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Aos 23, estudante se declara "falida"
DA REPORTAGEM LOCAL
Com apenas 23 anos, Fabiana
Aguiar se declara "falida". Antes
de conquistar a independência financeira, tornou-se completamente dependente de suas próprias dívidas. Além de dever ao
cartão de crédito, a bancos, a lojas
e a financeiras, teve mais de 30
cheques devolvidos -seu débito
chegou a dez vezes o seu salário.
Seus pais só descobriram quando
as cobranças se intensificaram.
"Nunca tive dificuldade para
conseguir crédito enquanto meu
nome estava limpo. Isso cai direto
na ambição de ter mais e mais rápido. Você vê os outros com as
coisas e também quer", descreve.
Segundo ela, o problema começou com o cheque especial, há três
anos. Ganhando R$ 400 mensais,
seu limite chegou a R$ 800. "Comecei a sair mais, a querer comprar mais. Fui usando o cheque
especial e o cartão, depois fiz empréstimos no banco. Aí fiz outro
empréstimo para quitar as dívidas. Pedi o valor máximo que o
banco podia me emprestar. Depois, peguei em três financeiras.
Eu não sabia administrar o meu
dinheiro. Hoje, vejo que 70% do
que gastei foi com supérfluos."
Atualmente, ela decide todos os
meses quais das contas pagará.
"Deixo em aberto o que tem menos juros." Tendo em seu poder
os 11 cheques devolvidos que ainda "negativam" seu nome, ela não
pretende dar baixa, por enquanto.
"Teria de pagar as taxas e, para isso, deixaria de pagar outras contas. O nome ficaria sujo de novo."
Já o publicitário Bruno Xavier,
26, foi morar sozinho em 2002.
Sem a ajuda dos pais, com salário
de R$ 3.000, passou a se sustentar,
mas não mudou os hábitos.
"Continuei a viajar, a comprar
roupas. Saía muito e também comia em restaurantes bons", conta.
Ele diz que também pagava um
aluguel alto para sua renda. "Não
aceitava a idéia de morar mal."
Três cartões de crédito e o cheque especial operavam o milagre.
"Eu pagava aluguel no cartão, fatura do cartão com cheque especial, cobria tudo com o salário e
começava de novo no mês seguinte. Uma hora a bomba estourou, gastei todos os limites que tinha." Ainda com o nome limpo,
Xavier negocia com o banco para
parcelar um débito de R$ 13 mil.
Felipe Assunção, 23, que trabalha com computação gráfica, diz
que a única solução foi esconder
os cartões no armário. "Eu achava
bonitinho ter muitos cartões de
crédito e hoje percebo que era
uma furada", afirma. Há três meses, só faz pagamentos mínimos.
Mas anuncia: "Meu plano é estar
com os cartões zerados no final
do ano". Vai cancelá-los? "Não.
Vou viajar e vou precisar deles."
Gabriel Francisco Furtado, 20,
aluno de engenharia na PUC-SP,
que mora em uma república, diz
que a história do pai, que há algum tempo está no rotativo do
cartão, serve de lição. "Vendo o
que minha família está sofrendo,
percebi que cartão é só para uso
emergencial." Ele acaba de receber seu primeiro cartão. "Vou
usar pouco", promete.
(BL)
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