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TRANSE LATINO
Protesto da esquerda ganha adesão da classe média; manifestantes invadem ao menos 16 lojas; 20 são presos
Uruguai enfrenta dia de saques e greves
DE BUENOS AIRES
A capital do Uruguai, Montevidéu, foi sacudida ontem por uma
onda de manifestações, saques,
depredações de prédios públicos
e também por uma greve dos trabalhadores de transporte que se
estendeu para outros setores.
Os protestos, os mais intensos
em dez anos, foram comandados
por grupos de esquerda, sindicalistas e desempregados. Com o
prolongamento do feriado bancário decretado na última quarta-feira, também ganharam adesão
de parte da classe média descontente pela impossibilidade de sacar recursos dos bancos.
No meio da tarde, 300 pessoas
saquearam pelo menos 16 lojas e
supermercados de Montevidéu,
além de outras 14 tentativas de invasão contidas pela polícia. Houve enfrentamentos, e cerca de 20
pessoas foram presas.
Um saque já havia acontecido
anteontem, quando o governo
tentou minimizar a dimensão do
descontentamento popular e o
considerou "só um ato isolado".
Outra manifestação, diante do
Congresso, reuniu milhares de
pessoas. Dentro do prédio, o ministro Alejandro Atchugarry
(Economia) deveria negociar
com os parlamentares a aprovação de um plano de socorro para
o sistema financeiro que prevê,
entre outras medidas, a entrega
de títulos públicos com prazos de
resgate de dois anos aos correntistas de bancos quebrados.
Com os protestos -muito semelhantes aos que ocorreram na
Argentina no final do ano passado e forçaram à renúncia do ex-presidente Fernando de la Rúa
(1999-2001)-, a audiência do ministro foi adiada. O presidente
Jorge Batlle convocou uma reunião de emergência e se encontraria, ontem à noite, com lideranças
políticas e ex-presidentes.
O projeto do governo prevê que
os bancos nacionais e saudáveis
sejam assistidos por meio de um
fundo que seria formado com os
recursos que o país espera receber
de organismos internacionais. Os
bancos estrangeiros seriam obrigados a levar recursos para o país.
O governo espera que o Senado
aprove as medidas até segunda-feira, para, então, negociar a liberação de um pacote extra de US$
1,5 bilhão do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Ontem, o secretário do Tesouro
dos EUA, Paul O'Neill, que visitará o país na próxima semana, disse que "o Uruguai está dando passos firmes e difíceis para reconstruir o setor bancário". Por isso,
os EUA apóiam "uma ajuda adicional ao país". O porta-voz do
FMI, Thomas Dawson, disse que
as negociações são "urgentes",
mas considerou que falar em uma
ajuda "iminente" do FMI seria
"demasiado entusiasta".
(JS)
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