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INDÚSTRIA
Entidades, cujo comando cindiu há um ano, reestruturam-se, cortam gastos e arrecadam R$ 75 milhões até agosto
Após racha, Ciesp e Fiesp elevam receita
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um ano após o racha no comando da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo) e do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), as
duas instituições se reestruturaram e aumentaram suas receitas.
No caixa das duas mais poderosas representantes do empresariado paulista, cuja administração
era unificada desde 1942, entraram R$ 75 milhões nos primeiros
oito meses deste ano -dinheiro
equivalente ao Orçamento de Salto (SP), com 104 mil habitantes.
De janeiro a agosto deste ano, a
receita da Fiesp somou R$ 46,5
milhões, 24% a mais do que em
igual período de 2004. Cerca de
63% desses recursos vieram compulsoriamente do Sesi-SP e do Senai-SP, entidades que repassam,
respectivamente, 7% e 1% de suas
receitas à federação paulista.
Parte dos recursos da Fiesp veio
também da contribuição sindical
paga anualmente por 128 sindicatos filiados. A taxa associativa é
paga uma vez por ano pelos sindicatos patronais. Em 2005, deve
render R$ 78 mil. A previsão da
federação é arrecadar com essa
contribuição obrigatória cerca de
R$ 7,58 milhões neste ano.
A receita do Ciesp subiu 43% no
mesmo período -de R$ 19,6 milhões para R$ 28,2 milhões-,
principalmente devido à venda de
imóveis e a mensalidades pagas
por 7.500 indústrias e 146 entidades de classe. O valor da mensalidade depende do porte da empresa. Varia de R$ 31 a R$ 1.400.
Choque de gestão
Comandada há um ano por
Paulo Skaf, a Fiesp informa que
passou por um "choque de gestão", que resultou em aumento de
receitas e queda de despesas.
"Fizemos uma remodelação na
estrutura administrativa da entidade. Alguns departamentos e
áreas inteiras foram excluídos.
Outros, redimensionados", diz
Paulo Vieira, diretor financeiro da
Fiesp. A estimativa é fechar o ano
com receita de R$ 62 milhões.
Os gastos com administração,
segundo informa, caíram de R$
6,68 milhões para R$ 5,36 milhões
nos primeiros oito meses deste
ano em comparação com igual
período do ano passado. Os custos com consultorias e assessorias
técnicas diminuíram de R$ 5,35
milhões para R$ 3,62 milhões.
Para o Ciesp, o aumento de receita ocorreu principalmente com
a venda para a Fiesp de três andares do prédio da avenida Paulista,
onde funcionam as sedes das duas
entidades, por R$ 8,5 milhões.
Esse dinheiro, porém, entrou e
saiu do caixa do centro das indústrias: foi usado para quitar dívidas
com a federação. As receitas também vieram de cursos realizados e
prestação de serviços aos sócios.
"Aqui [no Ciesp] não tem nada
que caia do céu", diz Claudio Vaz,
presidente da entidade, ao se referir ao repasse compulsório de
parte da receita do Sesi e do Senai
para a Fiesp.
O caixa do Ciesp deve engordar
mais daqui para a frente. A instituição quer elevar a mensalidade
dos sócios -inalterada desde
1998. As entidades de classe, por
exemplo, pagam hoje R$ 31 mensais. Para continuarem sócias do
Ciesp, terão de pagar R$ 125,
R$ 287,50 ou R$ 412,50, respectivamente, se forem de pequeno,
médio e grande portes. O reajuste
ainda está em estudo.
"Se entenderem que vale a pena
ser sócias do Ciesp, terão um preço a pagar", afirma Vaz. A instituição, segundo informa, presta
vários serviços para os associados, como assessoria jurídica.
Além de mais dinheiro no caixa,
as duas entidades estão com mais
recursos aplicados em instituições financeiras. A Fiesp tem R$
50 milhões aplicados, principalmente no Banco do Brasil e na
Caixa Econômica Federal. O valor
deve subir a R$ 51,5 milhões até o
fim do ano. O Ciesp tem R$ 5,5
milhões aplicados -60% em
bancos privados, e 40%, no BB.
As contas da Fiesp e do Ciesp
são verificadas em auditorias internas e por empresas contratadas. Na Fiesp, a auditoria externa
é feita pela Trevisan. No Ciesp, pela Terco Grant Thornton.
Apesar de boa parte da receita
da Fiesp vir de recursos do Sesi e
do Senai -que, por sua vez, têm
as receitas mantidas com dinheiro público-, não é auditada pelo
Tribunal de Contas da União.
A Fiesp -assim como outras
federações, confederações e sindicatos patronais e de trabalhadores- não é obrigada a prestar
contas ao Estado nem à União
desde a Constituição de 1988.
Os recursos que mantêm o Sesi
e o Senai vêm de empresas que
pagam uma taxa, respectivamente, de 1,5% e de 1% sobre suas folhas de pagamento. Como o dinheiro é público (é arrecadado
pelo INSS), elas têm de prestar
contas todo ano ao TCU.
A Secex (Secretaria de Controle
Externo no Estado de São Paulo),
subordinada ao TCU, informa
que Sesi-SP e Senai-SP prestam
contas anualmente, mas admite
que auditorias aprofundadas dos
documentos apresentados não
são feitas há muitos anos nessas
duas instituições, principalmente
devido à falta de pessoal.
Pirâmide dividida
Fiesp e Ciesp dividem, com Sesi
e Senai de São Paulo, a "pirâmide"
da avenida Paulista. Apesar da
proximidade física, Fiesp e Ciesp
nunca estiveram tão distantes.
Um ano após a cisão no comando
das duas entidades, ainda travam
uma guerra silenciosa.
Empresários ligados ao Ciesp
criticam, nos bastidores, a maneira como Skaf conduz a federação.
Primeiro, por colocar na direção
de conselhos e departamentos
nomes não ligados à indústria, como Rubens Barbosa, presidente
do Conselho Superior de Comércio Exterior, Sydney Sanches, presidente do Conselho Superior de
Assuntos Jurídicos e Legislativos,
e o deputado federal Delfim Netto
(PMDB-SP), presidente do Conselho Superior de Economia.
Questionam ainda a proximidade da Fiesp com o governo Lula
-que apoiou Skaf na disputa pelo comando da federação.
Empresários afinados com Skaf
acreditam, por sua vez, que "a
perda do Ciesp" ocorreu devido à
fragilidade nas eleições -há até
ação na Justiça que pede análise
dos votos e questiona a representatividade dos que votaram (se estavam credenciados para votar).
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