São Paulo, sábado, 02 de outubro de 2004

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LIÇÃO DE CASA

Anoop Singh, no entanto, diz ser necessário reduzir mais a vulnerabilidade externa e elevar crédito dado a empresas

FMI tece maior série de elogios ao Brasil

DE WASHINGTON

O FMI fez ontem uma série extensa de elogios ao Brasil, mas cobrou novas medidas para reduzir mais a vulnerabilidade externa, para aumentar a oferta de crédito às empresas e aprofundar as reformas macroeconômicas.
Em entrevista, o diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do FMI, Anoop Singh, discorreu longamente sobre os "avanços" do Brasil -em um tom positivo que contrastou com as preocupações com o país de reuniões recentes do Fundo.
Singh afirmou que o crescimento sustentável sem inflação é possível e que há "um mar de mudanças no setor exportador".
"A mudança estrutural no setor é um indicador instrutivo da evolução que está ocorrendo na economia como um todo", disse.
Leia seus principais comentários sobre o Brasil. (FCz)
 

CURTO PRAZO - A prioridade é reduzir as vulnerabilidades para evitar o tipo de crise que vimos acontecer nos últimos anos. Para isso, é fundamental dar mais segurança ao mercado sobre a sustentabilidade do endividamento.

CRESCIMENTO - Não seria tão pessimista sobre a possibilidade de o crescimento atual vir a pressionar a inflação. Há seis meses, no Brasil, dissemos que estávamos confiantes em que em meados deste ano o país estaria crescendo com mais força. Fui confrontado com um forte pessimismo em São Paulo. Agora, comparando o terceiro trimestre [julho a setembro] sobre o mesmo trimestre de 2003, vemos um crescimento anualizado na faixa de 6%. No primeiro semestre, essa taxa era de 4%.

SUSTENTABILIDADE - Precisamos olhar para as reformas que o Brasil vem fazendo nos últimos anos. Na área fiscal, nos gastos com educação e na área social. Tem havido um número importante delas. As reformas levam algum tempo para começar a afetar o crescimento, mas estamos entrando em um período em que os dividendos de políticas passadas começam a criar raízes. Creio que podemos estar muito mais confiantes sobre a sustentabilidade do crescimento do que há cinco ou seis anos.

INFLAÇÃO - É verdade que a inflação subiu nos últimos meses, mas isso deve-se em grande parte a um choque de oferta. A expectativa agora é que a inflação comece a cair de acordo com os objetivos do Banco Central. O atual ciclo de aperto da política monetária do Banco Central tende a ser gradual, algo muito diferente do que ocorreu no passado.

VULNERABILIDADE - A performance externa do Brasil tem sido bastante forte e condizente com o atual ciclo de crescimento. O crescimento das exportações tem sido realmente espetacular -um aumento de 50% sobre os últimos três anos. O superávit na conta corrente implica um considerável fortalecimento da posição externa, fato que vem sendo reconhecido por várias agências de classificação de risco.

EXPORTAÇÕES - Há um mar de mudanças nesse setor nos últimos dois anos. A estrutura das exportações está muito mais diversificada, tanto em termos de composição quanto de destino. Há dinamismo e força nas exportações brasileiras. É um novo fenômeno. Creio que estamos vendo apenas o princípio disso. A mudança estrutural no setor é também um indicador instrutivo da evolução que está ocorrendo na economia como um todo. Isso nos deixa muito otimistas em achar que esse é apenas o começo de uma tendência muito maior de aumento de participação de mercado, de abertura comercial e de crescimento no Brasil.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO - Não há uma resposta direta à pergunta se o Brasil deve ou não manter ou aumentar o superávit de 4,5% do PIB em 2005. É muito bem-vindo o fato de o Brasil ter decidido fortalecer sua posição fiscal neste ano, pois vai permitir que o país pague mais rápido o seu endividamento. Para 2005, isso vai depender do estado da economia mundial e do ritmo da demanda doméstica. Temos total confiança na atual equipe econômica e vamos discutir com eles no final do ano o que planejam.

CRÉDITO INTERNO - Uma área-chave que precisa avançar é a melhoria da intermediação financeira no Brasil. O Brasil sofre com a falta de crédito para investimentos. Parece que as autoridades estão atacando o problema com determinação, incluindo uma série de medidas, inclusive a adoção da Lei de Falências, que, esperamos, será aprovada até o final do ano.

NOVO ACORDO - O programa atual expira em março. Portanto temos ainda seis meses pela frente. É cedo para começar a discutir isso. Sabemos quais são as intenções do governo [não renovar o programa]. Se houver uma mudança de vontade, vão nos avisar.

LINHA ESPECIAL - Qualquer mudança nos instrumentos de financiamento do Fundo deve ser discutida no âmbito do comitê executivo e há uma discussão a respeito no momento. Teremos de esperar para ver como isso avança nos próximos meses.


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