na proposta feita em 2005 de corte nos subsídios concedidos aos agricultores.
Susan Schwab, que estava estreando na função de negociadora americana, disse que não viu progressos e que "até haver avanços, não cumpriremos as nossas promessas". Para o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, ficou claro que Schwab não tinha autorização da Casa Branca para fazer uma nova proposta.


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