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Governo estuda cortar tarifa de alimento
Importação serviria para conter alta de produtos como leite, carne e trigo, que pressionam inflação e ameaçam corte de juros
Empresários se espantam
com plano da Fazenda e
afirmam que medida é
desnecessária e que alta de
preços do setor é mundial
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O Ministério da Fazenda planeja abrir o mercado à importação dos alimentos que mais
pressionam a inflação. O governo está preocupado com o risco
de a alta recente dos índices de
preços, puxada por alimentos,
levar o Banco Central a frear o
processo de redução dos juros.
A Fazenda estuda a possibilidade de eliminar as tarifas de
importação de fora do Mercosul de produtos alimentícios
como leite, trigo e carnes. A
TEC (Tarifa Externa Comum
do Mercosul) que incide sobre
esses produtos é de 14% a 16%
no leite e de 12% na farinha de
trigo e na carne bovina.
A informação é do secretário
de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Nelson Barbosa, hoje um dos principais
formuladores da política econômica do ministro da Fazenda, Guido Mantega. De acordo
com ele, os estudos para a adoção dessa medida já foram iniciados e podem ser adotados a
qualquer momento.
"Se essa inflação de alimentos persistir e os preços internos se descolarem dos internacionais, o Ministério da Fazenda poderá recorrer à política tarifária para abrir o mercado à
importação de alimentos", diz o
secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda.
Os empresários receberam a
notícia com espanto. Para eles,
a medida é não só desnecessária como ineficaz. O argumento
deles é que os alimentos sobem
no mundo inteiro, puxados pela alta de consumo em países
emergentes como China e Índia, e o Brasil, celeiro global,
tem um dos preços mais competitivos do planeta.
"Não será o mundo que irá
alimentar o Brasil", diz Edmundo Klotz, presidente da
Abia (Associação Brasileira da
Indústria de Alimentação).
Impostos
Nelson Barbosa afirma, no
entanto, que o governo estuda
outros instrumentos, como a
desoneração de impostos, para
incentivar a produção de alimentos, mas os efeitos dessa
medida não seriam tão rápidos
e tão eficazes como os da eliminação das barreiras tarifárias.
A maior dúvida a respeito
dessa medida, segundo Barbosa, é se a redução tributária seria ou não repassada para os
preços ao consumidor. Já a
queda da tarifa de importação
teria um efeito imediato, acentuada pelo real forte, que barateia produtos externos.
Sinal amarelo
O secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda
diz que os estudos do governo
para conter a inflação foram
iniciados a partir do sinal amarelo dado por vários analistas
econômicos -principalmente
daqueles ligados às instituições
financeiras- de que a alta da
inflação poderia frear o processo de queda do juro básico da
economia (Selic), hoje em
11,5% ao ano.
"A nossa preocupação é que
essa alta de inflação e esse sinal
dado pelos analistas econômicos ameacem o processo de
queda dos juros no longo prazo", diz Barbosa.
A Fazenda, ao fazer a ameaça,
mira o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que pode frear ou atenuar,
como prevê o mercado financeiro, o processo de corte de juro em sua próxima reunião,
nestas terça e quarta. Nas últimas semanas, Henrique Meirelles, presidente do BC, já havia
manifestado, em suas declarações, preocupação com os efeitos da turbulência internacional sobre a economia.
À turbulência foi somada a
alta de 0,98% do IGP-M de
agosto, bem acima das previsões do mercado, que variavam
de 0,63% a 0,82%. A grande
pressão veio dos alimentos,
principalmente do leite, da carne e do trigo.
O economista Paulo Picchetti, coordenador do Índice de
Preços ao Consumidor Semanal da cidade de São Paulo, da
Fundação Getulio Vargas, diz
que, em 2007, os preços dos alimentos acumulam uma alta expressiva, depois de dois anos
praticamente estabilizados. O
preço que mais subiu desde janeiro de 2005 foi o do leite -alta de 38,9% no período.
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