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ANÁLISE
Negociação pode avançar com nova liderança
PHILIPPE LEGRAIN
PARA O "FINANCIAL TIMES"
Desde ontem, as perspectivas pouco favoráveis quanto
a um comércio mundial mais livre passaram a depender de um
socialista francês. Com o impasse
na rodada Doha da OMC (Organização Mundial de Comércio) e
restando pouco tempo para um
acordo, o novo comandante da
OMC, Pascal Lamy, enfrenta um
desafio intimidador.
A menos que o antigo comissário de Comércio da União Européia consiga romper o impasse, as
esperanças de um desfecho favorável para Doha se esvairão. Isso
representaria um desastre para a
economia mundial e para os países em desenvolvimento.
Os augúrios não são favoráveis.
Os ganhos que o comércio mais livre propiciaria aos países pobres
são imensamente superiores aos
que uma ampliação da assistência
internacional ou o perdão de dívidas propiciariam.
Mas, na conferência de cúpula
do G8 (Grupo dos 8) em Gleneagles, em julho, os líderes nem
mesmo conseguiram definir uma
data para eliminar os subsídios
dos países ricos à exportação de
produtos agrícolas.
O G20 (grupo de 20 países em
desenvolvimento exportadores
de produtos agrícolas) exige grandes cortes nos subsídios e tarifas
empregados pelos países ricos,
mas a UE e os EUA estão alongando o processo, discutindo detalhe
por detalhe.
Os países em desenvolvimento
se recusam a oferecer grandes
cortes em suas tarifas de importação de bens industrializados. As
ofertas de abertura dos mercados
de serviços à competição internacional são escassas. A falta de progresso se deve em parte à adoção
de blefes e táticas de pressão.
Mas o tempo está se esgotando.
A menos que Lamy seja capaz de
um passe de mágica quando os
negociadores voltarem a se encontrar no final deste mês, Hong
Kong será uma repetição do fiasco de Cancún, dois anos atrás.
Os otimistas argumentam que o
sucesso do presidente George W.
Bush em convencer o Congresso
recalcitrante a aprovar o Cafta-DR (Acordo de Livre Comércio
da América Central e República
Dominicana) é um bom presságio
para as negociações da OMC.
Talvez. O mais provável é que o
Cafta-DR coloque em destaque os
limites daquilo que o governo dos
EUA pode esperar em termos de
realizações comerciais.
E mesmo que os países do Cafta-DR sejam pequenos a ponto de
representar ameaça limitada aos
agricultores e industriais dos Estados Unidos, o Cafta-DR foi
aprovado por maioria de apenas
dois votos na Câmara. Que chance haveria, portanto, de o governo
procurar um acordo ambicioso
na rodada Doha, que poderia levar a competição ainda mais acirrada com a China?
Muitos europeus temem que a
globalização represente ameaça
ao seu estilo de vida confortável.
Perderam a confiança nas elites
políticas, mas não estão convencidos de que as reformas econômicas possam ser combinadas à justiça e segurança social.
Se o objetivo é o sucesso na rodada Doha, será preciso mais que
um acordo mercantilista barganhado entre grupos de interesses
como os agricultores brasileiros,
os industriais chineses, as seguradoras européias e o varejo dos Estados Unidos. Os líderes políticos
também têm de persuadir os eleitores de que a globalização é
oportunidade, que as florescentes
e baratas exportações chinesas
são vantajosas para todos os envolvidos e que o livre comércio
não é um despenhadeiro, mas
uma escada aberta a todos.
Lamy deveria servir como
exemplo, se deseja liderar. Ainda
que tenha poucos poderes formais, esse veterano aliado dos fazendeiros franceses poderia provar que os céticos estão enganados e se tornar um vigoroso defensor do livre comércio.
O autor foi assessor especial do diretor
geral da OMC Mike Moore e escreveu
"Open World: The Truth About Globalization" [Mundo Aberto: A Verdade Sobre a
Globalização]
Tradução de Paulo Migliacci
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