São Paulo, sexta-feira, 02 de agosto de 2002

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TRANSE LATINO

Protesto da esquerda ganha adesão da classe média; manifestantes invadem ao menos 16 lojas; 20 são presos

Uruguai enfrenta dia de saques e greves

DE BUENOS AIRES

A capital do Uruguai, Montevidéu, foi sacudida ontem por uma onda de manifestações, saques, depredações de prédios públicos e também por uma greve dos trabalhadores de transporte que se estendeu para outros setores.
Os protestos, os mais intensos em dez anos, foram comandados por grupos de esquerda, sindicalistas e desempregados. Com o prolongamento do feriado bancário decretado na última quarta-feira, também ganharam adesão de parte da classe média descontente pela impossibilidade de sacar recursos dos bancos.
No meio da tarde, 300 pessoas saquearam pelo menos 16 lojas e supermercados de Montevidéu, além de outras 14 tentativas de invasão contidas pela polícia. Houve enfrentamentos, e cerca de 20 pessoas foram presas.
Um saque já havia acontecido anteontem, quando o governo tentou minimizar a dimensão do descontentamento popular e o considerou "só um ato isolado".
Outra manifestação, diante do Congresso, reuniu milhares de pessoas. Dentro do prédio, o ministro Alejandro Atchugarry (Economia) deveria negociar com os parlamentares a aprovação de um plano de socorro para o sistema financeiro que prevê, entre outras medidas, a entrega de títulos públicos com prazos de resgate de dois anos aos correntistas de bancos quebrados.
Com os protestos -muito semelhantes aos que ocorreram na Argentina no final do ano passado e forçaram à renúncia do ex-presidente Fernando de la Rúa (1999-2001)-, a audiência do ministro foi adiada. O presidente Jorge Batlle convocou uma reunião de emergência e se encontraria, ontem à noite, com lideranças políticas e ex-presidentes.
O projeto do governo prevê que os bancos nacionais e saudáveis sejam assistidos por meio de um fundo que seria formado com os recursos que o país espera receber de organismos internacionais. Os bancos estrangeiros seriam obrigados a levar recursos para o país. O governo espera que o Senado aprove as medidas até segunda-feira, para, então, negociar a liberação de um pacote extra de US$ 1,5 bilhão do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Ontem, o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, que visitará o país na próxima semana, disse que "o Uruguai está dando passos firmes e difíceis para reconstruir o setor bancário". Por isso, os EUA apóiam "uma ajuda adicional ao país". O porta-voz do FMI, Thomas Dawson, disse que as negociações são "urgentes", mas considerou que falar em uma ajuda "iminente" do FMI seria "demasiado entusiasta". (JS)


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