|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CVM se envolve em suspeita de vazamento
Considerada "xerife" do mercado, comissão apura suposta abertura de informações por parte de sua direção sobre operação da Telemar
Episódio leva a afastamento de diretor da autarquia; órgão regulador e empresa de telefonia não se manifestam sobre o caso
JANAÍNA LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) enfrenta suspeita
de vazamento de informações
relativas à proposta de reestruturação da maior operadora de
telefonia fixa do país, a Telemar. O caso está sob investigação e resultou no afastamento,
temporário e voluntário, do diretor da CVM Sérgio Weguelin.
O episódio é motivo de constrangimento, pois a CVM é o
órgão público responsável por
fiscalizar o mercado financeiro.
Segundo a Folha apurou, o governo não descarta a hipótese
de, na próxima semana, realizar substituições na autarquia.
Tudo dependerá de como prosseguirão as apurações do suposto vazamento.
A notícia influenciou o comportamento dos investidores.
Ontem, as ações ON (com direito a voto) da Telemar dispararam na Bovespa (Bolsa de
Valores de São Paulo). A alta
registrada foi de 5,75%.
Procuradas, CVM e Telemar
preferiram manter silêncio sobre o assunto. Afirmaram que
só irão se manifestar quanto ao
suposto vazamento quando
houver algum resultado colhido pelas investigações.
E-mail
Para entender o motivo do
afastamento de Sérgio Weguelin da diretoria da CVM, é preciso lembrar que a Telemar
pretende fazer uma reestruturação societária. Atualmente
nas mãos de um bloco (que inclui capital público), a operadora quer pulverizar suas ações.
A operação é vista com bons
olhos pelo mercado, mas acabou dificultada por um parecer
da CVM tornado público em 21
de agosto. Naquele dia, as ações
da Telemar caíram 18,9%.
Em boa medida a queda no
valor dos papéis decorreu de
operações fechadas entre 17 e
18 de agosto.
O problema é que, também
no dia 17, Weguelin trocou e-mails com um investidor estrangeiro preocupado com a
reestruturação da Telemar. Em
uma das mensagens, o diretor
informou que a CVM estudava
divulgar um parecer sobre o assunto, para orientar a operação. Não disse, porém, quando
isso aconteceria nem o conteúdo do texto.
Segundo a CVM, o investidor
que recebeu a mensagem de
Weguelin não foi o mesmo que
fez as operações que derrubaram o valor dos papéis da Telemar. A hipótese de que a informação fornecida por Weguelin
tenha vazado, no entanto, não
pôde ser descartada.
O presidente da CVM, Marcelo Trindade, divulgou nota
explicando o ocorrido e manifestando confiança no colega.
Assembléia
A Telemar opera nas regiões
Norte, Nordeste e Sudeste. É
controlada por um um grupo
que conta com governo (via
BNDESPar), fundos de pensão
ligados a estatais e subsidiárias
do Banco do Brasil, além de sócios privados.
A equipe jurídica da operadora trabalha para enviar até a
próxima quarta-feira um pedido de esclarecimento à Comissão de Valores Mobiliários.
A intenção é fazer com que a
autarquia deixe "claros e transparentes" os passos para convocação e condução da assembléia de acionistas que decidirá
se a reestruturação sai do papel. No fim outubro, acreditam
os executivos da Telemar, ela
terá acontecido.
Em entrevista concedida à
Folha, antes de a suspeita de
vazamento da CVM tornar-se
pública, o presidente da operadora, Luiz Eduardo Falco, defendeu a reestruturação.
Questionado se a pulverização poderia acabar com arranhões na imagem da empresa,
como na compra da Gamecorp
(empresa do filho do presidente da República comprada por
R$ 5 milhões um mês após a
criação), Falco assentiu.
"A empresa pulverizada poderia fazer essa operação - e
faria, pois o negócio era bom -
sem sofrer com as acusações
políticas", disse.
Para Falco, a operação traz
ganhos estratégicos, como a
possibilidade de comprar outras teles sem colocar dinheiro
vivo na transação. O mercado,
aparentemente, segue raciocínio semelhante - as ações ON
da BrT foram as mais valorizadas na Bovespa ontem, com alta de 8,35%.
Texto Anterior: Público: Patrimônio do BNDES sobe para R$ 30,5 bi Próximo Texto: Indicador dos EUA agrada, e Bolsa de SP avança 3% Índice
|