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INVESTIMENTOS
Valores não retirados por acionistas viram receita extra de companhias; só na Petrobras, foram R$ 39 milhões desde 97
Empresas lucram com dividendos "esquecidos"
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Milhares de acionistas dão todos os anos uma receita extra às
empresas de capital aberto. Ao
não reclamarem os dividendos a
que têm direito, acionistas permitem, muitas vezes sem saber, que
milhões de reais retornem ao patrimônio das companhias.
Os dividendos são uma parcela
do lucro distribuída periodicamente aos acionistas. Pela lei,
quando um acionista não é encontrado ou não vai buscar seus
dividendos, esses recursos ficam
em uma conta não-remunerada
por três anos. Passado o período,
o dinheiro é incorporado ao patrimônio da companhia ou instituição financeira de capital aberto.
A Petrobras, que distribuiu cerca de R$ 20 bilhões em dividendos
nos últimos dez anos, têm uma
extensa lista de acionistas com endereço inválido. Além disso, há
também um montante de 4,38
milhões de ações ao portador responsáveis por um expressivo volume de dividendos prescritos da
empresa todos os anos.
De 1997 para cá, a Petrobras viu
prescreverem R$ 38,6 milhões em
dividendos (relativos a exercícios
de 1994 a 2001). Ou seja, houve
nesse período R$ 38,6 milhões
que a petrolífera não conseguiu
entregar a acionistas, valor que foi
reincorporado a seu patrimônio.
Esse montante que prescreveu é
relativo às ações ao portador, que
a empresa nem sabe na mão de
quem estão. Quem detém um papel desses pode reclamar seus direitos, mesmo que o tenha encontrado na rua. Somente em 2003, a
empresa computou R$ 10 milhões
em dividendos prescritos.
"Estamos fazendo um trabalho
para tentar localizar os investidores. Além dos detentores de ações
ao portador, há também 30% dos
cerca de 120 mil acionistas nominativos com quem não conseguimos entrar em contato devido à
incoerência de endereço", afirma
Paulo Maurício Tinoco de Campos, gerente de Investidor Individual da Petrobras.
A lista de acionistas com endereço inválido constatada pelo
Unibanco também é extensa. São
perto de 100 mil nessa situação.
"Acredito que haja uma parcela
de acionistas que não buscam os
dividendos por acharem que não
compensa. Por terem poucos papéis, o retorno dos dividendos talvez seja até menor que o custo de
ir buscá-los", diz Marcelo Rosenhek, diretor-adjunto de relações
com investidores do Unibanco.
Esses investidores do Unibanco,
que por um motivo ou outro não
buscam os seus dividendos, são
responsáveis por um montante
estimado em algo entre R$ 5 milhões e R$ 10 milhões que prescrevem a cada três anos.
No caso do Banco do Brasil, são
cerca de 80 mil acionistas com inconsistências de endereço. Somente no ano passado, prescreveu R$ 1,129 milhão advindo de
acionistas do banco que não reclamaram os dividendos ou não
foram encontrados.
Desinformação
A falta de informação de muitos
acionistas é um dos principais
problemas enfrentados pelas empresas de capital aberto. Muita
gente nem sabe que detém ações
ou o que elas representam.
Um bom exemplo são as ações
das empresas de telefonia. No
passado, quem comprava uma linha de telefone recebia determinado número de ações da empresa. Isso acabou, veio a privatização, mas ainda hoje muita gente
possui esses papéis sem ter informações sobre eles.
Para Victor Taveira, sócio da
empresa Suas Ações, "as companhias de capital aberto deveriam
ser obrigadas a divulgar os dividendos prescritos". "Acredito que
muitas empresas têm interesse
em que os dividendos não sejam
reclamados", afirma Taveira.
Associada à São Paulo Corretora, a Suas Ações presta serviços de
auxílio na busca de acionistas.
"Muitas pessoas nos procuram
trazendo ações de empresas que
já nem existem mais", conta.
Para Gregório Mancebo, vice-presidente da Animec (Associação Nacional dos Investidores em
Mercado de Capitais), os dividendos esquecidos são um grande
problema a ser enfrentado. "Estamos conversando com a CVM
[Comissão de Valores Mobiliários] para tentar encontrar uma
solução para isso. Os minoritários, ao receberem corretamente
os dividendos destinados a eles,
poderiam reinvesti-los no próprio mercado de capitais", diz.
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