São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Economia forte valoriza elite do emprego

Empresas disputam mão-de-obra qualificada com atrativos como ações, período sabático fora do país, bônus altos, carros e moradia

Sem dispor desse profissional em abundância, companhias têm preferido manter mais empregados a ficar só com os estritamente necessários

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

O aquecimento da economia está valorizando o "passe" de profissionais de várias áreas e fazendo as empresas disputarem mão-de-obra qualificada com atrativos como ações, períodos sabáticos fora do país, planos de saúde de primeira linha, bônus altos, carros e moradia. E salários maiores.
O "downsizing", termo que esteve na moda desde os anos 1990, saiu do vocabulário das empresas, ao menos por enquanto. Sem dispor de mão-de-obra qualificada em abundância, muitas companhias preferem manter mais profissionais em seus quadros a ficar só com os estritamente necessários.
"A economia aquecida tem feito as empresas evitarem o efeito sanfona de contratar e demitir", diz Fábio Pereira, gerente da empresa de recrutamento de executivos Michael Page. "As companhias preferem ter uma certa gordurinha para não ficar na mão, numa hora em que os profissionais são disputados a tapa."
Pode parecer exagero, principalmente quando as taxas de desemprego superam os 10% em algumas regiões do país. Esses profissionais, no entanto, estão na categoria dos que não só tiveram excelente formação como contam com vários anos de experiência. "É até difícil dizer qual área está mais aquecida, porque está tudo aquecido", diz Flávio Kosminsky, sócio da empresa de busca de executivos Korn Ferry.
Entre os setores em alta, estão financeiro, agronegócios, tecnologia, engenharia, logística, advocacia e até recursos humanos e "headhunting", o dos caçadores de talentos. "Vivemos um dos momentos mais aquecidos no mercado de busca de executivos", diz Renata Fabrini, vice-presidente e sócia da Fesa Global Recruiters. "Exatamente por isso os caçadores estão virando caça."
A demanda em alta tem reflexo nos contracheques. No setor financeiro, por exemplo, houve aumento de 25% a 30% nos salários em relação a 2005.
"As empresas têm de ser muito criativas para trazer e segurar profissionais dessa área", diz Gijs zan Delft, gerente da área de finanças da Michael Page. "Se um diretor de relações com investidores ganhava R$ 25 mil mensais há dois anos, hoje eles não recebem menos de R$ 28 mil a R$ 30 mil."

Benefícios
Isso sem contar com remuneração variável relacionada a metas e opções em ações, geralmente ligadas a processos bem-sucedidos de abertura de capital. Segundo Delft, somados, os benefícios variam de R$ 400 mil a R$ 2 milhões. A área financeira é a que mais impressiona, mas o quadro repete-se em outras carreiras. Pereira, da Michael Page, conta o caso de um especialista em barragens de hidrelétricas, cujo salário passou de R$ 11 mil a R$ 18 mil em duas semanas. "Ele teve uma oferta de uma empresa, com um aumento salarial de 20%", diz. "Na semana seguinte, outra companhia o convidou e aí veio o verdadeiro salto."
O setor de "supply chain", que reúne especialistas em logística, compras e transporte, também sofre com a falta de mão-de-obra qualificada. Segundo as empresas de busca de executivos, o salário de um gerente sênior, que em 2006 variava de R$ 8.000 a R$ 10 mil, hoje é de R$ 12 mil a R$ 15 mil.
De acordo com os "headhunters", também é difícil para as empresas contratarem profissionais de TI (tecnologia da informação), já que a maioria deles ganha mais prestando serviços de consultoria e não se importa com carreiras de longo prazo. Para ocupar vagas em recursos humanos, muitas empresas têm preferido trazer profissionais de outros setores, como administradores, engenheiros e advogados. "Há uma demanda por profissionais de RH que conheçam o negócio", diz Kosminsky. "Muitos profissionais não perceberam isso."


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