São Paulo, domingo, 02 de agosto de 2009

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Detroits CHINESAS

Indústria automobilística é considerada estratégica pelo governo, que incentiva venda de carros menores e pesquisa de energias limpas

Com 150 montadoras em atividade, China já ultrapassa os EUA em vendas de veículos e aproveita a crise para crescer


Qilai Shen - 26.mar.08/ Bloomberg News
Operário em fábrica da Geely em Ningbo, na China; venda de veículos cresceu 36% em junho, e projeção é fechar o ano com 11 milhões

RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI

A montadora chinesa Beijing Auto fez uma oferta para comprar a Opel, da GM, já rejeitada. A Ford quer vender a Volvo para outra chinesa, a Geely. A GM queria negociar a Saab com a Chery.
A Chrysler quer vender a Jeep para a Geely, e Warren Buffett, o segundo homem mais rico do mundo, virou sócio da montadora BYD.
A Renault assinou parceria com a Great Wall para produzir carros na Venezuela, e a Chery deve abrir uma fábrica no Brasil até 2011. Os primeiros carros da montadora começam a ser vendidos neste mês no país.
Nunca ouviu falar de Geely, BYD, Saic, Chery ou Great Wall? Pois as desconhecidas marcas chinesas se tornaram a salvação de muitas montadoras em crise por terem dinheiro suficiente em caixa e potencial de crescimento hoje considerado único no mundo.
Em 2009, deverão ser vendidos 11 milhões de veículos na China, ante 9 milhões nos Estados Unidos.
Apenas em junho, o crescimento foi de 36% no gigante asiático (entre carros de passeio foi de 48% ante junho de 2008). E as cifras não devem parar de crescer: as projeções do mercado falam em 18 milhões de veículos vendidos no ano de 2015 e em 32 milhões em 2025.
O potencial é enorme. Pequim e Xangai, juntas, totalizando 32 milhões de habitantes, têm 4,5 milhões de carros, menos que os 6 milhões de São Paulo. Há 9 veículos por 1.000 habitantes, enquanto a média mundial é de 38 por 1.000.

Bicicletas
Os chineses começaram a trocar as bicicletas pelos carros a partir de 2000, quando a venda de veículos de passeio foi estimulada pelo governo. De 2000 a 2007, o crescimento foi de 20% ao ano.
Há 150 montadoras no país, mas 20 delas concentram 95% do mercado. O governo chinês considera a indústria estratégica e quer, no futuro próximo, ter pelo menos dez grandes marcas de porte global.
Boa parte delas é estatal e tem privilégios na obtenção de empréstimos dos grandes bancos, também estatais, chineses. Toda montadora estrangeira é obrigada a se associar a uma local para se instalar no país.
Essas joint ventures muitas vezes acabam com acusações de espionagem e roubo de tecnologia e design pelas empresas chinesas. A GM, por exemplo, tentou processar a Chery por imitar um modelo seu, mas a Justiça chinesa não aceitou a causa da norte-americana.
A China não tem uma "Detroit" (polo de fabricação de veículos nos EUA), mas diversas "Detroits" espalhadas. Os principais núcleos estão nas regiões metropolitanas das cidades de Xangai, Shenzhen, Changchun e Chongqing.
Mas, para estar à altura de suas ambições globais e competir com Detroit, Seul e Tóquio, as montadoras chinesas ainda terão que crescer em inovação (boa parte dos modelos é cópia de sucessos internacionais), em segurança (o que impede hoje exportações para a Europa para os EUA) e tecnologia.

Pequenos e elétricos
A indústria automobilística foi das mais beneficiadas pelo pacote de incentivo econômico lançado no ano passado pelo governo chinês e dá pistas de que tipo de carro será estimulado.
Até 2011, há um orçamento de quase US$ 10 bilhões para que o governo chinês, do federal às prefeituras, renove sua frota. A prioridade é para as marcas nacionais e carros que usem energias alternativas -com exceção do Audi A6 ou do Buick, os preferidos dos mandachuvas do partido, que desfilam com eles por todos os lados, sem temer multas.
O imposto de compra foi reduzido de 10% a 5% para carros com motor abaixo de 1,6 cilindrada. Há US$ 700 milhões em subsídios para agricultores comprarem tratores e minivans e US$ 220 milhões para pesquisa tecnológica em energias alternativas.
O governo planeja que em 2011 mais de 500 mil unidades de carros elétricos, "plug-in", híbridos e outros com combustíveis alternativos sejam vendidos, ou 5% de todos os veículos de passageiros. Tanto os carros menores quanto o apoio às novas energias têm o mesmo objetivo: diminuir a crescente dependência chinesa da importação de petróleo.
Apesar de ser o quinto maior produtor do mundo, a China dobrará a importação de petróleo em 2015, segundo a Agência Internacional de Energia.


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