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"RISCO-MENSALÃO"
Juros e superávit altos garantem blindagem, diz ex-BC em debate sobre turbulência com Delfim, Belluzzo e Guardia
"A ganância venceu o medo", afirma Eris
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
"A ganância venceu o medo." A
frase, do ex-presidente do Banco
Central Ibrahim Eris (1990-91), virou praticamente um consenso
entre um grupo de economistas
que discutiu ontem em São Paulo
os impactos da atual crise política
sobre a economia.
A consideração geral é que seria
difícil blindar ainda mais o país
neste momento de juros e superávits primários (economia para
pagar juros) elevados. A crise, porém, pode tornar inviável uma redução mais rápida dos juros.
Na comparação com outros
emergentes, a turbulência também vai deixando o Brasil para
trás. Há ainda um risco imponderável de a política causar estragos
na economia, sobretudo se provas
de corrupção atingirem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
""Entre o medo e a ganância,
venceu a ganância e a expectativa
de ganhos elevados no Brasil. O
estopim de uma crise maior só
poderia vir de uma crise externa
ou de um descontrole do déficit
público. Nos dois quesitos, a performance atual é excepcional",
afirmou Eris.
O economista lembrou, no entanto, que, enquanto a Bolsa brasileira praticamente não teve valorização nos últimos dois meses
(a Bovespa subiu só 1,35% no período), a alta média nos mercados
emergentes foi de 15%.
Além do ex-presidente do BC,
participaram do seminário, promovido pela InterNews, o economista e deputado Antonio Delfim
Netto (PP-SP), Luiz Gonzaga Belluzzo (Unicamp), Eduardo Guardia, secretário da Fazenda de São
Paulo, e o cientista político Paulo
Kramer.
Para Delfim, o mercado está
""sabendo separar a parte econômica da política". Ele também
não vislumbra nenhuma mudança de rumo na política econômica, muito menos uma guinada
populista ao estilo do venezuelano Hugo Chávez.
""Lula é um sujeito abençoado,
pois nunca ouviu falar em Karl
Marx. O único risco é ele ser um
católico fervoroso", ironizou.
Delfim comparou o ministro
Antonio Palocci (Fazenda) ""a um
pau que segura o circo" e voltou a
defender sua proposta de zerar o
déficit nominal do país ao longo
dos próximos anos como alternativa para reduzir a taxa de juros.
Belluzzo disse concordar com a
análise de Eris, mas ressaltou que
o combate à inflação vem sendo
feito via valorização do real, o que
poderá comprometer as exportações mais à frente.
Apesar das reclamações sobre o
câmbio, o Brasil bateu em julho
um recorde histórico de US$ 11,06
bilhões em exportações.
Tanto Belluzzo quanto Delfim
defenderam a adoção, pelo BC, de
medidas pontuais para controlar
o fluxo de capitais de curto prazo
como forma de reduzir a volatilidade na taxa de câmbio.
Para Eduardo Guardia, os dados da arrecadação tributária do
Estado demonstram, ""até agora",
que há uma desaceleração provocada pelo desaquecimento econômico. ""É difícil prever os impactos da turbulência política, já que
a economia está mais capacitada
para responder à crise", disse.
Para Eris, uma das conseqüências do período atual é que a eleição de 2006, que não interessava,
voltou a ser um ponto importante
no radar do mercado financeiro.
"Se reeleito, Lula deve voltar ao
poder com a esquerda do PT."
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