São Paulo, quinta-feira, 02 de julho de 2009

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BNDES pune empresa acusada de "maquiar" equipamento chinês

Segundo o banco, fabricante Nardini vendeu máquina importada como nacional; empresa nega

SAMANTHA LIMA
DA SUCURSAL DO RIO
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL

A fabricante de máquinas Nardini, sediada em Americana (São Paulo), está impedida de recorrer ao BNDES. O banco decidiu descredenciá-la depois de ter constatado que a empresa importou máquinas da China e de Taiwan e as vendeu no mercado brasileiro como produto nacional.
A decisão foi tomada após inspeção na empresa feita por técnicos do banco. As investigações duraram cerca de seis meses, e começaram após denúncias recebidas pelo banco.
A Nardini era cadastrada na linha Finame, que financia a produção e a comercialização de máquinas e equipamentos, desde que realizadas integralmente no Brasil. Para se habilitar, a empresa deve se comprometer a adquirir, no Brasil, pelo menos 60% dos itens usados.
A empresa produz tornos, máquinas usadas por diversos segmentos da indústria -automobilística, naval, de aviação, entre outras- para a fabricação de peças específicas.
A Folha entrou em contato com a empresa, mas ninguém retornou a ligação. Ao jornal "Valor Econômico", o presidente da empresa, Renato Franchi, negou a acusação, alegando que, por ter cerca de mil funcionários, não precisaria recorrer a tal prática. E que as importações limitam-se a itens eletrônicos não fabricados no país, o que não comprometeria o limite imposto pelo BNDES.
Já o presidente do Sindicato de Metalúrgicos de Campinas e Região, Jair dos Santos, afirma que a mesma queixa que levou o BNDES a descredenciar a empresa já havia chegado a ele por meio dos trabalhadores.
"Ouvimos esses relatos desde o início de 2008. A Nardini é uma empresa com nome e representatividade e, por isso, tem uma boa participação de mercado. Não precisa dessa prática para sobreviver."
Segundo Santos, estão sendo importados tornos convencionais e furadeiras. Em suas contas, a Nardini emprega cerca de 700 pessoas, e não 1.000, como declarou a empresa.
A informação de que a Nardini, uma das principais associadas da Abimaq, foi flagrada maqueando equipamento chinês para vender no Brasil incomodou a associação. Sempre pronta a se pronunciar contra a invasão chinesa no mercado brasileiro, a Abimaq ontem preferiu o silêncio.
Numa nota curta, a entidade disse apenas que pretende conversar com as autoridades sobre o caso antes de qualquer pronunciamento. "Quanto ao caso Nardini, a Abimaq está conversando com os órgãos envolvidos e, neste momento, não irá se pronunciar", respondeu a um pedido da Folha.
O caso pode criar um embaraço para a associação. A Abimaq tem hoje a delegação do governo para emitir laudos usados na concessão ou não de benefícios fiscais para a importação de máquinas. A entidade informa ao governo sobre a existência ou não de um determinado tipo de máquina que tenha pedido de importação. Caso a mesma máquina seja produzida no Brasil, o governo pode negar a concessão de ex-tarifário. Em geral, os laudos da Abimaq são acatados pelo governo.


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