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Bancário crê que reajuste não trará demissão
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Em meio à crise internacional, Luiz Cláudio Marcolino,
38, presidente do Sindicato dos
Bancários de São Paulo (filiado
à CUT), comandou uma greve
da categoria que durou 15 dias.
Após a paralisação, os bancos
negociaram reajuste de 10%,
para salários até R$ 2.500, e de
8,5%, para acima dessa faixa,
além de melhorias na participação nos lucros. Marcolino diz
não temer demissões no setor.
A seguir, trechos da entrevista
concedida à Folha.
FOLHA - Os bancos concederam
10% de reajuste em meio a um momento de crise. Esse reajuste não
pode agora significar demissão?
LUIZ CLÁUDIO MARCOLINO - Não.
Durante a campanha salarial,
chegamos a ouvir que éramos
malucos de fazer essa greve em
momento de crise. Mas ela foi
feita com base no cenário positivo mostrado nos balanços dos
bancos. De janeiro a junho, o
lucro dos nove maiores bancos
cresceu 15,7% se comparado
com igual período de 2007. Se
olharmos para a a receita de
serviços e tarifas, também houve crescimento. Se os bancos
usarem o argumento do reajuste ou da crise para demitir, vão
mostrar a lógica do mau patrão.
FOLHA - Mas esse cenário não pode
mudar a partir de agora e os bancos
decidirem cortar custos?
MARCOLINO - Cobramos aumento real de salário e melhoria no pagamento da participação dos lucros baseados em resultados que o sistema financeiro obteve. Os lucros auferidos no terceiro trimestre mostram que estávamos corretos.
FOLHA - Em anos anteriores, quando houve ganho real, o sindicato notou aumento de demissões?
MARCOLINO - Não, porque os
bancos fazem adequação deles
na tarifa. Diluem o custo da folha de pagamento ao longo dos
12 meses. Acho difícil demitirem porque há muita disputa
no mercado. Se um gerente sai
de um banco, carrega a carteira
de clientes que administra.
FOLHA - Mas o sindicato acompanha as demissões no setor?
MARCOLINO - Os números continuam dentro da média. A categoria tem 130 mil trabalhadores e temos um "turnover" de
cerca de mil homologações
mensais, o que inclui pedidos
de demissão e dispensas. Se ficar caracterizado aumento de
demissão, o sindicato vai reagir.
FOLHA - Com a MP que dá ao BB e à
Caixa poderes para comprar outras
instituições, o emprego no setor pode passar por reestruturação?
MARCOLINO - Na verdade essa
mudança já vem ocorrendo
com o correspondente bancário (...). É importante que o BC,
o CMN e o Congresso criem
condições para regular o sistema financeiro, seja no emprego, seja no seu funcionamento.
FOLHA - O sr. é a favor da presença
maior do setor público no sistema?
MARCOLINO - Sou favorável desde que seja para fortalecer o desenvolvimento do país. Se for
socorrer por socorrer, está errado. No momento, o governo
agiu certo. O que não pode é o
contribuinte pagar a conta com
demissões ou compras de carteiras podres. A parte boa não
pode ficar com bancos privados, e a podre, com o governo.
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