|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EM MARCHA LENTA
Arrecadação do imposto despenca em quatro Estados; em São Paulo, queda em novembro é de 6,8%
ICMS desaba e confirma economia gelada
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O desaquecimento da economia
no último trimestre do ano pode
ser mais forte do que governo e
economistas esperam.
A arrecadação de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) nas quatro maiores economias estaduais do país
-São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul-
despencou em outubro e novembro, em termos reais.
A queda no recolhimento do
imposto em São Paulo em novembro, já com os dados de fechamento do mês, obtidos pela
Folha com exclusividade, foi de
6,8%.
O resultado é o maior recuo na
arrecadação de ICMS do Estado
de São Paulo neste ano em comparação com o mesmo mês do
ano passado.
Foi muito mais forte também
do que o coordenador da Administração Tributária da Fazenda
paulista, Clóvis Panzarini, estimava. "Esperávamos queda de 2%
em novembro", disse.
A arrecadação de ICMS serve
como indicador do nível da atividade econômica. Segundo dados
estatísticos da Receita Federal, a
proporção entre o comportamento do PIB (Produto Interno Bruto) e a arrecadação de ICMS é de
0,98 ponto percentual.
Elasticidade
É o que se chama de coeficiente
de elasticidade. Para cada 1% de
crescimento da economia, o recolhimento de ICMS teria de aumentar 0,98%.
O mesmo vale para o movimento de queda. Portanto, em uma
análise linear, seria possível esperar queda do PIB do Estado de
São Paulo em novembro de aproximadamente 6,5% em termos
reais (descontada a inflação do
período).
"Os indicadores mostram um
desaquecimento da economia no
último trimestre do ano . Os dados do ICMS só confirmam isso.
A surpresa é que a arrecadação de
impostos ainda não havia sido
atingida", disse Paulo Levy, economista-chefe do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada).
Para fazer as contas de São Paulo, Panzarini estimou inflação em
novembro de 1,1% medida pelo
IGP-DI (Índice Geral de Preços
do Mercado - Disponibilidade Interna), um dos índices mais usados para cálculos de arrecadação
real.
Retrato
A arrecadação de ICMS no caso
de São Paulo é um retrato próximo do desempenho da atividade
econômica do país, desde que excluídos efeitos transitórios.
É a maior economia estadual
brasileira (cerca de 35% de todo o
ICMS recolhido no país é apurado
no Estado de São Paulo) e a mais
diversificada, tanto na indústria
quanto no comércio. Portanto a
arrecadação não fica concentrada
em alguns poucos setores, o que
ocorre em muitos Estados e que,
consequentemente, distorce a
análise do desempenho da economia.
Os dados de Minas Gerais, Rio e
Rio Grande do Sul confirmam a
queda na arrecadação já verificada no Estado de São Paulo. Os
quatros Estados juntos respondem por cerca de 62% de toda a
arrecadação de ICMS do país.
A Secretaria da Fazenda gaúcha
prevê um recuo de 4,01% no recolhimento de ICMS em novembro.
Confirmado esse número, será a
primeira vez no ano que o Estado
terá queda na arrecadação de
ICMS em termos reais.
Rio de Janeiro e Minas só forneceram os dados do recolhimento
do imposto em valores absolutos,
ou seja, sem descontar a inflação.
Aplicando o mesmo índice usado
por São Paulo, a arrecadação do
imposto nos dois Estados cairia
7,2% (Rio de Janeiro) e 4,7% (Minas Gerais).
Desaquecimento
"Certamente a queda na arrecadação de ICMS é reflexo do desaquecimento da economia. Mas
não se pode olhar apenas essas estatísticas para avaliar o comportamento do PIB", destaca Fábio
Akira, economista do BBV Banco.
Dois fatores importantes têm
que ser levados em consideração
na análise da arrecadação no último trimestre deste ano. Em primeiro lugar, o pico do crescimento econômico do ano passado se
deu justamente no último trimestre. Isto é, a base de comparação é
extremamente alta.
A produção industrial cresceu
em dezembro de 2000 em comparação ao mês anterior -6,7%-
excluídos efeitos sazonais.
Neste ano, o país enfrentou o racionamento de energia. Para se
ter uma idéia do impacto disso no
recolhimento de ICMS, a arrecadação do imposto no setor de
energia elétrica no Rio de Janeiro
caiu de R$ 127,4 milhões, em
maio, para R$ 74,5 milhões em
outubro -queda de 41,5%.
De julho a novembro, a arrecadação real de ICMS em São Paulo
empatou com a do mesmo período do ano passado. ""É bem provável que tenhamos queda em dezembro, o que tornará negativo o
resultado do segundo semestre",
disse Panzarini.
Ata do Copom
Na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), o Banco Central destacou
que "há sinais de uma reversão
suave da tendência de arrefecimento" aos choques sofridos pela
economia neste ano (crises da Argentina, de energia, desaceleração
econômica mundial, ataques terroristas aos Estados Unidos e política de juros altos).
A análise do Banco Central se
baseia, entre outros fatores, nos
aumentos do comércio varejista
em São Paulo, nas consultas ao
SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e no índice de intenções do
consumidor.
Os números de arrecadação do
ICMS (Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços) demonstram que talvez seja cedo
para falar em recuperação da economia.
Texto Anterior: Para Fiesp, taxa é "invenção" que deve ser evitada Próximo Texto: Em SP, expurgo evita queda de 18% do tributo Índice
|