São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Governo estuda cortar tarifa de alimento

Importação serviria para conter alta de produtos como leite, carne e trigo, que pressionam inflação e ameaçam corte de juros

Empresários se espantam com plano da Fazenda e afirmam que medida é desnecessária e que alta de preços do setor é mundial

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O Ministério da Fazenda planeja abrir o mercado à importação dos alimentos que mais pressionam a inflação. O governo está preocupado com o risco de a alta recente dos índices de preços, puxada por alimentos, levar o Banco Central a frear o processo de redução dos juros.
A Fazenda estuda a possibilidade de eliminar as tarifas de importação de fora do Mercosul de produtos alimentícios como leite, trigo e carnes. A TEC (Tarifa Externa Comum do Mercosul) que incide sobre esses produtos é de 14% a 16% no leite e de 12% na farinha de trigo e na carne bovina.
A informação é do secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda, Nelson Barbosa, hoje um dos principais formuladores da política econômica do ministro da Fazenda, Guido Mantega. De acordo com ele, os estudos para a adoção dessa medida já foram iniciados e podem ser adotados a qualquer momento.
"Se essa inflação de alimentos persistir e os preços internos se descolarem dos internacionais, o Ministério da Fazenda poderá recorrer à política tarifária para abrir o mercado à importação de alimentos", diz o secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda.
Os empresários receberam a notícia com espanto. Para eles, a medida é não só desnecessária como ineficaz. O argumento deles é que os alimentos sobem no mundo inteiro, puxados pela alta de consumo em países emergentes como China e Índia, e o Brasil, celeiro global, tem um dos preços mais competitivos do planeta.
"Não será o mundo que irá alimentar o Brasil", diz Edmundo Klotz, presidente da Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentação).

Impostos
Nelson Barbosa afirma, no entanto, que o governo estuda outros instrumentos, como a desoneração de impostos, para incentivar a produção de alimentos, mas os efeitos dessa medida não seriam tão rápidos e tão eficazes como os da eliminação das barreiras tarifárias.
A maior dúvida a respeito dessa medida, segundo Barbosa, é se a redução tributária seria ou não repassada para os preços ao consumidor. Já a queda da tarifa de importação teria um efeito imediato, acentuada pelo real forte, que barateia produtos externos.

Sinal amarelo
O secretário de Acompanhamento Econômico da Fazenda diz que os estudos do governo para conter a inflação foram iniciados a partir do sinal amarelo dado por vários analistas econômicos -principalmente daqueles ligados às instituições financeiras- de que a alta da inflação poderia frear o processo de queda do juro básico da economia (Selic), hoje em 11,5% ao ano.
"A nossa preocupação é que essa alta de inflação e esse sinal dado pelos analistas econômicos ameacem o processo de queda dos juros no longo prazo", diz Barbosa.
A Fazenda, ao fazer a ameaça, mira o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, que pode frear ou atenuar, como prevê o mercado financeiro, o processo de corte de juro em sua próxima reunião, nestas terça e quarta. Nas últimas semanas, Henrique Meirelles, presidente do BC, já havia manifestado, em suas declarações, preocupação com os efeitos da turbulência internacional sobre a economia.
À turbulência foi somada a alta de 0,98% do IGP-M de agosto, bem acima das previsões do mercado, que variavam de 0,63% a 0,82%. A grande pressão veio dos alimentos, principalmente do leite, da carne e do trigo.
O economista Paulo Picchetti, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor Semanal da cidade de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas, diz que, em 2007, os preços dos alimentos acumulam uma alta expressiva, depois de dois anos praticamente estabilizados. O preço que mais subiu desde janeiro de 2005 foi o do leite -alta de 38,9% no período.


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