São Paulo, domingo, 02 de dezembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Troca local da dívida ultrapassa US$ 50 bi

DE BUENOS AIRES

A troca da dívida no mercado local conseguiu superar os US$ 50 bilhões. "Foi um êxito", disse o ministro da Economia, Domingo Cavallo, empolgado com o resultado da operação.
Isso significa que o governo passa a ser detentor de mais da metade dos títulos da dívida pública em circulação no mercado. Analistas consultados pela Folha afirmam que a notícia não vai ser bem recebida por investidores estrangeiros, que não estão dispostos a renegociarem a dívida que o governo argentino têm com eles.
A dívida pública em títulos da Argentina é de aproximadamente US$ 95 bilhões. Com mais de US$ 50 bilhões em seu poder, o governo terá mais força na hora de negociar com os investidores externos. Alguns acreditam que o governo queira impor condições piores aos credores externos, como o pagamento de juros menores que os pagos na troca local.
A operação realizada no mercado local prevê a troca dos atuais títulos da dívida -que pagam juros anuais em torno de 20%- por empréstimos garantidos pela arrecadação tributária, que pagarão juros de 7% anuais.
Com o pagamento de juros menores, Cavallo estima que serão economizados aproximadamente US$ 3 bilhões no próximo ano. O resultado também alivia as contas públicas agora, pois os juros dos novos papéis só começarão a ser pagos a partir de abril.
Entre novembro e o fim de março, os juros serão capitalizados. E as amortizações serão postergadas por três anos.
Apesar de o governo anunciar que a troca da dívida era voluntária, os investidores não tinham muitas alternativas. Cavallo já havia avisado que não havia recursos para continuar pagando os juros vigentes até o fim da operação.
A notícia é fundamental para o governo no momento que negocia a liberação dos desembolsos pendentes com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Com a economia em juros a partir da troca, fica mais fácil o governo convencer os técnicos do Fundo que estão no país de que será cumprida a meta de déficit zero (gastar apenas o que arrecada) no próximo ano, como está previsto no projeto de Orçamento de 2002.
O governo argentino estourou a meta de déficit acertada com o Fundo para este ano em mais de US$ 1,3 bilhão. Isso fez com que o governo tivesse de trabalhar para convencer o Fundo a conceder um "waiver" (perdão), para que o desembolso de US$ 1,26 bilhão programado para este mês não seja postergado.
Os fundos de pensão foram os principais investidores a aderirem, com US$ 17,7 bilhões. Os bancos também entraram com grande volume (US$ 15,5 bilhões). Ainda faltam se somar ao montante anunciado os pequenos investidores que detêm títulos. Eles farão suas ofertas até a próxima sexta-feira.
O sucesso da troca interna fortalece o governo também para uma possível disputa nos tribunais de Nova York com credores insatisfeitos, que não queiram negociar e processem o governo argentino para receberem o que valem os papéis.
As Justiças de NY e de Bruxelas já arbitraram em favor de credores insatisfeitos em outras ocasiões, como os casos do Peru, Panamá e Congo. As decisões permitiram que os credores apreendessem judicialmente recursos financeiros desses países depois de eles terem decretado moratória ou a suspensão de pagamentos de alguns títulos. (FV)



Texto Anterior: Para analistas, FMI daria aval à dolarização
Próximo Texto: Nova década perdida ronda América Latina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.