São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2001

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Ex-metalúrgico vira advogado e ganha a vida inventando sindicatos

Flávio Florido/Folha Imagem
Aluizio Leonardo, que preside sindicato de funcionário de auto-escola


DA REPORTAGEM LOCAL

Aluizio Leonardo, 50, trabalha numa profissão nova, própria da confusão que reina no sindicalismo brasileiro. Ex-metalúrgico e advogado, Leonardo ajuda a criar e inventar sindicatos.
Sua técnica consiste em atuar em categorias pouco representadas. Leonardo, ou quem ele orienta, arruma um emprego na categoria, entra no sindicato e desmembra a instituição.
Sua criação mais recente é o Sindicato dos Trabalhadores de Instrutores em Auto-Escola, Centro de Formação de Condutores A/B, Despachantes, Empresas de Transportes Escolares e Anexos de Guarulhos e região.
Leonardo acabara de ser destituído da presidência de outro sindicato, o dos Empregados em Medicina de Grupo, Cooperativa de Saúde e Clínicas Particulares do Estado de São Paulo.
Desempregado, foi à luta. Leonardo procurou uma auto-escola, virou instrutor, começou a conviver com outros professores de direção e a frequentar o sindicato.
"Conscientizei nosso presidente estadual que era melhor fazer um desmembramento porque todo mundo ganharia", disse Leonardo. "Ele concordou em fazer o desdobramento e eu propus ser um dos diretores."
O novo sindicato movimenta pouco dinheiro. Segundo Leonardo, são R$ 24 mil por ano. A sede funciona numa sala emprestada por um deputado estadual. Leonardo é pré-candidato a deputado federal pelo PGT (Partido Geral dos Trabalhadores).
Seria um passo novo em sua carreira. Mecânico ferramenteiro, participou da primeira comissão de fábrica da Volks, em 1976, e da histórica greve dos metalúrgicos, de 1979. Trabalhou na Força Sindical e hoje é ligado à SDS (Social Democracia Sindical).
Nos últimos tempos, Leonardo conta que ajudou a criar cinco sindicatos, como o dos trabalhadores em escolas, o dos empregados de lavanderias e o dos funcionários de cartórios notariais.
Em geral, ele desmembra sindicatos já existentes. "Você constata que um sindicato não está atuando como devia e propõe que seja desmembrado. Na medida em que o novo sindicato trabalha com honestidade, faz um trabalho bonito, tem êxito", diz ele.
Um dos casos exemplares é o dos empregados em lavanderias. "O presidente do sindicato era um desenhista que virou passador, ficou sócio do sindicato e fez o desmembramento", diz ele.
Nem todas as invenções dão certo. O Sindicato dos Empregados em Medicina de Grupo está suspenso pela Justiça. Leonardo diz que foi ele mesmo quem pediu a suspensão.
Segundo Leonardo, teve diretor que participou da criação do sindicato de olho apenas nas verbas de R$ 2,56 milhões movimentadas pela instituição. "Falsificaram minha assinatura para ficar com o dinheiro do sindicato", diz.
Ele diz que nunca levou "propina de patrão" e não tem carro próprio. Gosta de abrir sindicatos porque arruma serviço, "enche o ego" e o trabalho é "bonito".
"Não quero ganhar muito. Ganhando R$ 1.000,00 por mês, eu estou satisfeitíssimo", diz ele. "Quem é acostumado a andar de jeguinho, qualquer R$ 50,00 satisfaz." (RG)


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