São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

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FMI culpa países ricos pela alta da inflação

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Subsídios aos biocombustíveis, principalmente os praticados por países ricos como os EUA, contribuem para a atual alta nos preços dos alimentos. A continuar essa situação, em que esses incentivos governamentais e a elevação do preço do petróleo empurram o preços da comida para cima, alguns governos não conseguirão mais alimentar suas populações.
A relação parece óbvia e já foi citada anteriormente por diversas entidades e países. A novidade é o autor da conclusão: o Fundo Monetário Internacional, que tem nos Estados Unidos seu maior contribuinte. O enfoque mais social, ou mais ao centro, tem o dedo do novo diretor-gerente do FMI, o francês Dominique Strauss-Kahn.
Ao anunciar o estudo "Preços de Alimentos e Combustíveis -Desenvolvimentos Recentes, Impactos Macroeconômicos e Ações Políticas", ontem na sede do Fundo, em Washington, Strauss-Kahn disse: "Não há uma só resposta, um "tamanho único" de conclusão, o que às vezes é conhecido como o tradicional jeito de o FMI pensar".
Pois, de acordo com o "novo" jeito de o FMI pensar, a atual equação das coisas deve levar esses países a uma "situação-limite". "Se os preços de alimentos aumentarem e os do petróleo continuarem iguais, alguns governos não terão mais capacidade de alimentar suas populações e, ao mesmo tempo, manter a estabilidade de suas economias", disse.
Entre os motivos citados pelo estudo, estão subsídios como o que os EUA concedem aos produtores de etanol de milho, atualmente de 45 centavos de dólar por galão, ou 20 centavos de real por litro [leia texto ao lado]. "Os subsídios aos biocombustíveis devem ser cuidadosamente revistos, principalmente nos países desenvolvidos", afirma o estudo.
Segundo o levantamento, a primeira geração de biocombustíveis promovida por essas políticas não é uma alternativa eficiente, seja do ponto de vista de custos, seja do ambiental. Além disso, "políticas menos ambiciosas e mais favoráveis ao comércio ajudariam a diminuir a pressão sobre o preço dos alimentos, via redução da competição com os alimentos por recursos e por terra para plantio."
Segundo o estudo, o aumento da produção do álcool à base de milho respondeu por cerca de 75% do aumento do consumo mundial do cereal em 2006 e 2007. O programa brasileiro não é citado -feito a partir da cana, o álcool brasileiro é considerado eficiente e não conta com subsídios governamentais.
Outra conclusão do estudo é que a alta do petróleo atinge mais duramente os países pobres. A escalada recente no produto, que teve o preço do barril triplicado para os atuais US$ 140 em menos de uma década, custou US$ 35,8 bilhões a 59 países de baixa renda -o que respondeu por 2,2% de seus PIBs em 2007. O Fundo admite que há espaço em alguns desses países para que as posições fiscais sejam afrouxadas, sem que a estabilidade econômica seja colocada em grande risco.
Em outros, será necessária a expansão dos programas sociais e a ajuda externa. O diretor-gerente disse que o FMI já dá auxílio financeiro adicional a sete países de baixa renda, mas ressaltou: "O Fundo não é uma agência de desenvolvimento. É preciso que outros também prestem auxílio".


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