São Paulo, Sexta-feira, 02 de Julho de 1999
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QUAL É A MELHOR?
Brahma e Antarctica é algo como Corinthians e Palmeiras: cada um na sua; misturar, jamais
Disputa está no imaginário popular

LUIZ CAVERSAN
Diretor da Sucursal do Rio

O chope da Brahma é melhor que o da Antarctica, mas a cerveja desta é muito melhor que a daquela. Ou será o contrário?
Para os consumidores mais fanáticos da combinação dourada de cevada, lúpulo e água, Brahma e Antarctica é alguma coisa como Corinthians e Palmeiras, Flamengo e Fluminense, Grêmio e Internacional, Bahia e Vitória: cada um na sua, misturar jamais.
Claro que, assim como há gosto para São Paulo, Santos, Vasco ou Juventude, existe mercado para diversas outras marcas de cerveja, claras, escuras, "lights", importadas ou artesanais.
Mas o fato é que a rivalidade, o antagonismo entre as duas principais marcas brasileiras há décadas fazem parte do imaginário popular, a rigor desde que a propaganda começou a se massificar no país, a partir dos anos 50/60.
Tempos em que o pinguim e a faixa azul do rótulo da Antarctica já separavam adeptos da cervejaria paulista dos que preferiam o outro rótulo, aquele com a caneca espumante da popular Brahma Chopp.
A eterna disputa entre as duas marcas extrapolou, ao longo dos anos, o campo puramente "cervejístico". Faz parte do folclore do futebol, por meio de uma frase atribuída ao não menos folclórico Vicente Matheus, que nos anos 70 teria declarado, durante a comemoração de mais um título conquistado pelo seu Corinthians: "Quero agradecer à Antarctica pelas Brahmas que ela mandou aqui pra gente".
Já nos anos 90, quando a disputa publicitária entre as cervejas tomou ares de batalha campal -foi chamada mesmo de "guerra das cervejas"-, as agências responsáveis pela imagem de cada uma das marcas disputavam copo a copo o mercado nacional.
Tanto que "efeito Brahma-Antarctica" passou a ser jargão no meio empresarial e até mesmo no jornalístico, justamente para classificar concorrência acirrada, na qual uma ação sempre correspondia a uma reação semelhante, numa cadeia interminável de campanhas, filmes, outdoors, promoções e eventos.

Carnaval
Em 1992, a "guerra" chegou até o Carnaval do Rio. Naquele ano, a Antarctica resolveu enfrentar a hegemonia da Brahma, que mantinha um luxuoso camarote para recepcionar famosos no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. O camarote da Brahma até hoje é favorecido pelo fato de a fábrica carioca da cerveja encontrar-se colada ao Sambódromo.
Mas o que a Antarctica montou do outro lado da avenida do samba não fez feio e conquistou admiradores e, principalmente, a mídia. No ano seguinte, a "guerra" transferiu-se para o Carnaval de Salvador, e até hoje não se sabe quem ganhou a disputa dos camarotes no Rio. Durante anos e até ontem, cada marca puxou a serpentina para o seu lado. Com a fusão das cervejarias, a dúvida deve ser sepultada para sempre.


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