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Meirelles já flerta com vários partidos
Presidente do Banco Central estuda alternativas para lançar-se candidato nas eleições de 2010 e consulta marqueteiros
Governo vê movimento com desconfiança e curiosidade; até possibilidade, remota, de ser vice na chapa de Dilma Rousseff é cogitada
MARCIO AITH
DA REPORTAGEM LOCAL
Até ser convidado para a presidência do Banco Central pelo
senador Aloizio Mercadante,
em 2002, numa recepção na
embaixada brasileira em Wa-
shington, Henrique Meirelles
era apenas um azarão.
Só foi chamado porque outros três banqueiros haviam
declinado do convite, crentes
no desastre econômico do governo petista que se iniciaria.
Meirelles também não tinha
vínculo com petistas: era deputado eleito pelo PSDB. Pior. Ex-presidente do BankBoston,
simbolizava o que a esquerda
via como uma doença: o sistema financeiro internacional.
Meirelles, no entanto, sobreviveu, contra todos os prognósticos, exceto o dele. Driblou o
fogo amigo do PT, a picardia
dos analistas econômicos e
duas denúncias graves -foi investigado por sonegação fiscal e
um sobrinho dele foi pego no
aeroporto de Congonhas, em
São Paulo, com uma mala contendo dinheiro vivo do tio.
Apresenta-se agora como o
fiador de avanços econômicos
substanciais. Na sua gestão, as
reservas brasileiras pularam de
US$ 14 bilhões para US$ 210 bilhões; a inflação anualizada
(IPCA) caiu de 28,3% para
4,4%; e a Selic anual despencou
de 25% para 8,75%, o patamar
mais baixo da história.
Mexe-mexe
Com tais realizações, que
acredita serem em grande parte suas, Meirelles forjou até
uma relação mais próxima com
Lula. Ambos conversam sobre
política e economia com certa
frequência e informalidade.
Até tiveram uma noite de mexe-mexe, o jogo de cartas preferido do presidente, que requer
dois baralhos, sem os curingas.
Tudo indica que agora, após
seis anos e meio no cargo, Meirelles vai candidatar-se a um
cargo eletivo em 2010. Para isso, terá de escolher uma legenda até o fim de setembro, um
ano antes do pleito, prazo de filiação partidária para os potenciais candidatos a presidente,
vice-presidente, senador e deputado federal.
Refiliando-se, Meirelles poderá ficar no BC até abril do ano
que vem. Só então, caso realmente decida candidatar-se,
terá de se desincompatibilizar
da presidência do BC.
A Folha conversou sobre os
planos dele com funcionários
do BC, integrantes do governo
e de partidos com os quais negocia a filiação (PMDB, PR,
PTB E PP). Dessas conversas,
surge um leque de opções que
inclui a candidatura à Vice-Presidência, ao Senado e ao governo de Goiás. Meirelles não
quis comentar o assunto.
Assim que se refiliar a um
partido, Meirelles sabe que será criticado por nutrir justamente aquilo que enxergava
em seus adversários -o desejo
de politizar o Banco Central e a
política monetária.
Sua filiação colocará em suspeição gestões feitas por ele
próprio a favor da autonomia
do BC. Afinal, essa autonomia
deveria valer não só para blindar o banco contra ingerências
políticas externas, mas também contra ambições internas.
Mas ele está disposto a enfrentar essas críticas. Argumenta que vai preservar a independência técnica da política
monetária porque sabe que nela está seu ativo eleitoral. Por
esse motivo, não se sente moralmente obrigado a deixar o
cargo com a simples filiação.
O presidente do BC vê a escolha de um partido como um
contrato de opção no mercado
futuro. Ao decidir-se por um
partido, diz a assessores, apenas adquire um ingresso para
entrar no jogo eleitoral. Caso
contrário, fecha a porta da política, algo não compatível com
sua ambição e missão pública.
O PMDB parece ser seu partido preferido porque permite
voos maiores do que a candidatura ao Senado por Goiás.
Maior legenda da base aliada,
o partido provavelmente definirá o nome do companheiro
de chapa da ministra Dilma.
Ainda que seja um balaio de gatos, repleto de cardeais com
projetos próprios, o PMDB seria suficientemente pragmático para enxergar em Meirelles
uma âncora de credibilidade.
Isso, é claro, segundo marqueteiros, para os quais já existiriam pesquisas qualitativas
indicando ser possível associar
um nome como o de Meirelles
à estabilidade econômica
-principalmente se Lula der
uma "ajudazinha" retórica.
À direita e à esquerda
O governo vê a movimentação de Meirelles com um misto
de desconfiança e curiosidade.
A maioria a desaprova. Alguns, no entanto, dizem que a
chapa Dilma/Meirelles pode
atrair doadores de peso, além
de permitir ao PT combater a
provável candidatura do governador José Serra tanto pela esquerda, com Dilma, quanto pela direita, com o banqueiro.
A segunda opção de Meirel-
les é a candidatura ao governo
de Goiás, o que também não é
trivial. Depende do apoio do
prefeito de Goiânia, Íris Rezende (PMDB), possível candidato
ao mesmo cargo. Rezende tem
confundido o presidente do BC
com declarações dúbias sobre
as suas intenções políticas.
Meirelles pode optar por um
partido menor. Ele mantém canal aberto com o PP, com o PR e
com o PTB. Por esses partidos,
poderia, em tese, disputar o
próprio governo contra Íris Rezende. Mas Meirelles prefere
ganhar o apoio do prefeito.
E a Presidência da República? Meirelles já pensou muito
mais nessa hipótese do que hoje. Há alguns anos, ouviu até a
opinião de marqueteiros de peso -um português, outro americano, ambos cientificamente
entusiastas do projeto.
Mas seu objetivo de curto
prazo é bem mais prosaico. Ele
ainda não tem um partido.
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