São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Rússia entra em 99 com a crise ainda mais grave


JOSÉLIA AGUIAR
da Redação

A Rússia começa o novo ano do mesmo jeito em que se encontra há quase seis meses.
O país não conseguiu melhorar em nada sua situação financeira, desde o agravamento da crise, em agosto passado. Ao contrário. Os últimos indicadores divulgados pelo governo revelam que a nação está perdendo algumas das conquistas que havia obtido com a reforma econômica iniciada nesta década.
O cenário de indefinição econômica lembra um pouco o da Indonésia no começo de 98. A crise no arquipélago levou à convulsão social que culminou com a renúncia do ex-ditador Suharto, que estava no poder havia 32 anos.
Guardadas as diferenças históricas, políticas e econômicas, Rússia e Indonésia foram atingidas pela crise asiática que eclodiu em julho de 97 e demoraram -no caso da Rússia, ainda demora- para chegar a um acerto final com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Com US$ 12,3 bilhões em reservas externas no final de dezembro, o governo russo já anunciou que só conseguirá pagar apenas US$ 9,5 bilhões dos cerca de US$ 17,5 bilhões que vencem este ano. Sem credibilidade no mercado externo e com um orçamento cronicamente desequilibrado, o país espera contar com mais ajuda do FMI para continuar fechando suas contas mensais.
O socorro financeiro de US$ 22,6 bilhões liderado pelo organismo internacional continua congelado. A última parcela do pacote foi liberada justamente em agosto, pouco antes de o governo decretar a desvalorização do rublo e a moratória de sua dívida. A remessa, de US$ 4,8 bilhões, foi utilizada para defender a moeda russa, que, desde então, já perdeu dois terços do seu valor em relação ao dólar.
Em sua última visita ao país, Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI, não garantiu um novo acordo. O organismo internacional não gostou de quase nada do orçamento para 99 elaborado pela equipe econômica do premiê, Evguêni Primakov, e discorda dos planos de imprimir rublos para pagar salários e cobrir gastos públicos. O organismo internacional recomenda à Rússia que reforce sua incipiente arrecadação, um dos maiores problemas do país.
A inflação subiu para 84,4% em 1998, segundo dados divulgados pelo Comitê Estatal de Estatísticas no último dia do ano. Em 1997, o aumento dos preços havia sido de 11%, então comemorado como o menor desde o começo das reformas russas, em janeiro de 1992.
A média de salários no país, que no final de 1997 chegou a US$ 160, passou a US$ 52, de acordo com dados de dezembro passado. Aproximadamente 44,3 milhões dos cerca de 147 milhões de russos vivem abaixo da linha de pobreza, e o desemprego atinge 11,6% da população economicamente ativa.
A situação é tão grave que analistas chegaram a prever, na última semana de 98, que falta pouco para que a Rússia enfrente um processo de desintegração parecido com o da ex-Iugoslávia.



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