São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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INDÚSTRIA

Entidades, cujo comando cindiu há um ano, reestruturam-se, cortam gastos e arrecadam R$ 75 milhões até agosto

Após racha, Ciesp e Fiesp elevam receita

FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI


DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano após o racha no comando da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), as duas instituições se reestruturaram e aumentaram suas receitas.
No caixa das duas mais poderosas representantes do empresariado paulista, cuja administração era unificada desde 1942, entraram R$ 75 milhões nos primeiros oito meses deste ano -dinheiro equivalente ao Orçamento de Salto (SP), com 104 mil habitantes.
De janeiro a agosto deste ano, a receita da Fiesp somou R$ 46,5 milhões, 24% a mais do que em igual período de 2004. Cerca de 63% desses recursos vieram compulsoriamente do Sesi-SP e do Senai-SP, entidades que repassam, respectivamente, 7% e 1% de suas receitas à federação paulista.
Parte dos recursos da Fiesp veio também da contribuição sindical paga anualmente por 128 sindicatos filiados. A taxa associativa é paga uma vez por ano pelos sindicatos patronais. Em 2005, deve render R$ 78 mil. A previsão da federação é arrecadar com essa contribuição obrigatória cerca de R$ 7,58 milhões neste ano.
A receita do Ciesp subiu 43% no mesmo período -de R$ 19,6 milhões para R$ 28,2 milhões-, principalmente devido à venda de imóveis e a mensalidades pagas por 7.500 indústrias e 146 entidades de classe. O valor da mensalidade depende do porte da empresa. Varia de R$ 31 a R$ 1.400.

Choque de gestão
Comandada há um ano por Paulo Skaf, a Fiesp informa que passou por um "choque de gestão", que resultou em aumento de receitas e queda de despesas.
"Fizemos uma remodelação na estrutura administrativa da entidade. Alguns departamentos e áreas inteiras foram excluídos. Outros, redimensionados", diz Paulo Vieira, diretor financeiro da Fiesp. A estimativa é fechar o ano com receita de R$ 62 milhões.
Os gastos com administração, segundo informa, caíram de R$ 6,68 milhões para R$ 5,36 milhões nos primeiros oito meses deste ano em comparação com igual período do ano passado. Os custos com consultorias e assessorias técnicas diminuíram de R$ 5,35 milhões para R$ 3,62 milhões.
Para o Ciesp, o aumento de receita ocorreu principalmente com a venda para a Fiesp de três andares do prédio da avenida Paulista, onde funcionam as sedes das duas entidades, por R$ 8,5 milhões.
Esse dinheiro, porém, entrou e saiu do caixa do centro das indústrias: foi usado para quitar dívidas com a federação. As receitas também vieram de cursos realizados e prestação de serviços aos sócios.
"Aqui [no Ciesp] não tem nada que caia do céu", diz Claudio Vaz, presidente da entidade, ao se referir ao repasse compulsório de parte da receita do Sesi e do Senai para a Fiesp.
O caixa do Ciesp deve engordar mais daqui para a frente. A instituição quer elevar a mensalidade dos sócios -inalterada desde 1998. As entidades de classe, por exemplo, pagam hoje R$ 31 mensais. Para continuarem sócias do Ciesp, terão de pagar R$ 125, R$ 287,50 ou R$ 412,50, respectivamente, se forem de pequeno, médio e grande portes. O reajuste ainda está em estudo.
"Se entenderem que vale a pena ser sócias do Ciesp, terão um preço a pagar", afirma Vaz. A instituição, segundo informa, presta vários serviços para os associados, como assessoria jurídica.
Além de mais dinheiro no caixa, as duas entidades estão com mais recursos aplicados em instituições financeiras. A Fiesp tem R$ 50 milhões aplicados, principalmente no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal. O valor deve subir a R$ 51,5 milhões até o fim do ano. O Ciesp tem R$ 5,5 milhões aplicados -60% em bancos privados, e 40%, no BB.
As contas da Fiesp e do Ciesp são verificadas em auditorias internas e por empresas contratadas. Na Fiesp, a auditoria externa é feita pela Trevisan. No Ciesp, pela Terco Grant Thornton.
Apesar de boa parte da receita da Fiesp vir de recursos do Sesi e do Senai -que, por sua vez, têm as receitas mantidas com dinheiro público-, não é auditada pelo Tribunal de Contas da União.
A Fiesp -assim como outras federações, confederações e sindicatos patronais e de trabalhadores- não é obrigada a prestar contas ao Estado nem à União desde a Constituição de 1988.
Os recursos que mantêm o Sesi e o Senai vêm de empresas que pagam uma taxa, respectivamente, de 1,5% e de 1% sobre suas folhas de pagamento. Como o dinheiro é público (é arrecadado pelo INSS), elas têm de prestar contas todo ano ao TCU.
A Secex (Secretaria de Controle Externo no Estado de São Paulo), subordinada ao TCU, informa que Sesi-SP e Senai-SP prestam contas anualmente, mas admite que auditorias aprofundadas dos documentos apresentados não são feitas há muitos anos nessas duas instituições, principalmente devido à falta de pessoal.

Pirâmide dividida
Fiesp e Ciesp dividem, com Sesi e Senai de São Paulo, a "pirâmide" da avenida Paulista. Apesar da proximidade física, Fiesp e Ciesp nunca estiveram tão distantes. Um ano após a cisão no comando das duas entidades, ainda travam uma guerra silenciosa.
Empresários ligados ao Ciesp criticam, nos bastidores, a maneira como Skaf conduz a federação. Primeiro, por colocar na direção de conselhos e departamentos nomes não ligados à indústria, como Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior, Sydney Sanches, presidente do Conselho Superior de Assuntos Jurídicos e Legislativos, e o deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP), presidente do Conselho Superior de Economia.
Questionam ainda a proximidade da Fiesp com o governo Lula -que apoiou Skaf na disputa pelo comando da federação.
Empresários afinados com Skaf acreditam, por sua vez, que "a perda do Ciesp" ocorreu devido à fragilidade nas eleições -há até ação na Justiça que pede análise dos votos e questiona a representatividade dos que votaram (se estavam credenciados para votar).


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