São Paulo, sábado, 02 de setembro de 2006

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CVM se envolve em suspeita de vazamento

Considerada "xerife" do mercado, comissão apura suposta abertura de informações por parte de sua direção sobre operação da Telemar

Episódio leva a afastamento de diretor da autarquia; órgão regulador e empresa de telefonia não se manifestam sobre o caso


JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) enfrenta suspeita de vazamento de informações relativas à proposta de reestruturação da maior operadora de telefonia fixa do país, a Telemar. O caso está sob investigação e resultou no afastamento, temporário e voluntário, do diretor da CVM Sérgio Weguelin.
O episódio é motivo de constrangimento, pois a CVM é o órgão público responsável por fiscalizar o mercado financeiro.
Segundo a Folha apurou, o governo não descarta a hipótese de, na próxima semana, realizar substituições na autarquia. Tudo dependerá de como prosseguirão as apurações do suposto vazamento.
A notícia influenciou o comportamento dos investidores. Ontem, as ações ON (com direito a voto) da Telemar dispararam na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). A alta registrada foi de 5,75%.
Procuradas, CVM e Telemar preferiram manter silêncio sobre o assunto. Afirmaram que só irão se manifestar quanto ao suposto vazamento quando houver algum resultado colhido pelas investigações.

E-mail
Para entender o motivo do afastamento de Sérgio Weguelin da diretoria da CVM, é preciso lembrar que a Telemar pretende fazer uma reestruturação societária. Atualmente nas mãos de um bloco (que inclui capital público), a operadora quer pulverizar suas ações.
A operação é vista com bons olhos pelo mercado, mas acabou dificultada por um parecer da CVM tornado público em 21 de agosto. Naquele dia, as ações da Telemar caíram 18,9%.
Em boa medida a queda no valor dos papéis decorreu de operações fechadas entre 17 e 18 de agosto.
O problema é que, também no dia 17, Weguelin trocou e-mails com um investidor estrangeiro preocupado com a reestruturação da Telemar. Em uma das mensagens, o diretor informou que a CVM estudava divulgar um parecer sobre o assunto, para orientar a operação. Não disse, porém, quando isso aconteceria nem o conteúdo do texto.
Segundo a CVM, o investidor que recebeu a mensagem de Weguelin não foi o mesmo que fez as operações que derrubaram o valor dos papéis da Telemar. A hipótese de que a informação fornecida por Weguelin tenha vazado, no entanto, não pôde ser descartada.
O presidente da CVM, Marcelo Trindade, divulgou nota explicando o ocorrido e manifestando confiança no colega.

Assembléia
A Telemar opera nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. É controlada por um um grupo que conta com governo (via BNDESPar), fundos de pensão ligados a estatais e subsidiárias do Banco do Brasil, além de sócios privados.
A equipe jurídica da operadora trabalha para enviar até a próxima quarta-feira um pedido de esclarecimento à Comissão de Valores Mobiliários.
A intenção é fazer com que a autarquia deixe "claros e transparentes" os passos para convocação e condução da assembléia de acionistas que decidirá se a reestruturação sai do papel. No fim outubro, acreditam os executivos da Telemar, ela terá acontecido.
Em entrevista concedida à Folha, antes de a suspeita de vazamento da CVM tornar-se pública, o presidente da operadora, Luiz Eduardo Falco, defendeu a reestruturação.
Questionado se a pulverização poderia acabar com arranhões na imagem da empresa, como na compra da Gamecorp (empresa do filho do presidente da República comprada por R$ 5 milhões um mês após a criação), Falco assentiu.
"A empresa pulverizada poderia fazer essa operação - e faria, pois o negócio era bom - sem sofrer com as acusações políticas", disse.
Para Falco, a operação traz ganhos estratégicos, como a possibilidade de comprar outras teles sem colocar dinheiro vivo na transação. O mercado, aparentemente, segue raciocínio semelhante - as ações ON da BrT foram as mais valorizadas na Bovespa ontem, com alta de 8,35%.


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