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RECEITA ORTODOXA
Raul Velloso diz que modelo "acabou" e propõe metas para a relação dívida/PIB; Delfim quer mais cortes de gastos
Economistas questionam superávit primário
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dois economistas proclamaram ontem o esgotamento do
modelo de metas para o superávit
primário, pelo qual o governo fixa, desde 1999, um patamar mínimo anual para a parcela da arrecadação destinada ao abatimento
da dívida pública.
Para o deputado Delfim Netto
(de mudança do PP para o
PMDB-SP), o superávit primário
"é um grande truque para contornar a necessidade de um equilíbrio rigoroso". O especialista em
contas públicas Raul Velloso foi,
assumidamente, dramático: "O
superávit primário acabou".
Nenhuma das opiniões é exatamente nova, mas, apresentadas
em seqüência na edição especial
do Fórum Nacional, coordenado
pelo ex-ministro João Paulo dos
Reis Velloso (Planejamento), tornaram explícito o fim do consenso dos ortodoxos em torno da política fiscal. Pelo diagnóstico de
ambos, a política de metas de superávit primário não foi e não será capaz de cumprir seu principal
objetivo: dar segurança aos investidores de que o equilíbrio das
contas públicas será atingido e,
assim, propiciar a queda dos juros. As receitas propostas são diferentes, mas têm em comum a
necessidade de aprofundar o arrocho da despesa pública -em
outras palavras, do gasto social.
"Só existe uma saída para o Brasil: cortar despesas", disse Delfim,
que repetiu uma de suas frases de
efeito favoritas: "O Estado brasileiro não cabe no PIB brasileiro".
A proposta do ex-todo-poderoso comandante da economia no
regime militar é substituir a meta
de superávit primário por uma
meta de eliminar gradualmente o
déficit nominal, que inclui os gastos com juros. É na conta financeira, argumenta, que se esconde
o desequilíbrio orçamentário.
Já Velloso defende metas para a
redução da relação entre a dívida
pública e o PIB, hoje de 51,3%.
Sempre que a dívida saísse da trajetória estabelecida, seria disparado um "gatilho" para a elevação
do superávit primário até o cumprimento das metas.
Exaustão
Para ele, os superávits, mesmo
crescentes nos últimos anos, foram incapazes de garantir a redução da dívida porque crises de diferentes causas elevaram as cotações do dólar e os juros. "O superávit está alto, os políticos reclamam e os juros não caem", diz.
E, pior, Velloso acredita que a
estratégia de elevar os superávits
de forma "envergonhada" a cada
ano está se exaurindo, porque a
sociedade não aceitará mais aumentos da carga tributária e queda dos investimentos públicos. A
única saída seria cortar as despesas constitucionalmente obrigatórias -em bom português, Previdência, saúde, educação e assistência social.
O ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), que já havia deixado o fórum quando Delfim e Velloso atacaram o superávit primário, defende a permanência da política atual, mas apóia o debate sobre a flexibilização do Orçamento, que arrepia o meio político e o
PT em particular. Em defesa da
eficácia das metas de superávit
primário, Palocci aponta a redução da dívida pública, que estava
em 55,5% do PIB no início do governo Lula. Essa queda, porém,
foi favorecida pela ausência de
maiores turbulências financeiras
no período.
(GUSTAVO PATU, LUCIANA CONSTANTINO e SILVANA DE FREITAS)
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