São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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Aos 23, estudante se declara "falida"

DA REPORTAGEM LOCAL

Com apenas 23 anos, Fabiana Aguiar se declara "falida". Antes de conquistar a independência financeira, tornou-se completamente dependente de suas próprias dívidas. Além de dever ao cartão de crédito, a bancos, a lojas e a financeiras, teve mais de 30 cheques devolvidos -seu débito chegou a dez vezes o seu salário. Seus pais só descobriram quando as cobranças se intensificaram.
"Nunca tive dificuldade para conseguir crédito enquanto meu nome estava limpo. Isso cai direto na ambição de ter mais e mais rápido. Você vê os outros com as coisas e também quer", descreve.
Segundo ela, o problema começou com o cheque especial, há três anos. Ganhando R$ 400 mensais, seu limite chegou a R$ 800. "Comecei a sair mais, a querer comprar mais. Fui usando o cheque especial e o cartão, depois fiz empréstimos no banco. Aí fiz outro empréstimo para quitar as dívidas. Pedi o valor máximo que o banco podia me emprestar. Depois, peguei em três financeiras. Eu não sabia administrar o meu dinheiro. Hoje, vejo que 70% do que gastei foi com supérfluos."
Atualmente, ela decide todos os meses quais das contas pagará. "Deixo em aberto o que tem menos juros." Tendo em seu poder os 11 cheques devolvidos que ainda "negativam" seu nome, ela não pretende dar baixa, por enquanto. "Teria de pagar as taxas e, para isso, deixaria de pagar outras contas. O nome ficaria sujo de novo."
Já o publicitário Bruno Xavier, 26, foi morar sozinho em 2002. Sem a ajuda dos pais, com salário de R$ 3.000, passou a se sustentar, mas não mudou os hábitos. "Continuei a viajar, a comprar roupas. Saía muito e também comia em restaurantes bons", conta.
Ele diz que também pagava um aluguel alto para sua renda. "Não aceitava a idéia de morar mal."
Três cartões de crédito e o cheque especial operavam o milagre. "Eu pagava aluguel no cartão, fatura do cartão com cheque especial, cobria tudo com o salário e começava de novo no mês seguinte. Uma hora a bomba estourou, gastei todos os limites que tinha." Ainda com o nome limpo, Xavier negocia com o banco para parcelar um débito de R$ 13 mil.
Felipe Assunção, 23, que trabalha com computação gráfica, diz que a única solução foi esconder os cartões no armário. "Eu achava bonitinho ter muitos cartões de crédito e hoje percebo que era uma furada", afirma. Há três meses, só faz pagamentos mínimos. Mas anuncia: "Meu plano é estar com os cartões zerados no final do ano". Vai cancelá-los? "Não. Vou viajar e vou precisar deles."
Gabriel Francisco Furtado, 20, aluno de engenharia na PUC-SP, que mora em uma república, diz que a história do pai, que há algum tempo está no rotativo do cartão, serve de lição. "Vendo o que minha família está sofrendo, percebi que cartão é só para uso emergencial." Ele acaba de receber seu primeiro cartão. "Vou usar pouco", promete. (BL)


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