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Troca local da dívida
ultrapassa US$ 50 bi
DE BUENOS AIRES
A troca da dívida no mercado
local conseguiu superar os US$ 50
bilhões. "Foi um êxito", disse o
ministro da Economia, Domingo
Cavallo, empolgado com o resultado da operação.
Isso significa que o governo passa a ser detentor de mais da metade dos títulos da dívida pública
em circulação no mercado. Analistas consultados pela Folha afirmam que a notícia não vai ser
bem recebida por investidores estrangeiros, que não estão dispostos a renegociarem a dívida que o
governo argentino têm com eles.
A dívida pública em títulos da
Argentina é de aproximadamente
US$ 95 bilhões. Com mais de US$
50 bilhões em seu poder, o governo terá mais força na hora de negociar com os investidores externos. Alguns acreditam que o governo queira impor condições
piores aos credores externos, como o pagamento de juros menores que os pagos na troca local.
A operação realizada no mercado local prevê a troca dos atuais títulos da dívida -que pagam juros anuais em torno de 20%-
por empréstimos garantidos pela
arrecadação tributária, que pagarão juros de 7% anuais.
Com o pagamento de juros menores, Cavallo estima que serão
economizados aproximadamente
US$ 3 bilhões no próximo ano. O
resultado também alivia as contas
públicas agora, pois os juros dos
novos papéis só começarão a ser
pagos a partir de abril.
Entre novembro e o fim de março, os juros serão capitalizados. E
as amortizações serão postergadas por três anos.
Apesar de o governo anunciar
que a troca da dívida era voluntária, os investidores não tinham
muitas alternativas. Cavallo já havia avisado que não havia recursos para continuar pagando os juros vigentes até o fim da operação.
A notícia é fundamental para o
governo no momento que negocia a liberação dos desembolsos
pendentes com o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
Com a economia em juros a
partir da troca, fica mais fácil o
governo convencer os técnicos do
Fundo que estão no país de que
será cumprida a meta de déficit
zero (gastar apenas o que arrecada) no próximo ano, como está
previsto no projeto de Orçamento
de 2002.
O governo argentino estourou a
meta de déficit acertada com o
Fundo para este ano em mais de
US$ 1,3 bilhão. Isso fez com que o
governo tivesse de trabalhar para
convencer o Fundo a conceder
um "waiver" (perdão), para que o
desembolso de US$ 1,26 bilhão
programado para este mês não
seja postergado.
Os fundos de pensão foram os
principais investidores a aderirem, com US$ 17,7 bilhões. Os
bancos também entraram com
grande volume (US$ 15,5 bilhões). Ainda faltam se somar ao
montante anunciado os pequenos investidores que detêm títulos. Eles farão suas ofertas até a
próxima sexta-feira.
O sucesso da troca interna fortalece o governo também para uma
possível disputa nos tribunais de
Nova York com credores insatisfeitos, que não queiram negociar
e processem o governo argentino
para receberem o que valem os
papéis.
As Justiças de NY e de Bruxelas
já arbitraram em favor de credores insatisfeitos em outras ocasiões, como os casos do Peru, Panamá e Congo. As decisões permitiram que os credores apreendessem judicialmente recursos financeiros desses países depois de
eles terem decretado moratória
ou a suspensão de pagamentos de
alguns títulos.
(FV)
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