São Paulo, terça-feira, 02 de setembro de 2008

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"Estamos prontos para crescer", diz Diniz

Porém, primeiros bons resultados do Grupo Pão de Açúcar após reestruturação não animam especialistas

CRISTIANE BARBIERI
DA REPORTAGEM LOCAL

Poucas empresas brasileiras chegam aos 60 anos fortes, bem-sucedidas e apresentando boas vendas e resultado, diz Abilio Diniz, presidente do conselho do Grupo Pão de Açúcar, que celebra a efeméride no domingo. "Nosso Ebitda [lucro operacional, medido antes de impostos, juros e depreciação] vai crescer mais, e as vendas nas mesmas lojas vão avançar muito mais do que nos anos anteriores", afirma Diniz. "Estamos prontos para crescer."
Já Claudio Galeazzi, presidente-executivo da empresa, acha que, apesar de os indicadores mais recentes serem positivos, ainda não dá para estourar o champanhe.
"Talvez o Abilio tenha mais experiência em varejo do que eu e, por isso, comemore os resultados", diz Galeazzi. "Eu, nas reuniões, não os festejo. Todos os indicadores são favoráveis, mas precisam ser consolidados. Temos um longo caminho pela frente."

Concorrentes com fôlego
Especialistas parecem concordar com Galeazzi. Segundo Claudio Felisoni, coordenador do Provar (Programa de Administração do Varejo), da USP, o Grupo Pão de Açúcar não encontrou ainda um modelo exitoso no varejo para a baixa renda, categoria que mais cresceu nos últimos anos.
Além disso, diz, a recente reestruturação pode ter seqüelas no grupo. Para ele, a disputa pela liderança do mercado tende a se concentrar entre as duas grandes redes estrangeiras, Carrefour e Wal-Mart.
Eugenio Foganholo, diretor da consultoria Mixxer, tem a mesma opinião. "A briga pela liderança será complexa daqui para a frente", diz Foganholo. "Não é fácil para o Pão de Açúcar crescer enquanto arruma a casa e muito menos agüentar o fôlego do Wal-Mart."
A rede americana anunciou, recentemente, investimentos de US$ 1,8 bilhão no Brasil neste ano. Já o Carrefour conquistou a liderança do mercado no ano passado com a aquisição do Atacadão. Enquanto isso, o Grupo Pão de Açúcar foi obrigado a cortar seus investimentos em 2008 e postergar boa parte deles para 2009, quando pretende abrir cem novas lojas e investir cerca de R$ 1 bilhão.
"Preferimos parar, reordenar a expansão e as vendas e buscar a rentabilidade", diz Diniz. "Temos de produzir resultados, e não só expansão."
De acordo com Galeazzi, a concorrência tem crescido sem ter essa preocupação. "Gostaria que os concorrentes divulgassem resultados", afirma ele. "Temos uma boa idéia dos resultados deles e [seus] prejuízos acumulados devem ser bastante significativos."
De todo modo, o grupo pode ter perdido a chance de avançar enquanto a economia está aquecida. "Acompanhamos todo o movimento da concorrência e temos poder para investir", diz Diniz. "Também não acreditamos que 2009 será um ano de crescimento menor."
Segundo ele, o conselho consultivo, formado por economistas de renome, trabalha com a perspectiva de crescimento de 4% no PIB em 2009 e com a taxa de inflação, medida pelo IPCA, de 5%. "Crescer um ponto a menos não fará tanta diferença", diz Diniz.
De acordo com Galeazzi, no entanto, a empresa usará o bom senso na hora de decidir pelos investimentos, como foi feito neste ano. Apesar de os investimentos terem sido planejados em razão do mercado aquecido, foram suspensos devido à remodelação.
Entre as novidades na companhia estão a redução de fornecedores para melhorar o poder de negociação da rede, a descentralização das operações, os pesados investimentos em tecnologia e a criação de uma estrutura para cuidar da área imobiliária, que tem ativos no valor de R$ 2 bilhões.
"Um shopping pode acontecer desde que faça sentido", diz Enéas Pestana, vice-presidente financeiro do grupo. "O que mais falta nos shoppings são lojas-âncora, o que o Pão de Açúcar é por excelência."


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