São Paulo, terça-feira, 02 de agosto de 2005

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"RISCO-MENSALÃO"
Juros e superávit altos garantem blindagem, diz ex-BC em debate sobre turbulência com Delfim, Belluzzo e Guardia

"A ganância venceu o medo", afirma Eris

FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

"A ganância venceu o medo." A frase, do ex-presidente do Banco Central Ibrahim Eris (1990-91), virou praticamente um consenso entre um grupo de economistas que discutiu ontem em São Paulo os impactos da atual crise política sobre a economia.
A consideração geral é que seria difícil blindar ainda mais o país neste momento de juros e superávits primários (economia para pagar juros) elevados. A crise, porém, pode tornar inviável uma redução mais rápida dos juros.
Na comparação com outros emergentes, a turbulência também vai deixando o Brasil para trás. Há ainda um risco imponderável de a política causar estragos na economia, sobretudo se provas de corrupção atingirem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
""Entre o medo e a ganância, venceu a ganância e a expectativa de ganhos elevados no Brasil. O estopim de uma crise maior só poderia vir de uma crise externa ou de um descontrole do déficit público. Nos dois quesitos, a performance atual é excepcional", afirmou Eris.
O economista lembrou, no entanto, que, enquanto a Bolsa brasileira praticamente não teve valorização nos últimos dois meses (a Bovespa subiu só 1,35% no período), a alta média nos mercados emergentes foi de 15%.
Além do ex-presidente do BC, participaram do seminário, promovido pela InterNews, o economista e deputado Antonio Delfim Netto (PP-SP), Luiz Gonzaga Belluzzo (Unicamp), Eduardo Guardia, secretário da Fazenda de São Paulo, e o cientista político Paulo Kramer.
Para Delfim, o mercado está ""sabendo separar a parte econômica da política". Ele também não vislumbra nenhuma mudança de rumo na política econômica, muito menos uma guinada populista ao estilo do venezuelano Hugo Chávez.
""Lula é um sujeito abençoado, pois nunca ouviu falar em Karl Marx. O único risco é ele ser um católico fervoroso", ironizou.
Delfim comparou o ministro Antonio Palocci (Fazenda) ""a um pau que segura o circo" e voltou a defender sua proposta de zerar o déficit nominal do país ao longo dos próximos anos como alternativa para reduzir a taxa de juros.
Belluzzo disse concordar com a análise de Eris, mas ressaltou que o combate à inflação vem sendo feito via valorização do real, o que poderá comprometer as exportações mais à frente.
Apesar das reclamações sobre o câmbio, o Brasil bateu em julho um recorde histórico de US$ 11,06 bilhões em exportações.
Tanto Belluzzo quanto Delfim defenderam a adoção, pelo BC, de medidas pontuais para controlar o fluxo de capitais de curto prazo como forma de reduzir a volatilidade na taxa de câmbio.
Para Eduardo Guardia, os dados da arrecadação tributária do Estado demonstram, ""até agora", que há uma desaceleração provocada pelo desaquecimento econômico. ""É difícil prever os impactos da turbulência política, já que a economia está mais capacitada para responder à crise", disse.
Para Eris, uma das conseqüências do período atual é que a eleição de 2006, que não interessava, voltou a ser um ponto importante no radar do mercado financeiro. "Se reeleito, Lula deve voltar ao poder com a esquerda do PT."

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