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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Rússia entra em 99 com a crise ainda mais grave
JOSÉLIA AGUIAR
da Redação
A Rússia começa o novo ano do
mesmo jeito em que se encontra há
quase seis meses.
O país não conseguiu melhorar
em nada sua situação financeira,
desde o agravamento da crise, em
agosto passado. Ao contrário. Os
últimos indicadores divulgados
pelo governo revelam que a nação
está perdendo algumas das conquistas que havia obtido com a reforma econômica iniciada nesta
década.
O cenário de indefinição econômica lembra um pouco o da Indonésia no começo de 98. A crise no
arquipélago levou à convulsão social que culminou com a renúncia
do ex-ditador Suharto, que estava
no poder havia 32 anos.
Guardadas as diferenças históricas, políticas e econômicas, Rússia
e Indonésia foram atingidas pela
crise asiática que eclodiu em julho
de 97 e demoraram -no caso da
Rússia, ainda demora- para chegar a um acerto final com o FMI
(Fundo Monetário Internacional).
Com US$ 12,3 bilhões em reservas externas no final de dezembro,
o governo russo já anunciou que só
conseguirá pagar apenas US$ 9,5
bilhões dos cerca de US$ 17,5 bilhões que vencem este ano. Sem
credibilidade no mercado externo
e com um orçamento cronicamente desequilibrado, o país espera
contar com mais ajuda do FMI para continuar fechando suas contas
mensais.
O socorro financeiro de US$ 22,6
bilhões liderado pelo organismo
internacional continua congelado.
A última parcela do pacote foi liberada justamente em agosto, pouco
antes de o governo decretar a desvalorização do rublo e a moratória
de sua dívida. A remessa, de US$
4,8 bilhões, foi utilizada para defender a moeda russa, que, desde
então, já perdeu dois terços do seu
valor em relação ao dólar.
Em sua última visita ao país, Michel Camdessus, diretor-gerente
do FMI, não garantiu um novo
acordo. O organismo internacional não gostou de quase nada do
orçamento para 99 elaborado pela
equipe econômica do premiê, Evguêni Primakov, e discorda dos
planos de imprimir rublos para
pagar salários e cobrir gastos públicos. O organismo internacional
recomenda à Rússia que reforce
sua incipiente arrecadação, um
dos maiores problemas do país.
A inflação subiu para 84,4% em
1998, segundo dados divulgados
pelo Comitê Estatal de Estatísticas
no último dia do ano. Em 1997, o
aumento dos preços havia sido de
11%, então comemorado como o
menor desde o começo das reformas russas, em janeiro de 1992.
A média de salários no país, que
no final de 1997 chegou a US$ 160,
passou a US$ 52, de acordo com
dados de dezembro passado.
Aproximadamente 44,3 milhões
dos cerca de 147 milhões de russos
vivem abaixo da linha de pobreza,
e o desemprego atinge 11,6% da
população economicamente ativa.
A situação é tão grave que analistas chegaram a prever, na última
semana de 98, que falta pouco para
que a Rússia enfrente um processo
de desintegração parecido com o
da ex-Iugoslávia.
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