São Paulo, domingo, 02 de outubro de 2005

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Tintos se destacam, dizem especialistas

DA ENVIADA A BENTO GONÇALVES (RS)

Com a melhor safra brasileira de uva de todos os tempos, era grande a expectativa para o resultado dos vinhos produzidos.
E foi possível confirmar a qualidade e a evolução dos vinhos nacionais, na opinião dos enólogos brasileiros e estrangeiros que participaram da 13ª edição da Avaliação Nacional de Vinhos, em Bento Gonçalves (RS) -84 vinícolas que mandaram 368 amostras para avaliação. No total, 23 cidades de cinco Estados do país tiveram seus vinhos representados no evento, o que mostra a diversificação da vitivinicultura no país.
O evento contou com painel de 15 degustadores que avaliaram 15 vinhos previamente selecionados. Os finalistas estão entre a média dos 30% mais representativos da safra. No total, 704 pessoas, entre enólogos, enófilos, varejistas e apreciadores da bebida, inscreveram-se para as degustações.
O resultado da avaliação foi unânime. Os vinhos brancos evoluíram, estão bons, mas ficaram abaixo da expectativa gerada pela supersafra. Já os tintos surpreenderam pela qualidade, pela riqueza dos aromas e dos sabores.
"Como esperávamos, pudemos conferir o que de melhor tivemos na safra de 2005. Sobressaíram alguns brancos, mas principalmente os tintos -segmento em que nós éramos muito criticados por não ter clima e condição de elaborar um vinho de boa qualidade", afirmou, em sua avaliação, o presidente da ABE, Dirceu Scottá.
Para o enófilo e escritor Mauro Côrte Real, os vinhos brancos não mostraram o mesmo "upgrade" que os tintos, mas melhoraram, ficaram mais arredondados.
Para o presidente da Federação Espanhola de Associações de Enólogos, Vicente Sánchez-Migallón, as amostras apresentadas no evento abriram uma porta fundamental para o vinho brasileiro buscar a sua personalidade no mercado internacional. Para ele, ainda é preciso marketing no mercado externo, visando o consumidor que busca o exótico.
As vinícolas surpreenderam o tcheco Lubos Bárta, editor da revista "Sommelier, Revue pro Hotel a Restaurant". "Fiquei impressionado com a tecnologia moderna, que não se encontra em nenhum outro país."
A procura no Brasil por vinhos nacionais tem crescido, segundo o varejo. Para Cleonice Lima, do Empório Santa Maria, que vende produtos importados e nacionais em São Paulo, "a visão do brasileiro começou a mudar desde a boa safra de 1999", quando começou a produção de vinhos para guardar.
Mas os consumidores terão de ter paciência para provar os vinhos da supersafra 2005. Alguns brancos logo mais devem estar no mercado, mas os tintos só devem ser comercializados em 2006 e em 2007 -passarão esse tempo amadurecendo nos barris.
E mesmo assim, dizem os especialistas, o ideal seria esperar dois ou três anos a mais para abrir a garrafa e poder degustar o vinho em seu melhor estágio.
O colunista de vinhos da Folha Jorge Carrara diz que não há dúvida de que as bebidas apresentadas na degustação são o que há de melhor na produção do país. "É um carro-conceito, um protótipo. Mas existe, é aquilo."
Segundo ele, prova disso é que a indústria nacional de vinhos está em franca evolução. Só resta ter a certeza de que aquele vinho vai ser produzido em grande escala, chegando até o consumidor, acrescenta Carrara. (AK)


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